O prefeito reeleito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), não inovou ao jogar fora parte relevante dos compromissos de campanha, encerrada sábado (26/10). Entre estes, austeridade nos gastos.
Antônio Aureliano Chaves de Mendonça, experiente político mineiro (falecido em 2003) cunhou uma célebre frase: “Se você quiser saber o que um político não irá fazer, é só prestar bem atenção nos discursos que ele faz (quando pede voto)”. O conselho do político foi em evento em Três Pontas, no Sul de Minas, sua cidade natal, em julho de 1992. Eu estava lá.
Pois bem. Dentro das 48 horas após a reeleição (27/10), ou seja, ainda no remanso da ressaca dos votos, o prefeito Fuad remeteu à Câmara Municipal de Vereadores projeto de lei de uma pretensa “reforma administrativa”. Simplesmente, conforme uma publicação (ver conteúdo nos links), na carona dos splits da coisa, encarecimento nas despesas pode bater nos R$ 2 bilhões. O pacote inclui novas secretarias, outra administração regional, cargos para nomeados etc. Ou seja, a cama para os futuros apadrinhados.
“Vou modernizar, vou atualizar o plano de governo. Eu estou com muitas demandas, coisas que a gente nem sabia. Eu estou com um pacote de demandas que ainda não consegui ler”. Declaração do prefeito ao O Tempo (30/10).
E segue o baile…
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A proposta orçamentária para administração direta da PBH para 2025, revista em setembro, previu despesas de R$ 22.653.807.973,00. Arrecadação bateria nos R$ 26,7 bilhões. Essa verdadeira tábua da beirada do cofre municipal, portanto, antecede ao pacote despachado para votação dos vereadores.
Mas cabe observar que, no programa de governo de Fuad, não há contundência para redução de gastos. Mesmo assim, na revisão das receitas e despesas, se gabou do planejamento: “adquire maior valor qualitativo”.
Agora, porém, fechada a janela do calendário eleitoral, a história é outra. Entra em pauta, portanto, o parágrafo único do fisiologismo da bula da política brasileira: pagar a fatura do apoio dos outros partidos. O diário carioca O Globo titulou de forma sintética: “Reeleito em BH, Fuad Noman quer criar quatro novas secretarias para acomodar aliados”.
Os jornais locais e um site nacional trataram assim a tal reforma do prefeito da capital mineira:
Fuad, entretanto, não se viu pressionado apenas pelos acordos políticos nesse projeto de inchaço da máquina publica municipal.
Entre os 1º e 2º turnos (06 e 27 de outubro), por exemplo, recebeu do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte, Marcelo de Souza e Silva, pedido de criação da Secretaria Municipal de Serviços e Comércio. O dirigente também preside o Conselho Deliberativo do Sebrae-MG, e, claro, jogou com esse peso de influência.
O empresariado, todavia, ainda se acha o melhor plantonista em aulas pelo enxugamento da máquina pública. O pedido da CDL/BH e Sebrae-MG foi abordado assim pelo Diário do Comércio: Eleições 2024: CDL/BH propõe criação de secretaria de Comércio e Serviços.
Aureliano iniciou na política ainda universitário. Em 1953, como presidente do Diretório Acadêmico do Instituto Eletrotécnico de Itajubá (futuro EFEI e universidade), chefiou comitiva (dezenas de alunos) até o presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete. Levou proposta de federalização da instituição, que atravessava crise financeira. Pedido foi efetivado em 1954.
Seis anos após a graduação, em Engenharia Elétrica, assumiu (1959) 1º mandato como deputado estadual em Minas Gerais, pela UDN. Ocupou cargos de deputado federal e de governador indireto (imposto pela ditadura militar) de MG. Depois, vice vice-presidente do último general ditador (1979-1985), João Baptista Figueiredo.
O político mineiro passou pelos dois partidos de sustentação da ditadura (Arena e PDS). Mas, em 1984, rompeu com os generais e fundou o PFL. Este partido deu liga à eleição (1985) de Tancredo Neves (civil), último presidente indireto. Tancredo, porém, adoeceu e não tomou posse. Assumiu o vice, José Sarney, outro apoiador da ditadura. Tancredo morreu em abril do mesmo ano. Aureliano seguiu ministro de Minas e Energia no Governo Sarney.
O político de Três Pontas, porém, amargou estrondoso vexame político. Em 1989, no retorno das eleições diretas (voto popular nas urnas) à Presidência da República, concorreu pelo PFL. O eleitorado nacional, entretanto, largou o mineiro na 9ª posição, com o irrisório 0,83% dos votos válidos. Fernando Collor de Mello, pelo PRN, venceu o pleito.
Aureliano nasceu em 13/01/1929 e morreu em 30/04/2003.
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