As pesquisas estão saindo pouco a pouco e apontando obviedades que discursos, fake News, torcedores e assemelhados impedem de enxergar. Ninguém duvidava de que, no campo bolsonarista, o preferido é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para disputa à Presidência da República em 2026. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, os governadores aliados dele se salientaram, superando dilemas pessoais para comparecer ao ato do ex-presidente na Paulista, no domingo (25).
O favoritismo de Tarcísio (61%) não se resume à sondagem feita na avenida paulistana pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, projeto da Universidade de São Paulo. Vem de longe a hegemonia paulista desde a redemocratização do país. Chegaram ao poder os paulistas Fernando Henrique (duas vezes), Lula (três vezes) e Dilma (duas vezes com apoio de Lula). FH venceu Lula duas vezes, e os petistas venceram bateram dois paulistas (José Serra e Geraldo Alckmin) e um mineiro (Aécio Neves). Bolsonaro, em 2018, e Fernando Collor, em 1989, foram eleitos pelo mesmo discurso da antipolítica e anticorrupção.
Desses últimos 40 anos, apenas três mineiros conseguiram alcançar relevância nacional. Tancredo Neves conquistou a Presidência e morreu antes de ser empossado em 1985; Itamar Franco era vice e virou presidente após a cassação de Collor, em 92, e Aécio Neves chegou perto, em 2014, mas não o suficiente.
Tudo somado, as chances de Zema estão em sintonia com o baixo desempenho obtido por ele na pesquisa acima. Foi o terceiro colocado com 7% numa margem de erro de 4 pontos. Está entre 3% e 11%. Além dos números, o mais preocupante é a falta de visão e de projeto que podem comprometer seu futuro político. Ele foi ao ato, após uma semana inteira de indecisão, porque o convenceram de que precisava fazer opção entre o lulismo e o bolsonarismo.
Não se trata de ser um ou outro. Ao contrário, tem que escapar da polarização. Para ter relevância, teria que inventar uma 3ª via para chamar de sua, afirmando que teria projeto e personalidade política. Na falta disso, se acomoda nas asas bolsonaristas, também desejadas pelos governadores paulista e goiano.
Sem ganhos visíveis, Zema ainda terá que amargar uma marca ruim, de que foi ao ato para apoiar e proteger um político que atentou contra a democracia e as instituições. Um custo muito alto para quem não conseguirá alcançar seus objetivos. Fora do lulismo e do bolsonarismo, o governador de São Paulo sempre será um forte pré-candidato; o de Minas, vai depender da expressão nacional e coragem de seu representante.
Fosse pouco, o governador ainda teve que ouvir críticas inevitáveis à sua presença desprestigiada no ato de Bolsonaro. Não teve direito a discurso, ao contrário de um deputado federal mineiro. As críticas mais fortes foram da deputada Lohanna (PV). “Agiu como papagaio de pirata de youtubers e de um homem inelegível. Larga o estado, que lidera em casos de dengue e está endividado com a União, para participar de comício misturado com culto”, apontou, concluindo que foi “vexame” para os mineiros. Outro deputado cobrou informações sobre os gastos da viagem, que, na falta de esclarecimentos, eram públicos.
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