Economia

Kátia Rabello (ex-Banco Rural) convoca AGE da Trapézio

Convocação de AGE da Trapézio S.A., antiga holding do Grupo Banco Rural (liquidado em 2012), sugere que a ex-banqueira Katia Rabello reassumiu o comando do esqueleto que restou. A empresária cumpriu pena entre novembro de 2013 a junho de 2019. Ela presidia o banco e fora condenada como parte do chamado mensalão do Partido dos Trabalhadores (PT): pagamentos de propinas a políticos.

O esquema unia o ex-empresário mineiro de publicidade Marcos Valério, seus sócios (publicitários) Cristiano Paz e Ramon Hollerbach e a Direção Nacional do PT. Isso, no primeiro Governo Lula (2003-2006). A ex-banqueira teve condenação de 14,5 anos de prisão.

Kátia Rabello convocou os acionistas da Trapézio para assembleia na próxima quinta-feira (18/06). Os dois primeiros itens da convocação são: “eleição da diretoria” e “deliberar sobre os reflexos relevantes decorrentes da eleição da diretoria”.

A AGE, porém, não será no endereço da sede. “Por impossibilidade da presente assembleia ser realizada na sede social da empresa, o conclave será realizado no local acima indicado (na convocação)”, observa a convocação.

O Rural foi comprado pelo pai de Kátia Rabello (Sabino Rabello) em 1960. Ela assumiu a presidência em 2001, com a morte da irmã Júlia – atingida pela pá da hélice do helicóptero, ao sair do aparelho após pouco forçado. E foi condenada no mensalão em 2012.

Ação bilionária nas Ilhas Cayman

Em agosto de 2019, a ex-banqueira ganhou, na Justiça das Ilhas Cayman, ação indenizatória de US$ 400 milhões – R$ 1,5 bilhão, na época -, movida contra um escritório local. O escritório Walkers, maior daquele paraíso fiscal do Caribe, foi, então, condenado por quebra de confidencialidade na relação cliente-advogado.

O Walkers teria facilitado a Justiça no acesso à uma offshore de Kátia Rabello, usada para liquidar operações ilícitas com origens no Brasil. Essa foi, portanto, a pega para sua condenação pela Justiça brasileira.

Mas a ex-banqueira tem, ainda, esqueletos para resolver. Um deles, a ação de autofalência do Rural. Esta se arrasta desde que o então liquidante do BC solicitou autofalência. Porém, a Justiça indeferiu o pedido.

Rural com histórico de escândalos

Todavia os envolvimentos políticos do Rural antecedem em uma década seus envolvimentos com os Governos Lula, do PT. Em 1992, foi investigado nos escândalos PC Farias, no Governo Collor. Naquele ano, CPI que investigou Governo Collor concluiu que o banco viabilizou o chamado “Esquema PC Farias”, principalmente nas aberturas de contas “laranjas”.

A condenação da empresária envolveu lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta de instituição financeira, evasão de divisas, formação de quadrilha etc. Na época, o Rural já estava sob intervenção do Banco Central. A liquidação foi decretada ainda naquele ano.

Kátia Rabello cumpriu parte da pena em regime fechado, em penitenciária feminina de Belo Horizonte. Dois anos depois (dezembro de 2015), obteve progressão de regime. Passou ao semiaberto, ou seja, trabalhar fora, mas pernoitar na cadeia.

Na primeira semana de janeiro de 2016, portanto, começou a desempenhar atividades na coordenação em uma escola de dança. Ela foi bailarina. Recebia salário mensal de R$ 2 mil.

O Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, vinculou o benefício ao pagamento, parcelado, de multa de R$ 2,4 milhões (valor histórico).

E junho do ano seguinte, o STF concedeu a ela e outro ex-dirigente do Rural, José Roberto Salgado, regime aberto. Ganharam a liberdade, mas com restrições de deslocamentos e recolhimento obrigatório em casa, à noite.

O então presidente Michel Temer (PMDB/MDB) editou indulto, em 2017, que beneficiou crimes do colarinho branco – Foto: STF/Divulgação

Temer beneficiou Kátia Rabello

Em 2017, o então presidente Michel Temer editou indulto para crimes do colarinho branco, após o cumprimento de um quinto da pena cumprida – era um quarto. Kátia Rabello e José Roberto Salgado foram beneficiados. Portanto, tiveram as penas extintas, em junho de 2019, por determinação do ministro Luiz Roberto Barroso, do STF. Nessa época, os dois estavam em regime condicional, ou seja, liberdade até o final da pena. Contudo, tinham de se apresentar ao juiz de forma regular.

O ministro Barroso disse revelou ter sido voto vencido no tribunal. Era contrário às extinções das penas do colarinho branco. Salientou, contudo, que a Procuradora-Geral da República (PGR), Raquel Dodge, também foi favorável ao indulto.

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Nairo Alméri

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