O Banco XP S.A. deverá injetar R$ 50 milhões (empréstimo com garantia real) na centenária Monteiro Aranha S.A. O banco digital surge como mais uma plataforma de salvação, depois do Credit Suisse e Itaú Unibanco. A holding de participação societária diversificada exibe um balanço patrimonial feio. Passa, portanto, muito longe do passado aveludado com o qual desfilava nos pregões das Bolsas de Valores.
Além disso, aquele charme ficou mais ofuscado para investidores de hoje com o desembarque do Grupo Bradesco, em julho. E mais: a saída acendeu luz amarela para os minoritários. Desconfiam, portanto, que os controladores preparam o fechamento do capital e, posteriormente, uma fusão salvadora dos seus investimentos. Os minoritários fizeram representação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
No final de novembro (29), a diretoria (toda de representantes do grupo de controle) aprovou pagar ao XP a variação da CDI + 0,98% a.a. A Monteiro Aranha fará “cessão ou alienação fiduciária de ações e CDBs” como garantia real do empréstimo. A diretoria, todavia, não informou a destinação dessa captação.
Mas, em 5 de outubro, a Monteiro Aranha havia concluído outras duas operações financeiras. Uma com o Credit Suisse (Brasil), de R$ 50 milhões, vencendo em 04 de outubro de 2022 (CDI + 1,50% a.a.), e, Itaú Unibanco, de R$ 100 milhões (CDI + 1,40 a.a.). O contrato maior, porém, em duas cédulas de R$ 50 milhões cada, com vencimentos em 20 de outubro e 20 de dezembro de 2021. O dinheiro destes bancos foi carimbado: rolagem das dívidas de curto prazo e fazer caixa.
A Monteiro Aranha fechou balanço dos 9M20 com prejuízo líquido de R$ 106,5 milhões, revertendo o lucro de R$ 69,4 milhões no período de 2019. Isso, a despeito de expansão de 10.111%, para R$ 108,4 milhões, nas vendas dos períodos comparados. Todavia, teve de suportar equivalência patrimonial negativa R$ 227,6 milhões, contra lucro de R$ 33,4 milhões.
Na conta de ativo imobilizado, a empresa lançou R$ 735,8 milhões, ou seja, variação negativa de 25,5%. Também houve retração nas rubricas ativo total (R$ 1,460 bilhão), de 14,4%, e, patrimônio líquido (R$ 889,7 milhões), de 16,7%.
No final de 2019, a dívida bruta da Monteiro Aranha era de R$ 637,4 milhões. Atualmente, em R$ 274,4 milhões.
A situação no mercado, atualmente, é desconfortável para a Monteiro Aranha. Uma fotografia disso, por exemplo, foi a forma como o grupo de controle (descentes das famílias fundadoras) assumiu a parcela da Bradesco Seguradora. Descapitalizado, comprou fiado imóveis da holding, avaliados em R$ 132 milhões – pagará em parcelas semestrais. Depois, permutou os bens nos 12,76% da seguradora na empresa. Ou seja, uma operação papel.
Dessa forma, as famílias descendentes dos fundadores (1919 – engenheiro e arquiteto Alberto Monteiro de Carvalho e o amigo empresário Olavo Egydio de Souza Aranha Júnior) passaram a controlar 87,48% da empresa. Portanto, com as 1.562.722 de ações ordinárias compradas, cresceram carteira para 10.717.630. O capital da empresa está dividido em 12.251.221 de ações, sendo 12,52% free float (em circulação no mercado).
No passado, o Grupo Monteiro Aranha perfumava o mercado financeiro com seus negócios, pois, tinha um portfólio impar. Pode-se destacar, por exemplo:
Em 1973, Monteiro Aranha ingressa no setor financeiro. Quatro anos depois, cresceu em participações (em bancos e empresas em geral). Ingressou no ramo de empreendimentos imobiliários, via Monteiro Aranha Participações Imobiliárias S.A – Mapisa. Mas, a partir de 1980 turbinou as participações acionárias e revendas em bancos. Contudo, em 2000, inaugurou a fase de venda acelerada de ativos.
Pelo perfil de negócios sustentados por Credit Suisse e Itaú Unibanco e, agora, o XP, a Monteiro Aranha tem tudo para ser consolidada.
Na época da operação com o Grupo Bradesco, a Monteiro Aranha era avaliada em R$ 2 bilhões. No balanço do 3T20, R$ 1.980.788.150,00. Todavia, esse valor não apresentava liquidez no mercado. A empresa tinha como participações relevantes ações da Ultrapar (6,29%) e Klabin (4,2%).
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