Desde o golpista Carlos Lacerda, em 1950, os antidemocratas adotaram a máxima da narrativa do golpe aplicada por ele contra Getúlio Vargas. De acordo com essa cantilena, Vargas não seria candidato; se fosse, não seria eleito; se eleito, não tomaria posse. E mais, se tomasse posse, não governaria e que se governasse não terminaria o governo. Levaram Getúlio à morte antes do fim de seu mandato. Tentaram o mesmo com JK e tiveram êxito 10 anos depois do fracassado golpe sobre Getúlio, quando derrubaram o presidente João Goulart e instalaram a ditadura militar por 20 anos.
Após a redemocratização do país, bastou Lula vencer as eleições para tentar derrubá-lo com o mensalão, mas ele venceu a turbulência. Voltaram à carga contra a então presidente Dilma Rousseff e conseguiram derrubá-la no segundo mandato. Em 2018, prenderam Lula e Bolsonaro venceu. Agora, em 2022, ele venceu de ponta a ponta mesmo depois de ficar preso por mais de 500 dias e ser atacado em todas as frentes.
Como Lula conseguiu ser candidato, vencer as eleições e tomar posse, estão agora naquela quarta fase de não o deixar governar. Uma semana depois de sua posse, invadiram os prédios dos Três poderes e, nessa quarta (11), ameaçaram a voltar às ruas sob o chamado “retomada do poder”. Mas o ato fracassou. Ou seja, além de não aceitar os resultados da democracia, estão convencidos de que somente pela força, no grito, pela barbárie e no desrespeito à democracia vão conseguir manterem-se no poder.
Por isso, o governo federal, por meio da Advocacia Geral da União, acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir novas invasões. Havia sido detectada nova ameaça de grupos terroristas que convocam, pelas redes sociais, manifestações golpistas. O Supremo tem sido o grande guardião da Constituição e da democracia, como é seu dever constitucional,
Além disso, após o ataque de domingo, Brasília está sob intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, que ainda teve afastado o seu governador por omissão. O que é mais grave em tudo isso é que, além do STF, o governo que foi eleito e empossado deveria acionar as forças de segurança para fazer a defesa da democracia e da República.
Quem deveria fazer a defesa são os meios de defesa do país, mais especificamente as Forças Armadas, em especial o Exército. Causa estranheza, tem causado desde o fim das eleições, e mais agora a posição do Exército. Até domingo, convivia com manifestações e acampamentos antidemocráticos nas portas de seus quarteis. Em nenhum momento, tomou providências e deixou, como classificou o ministro da Justiça, Flávio Dino, as incubadores do golpismo crescerem e serem reforçadas.
No dia da invasão dos três poderes, o batalhão da guarda presidencial não estava a postos e nem defendeu o Palácio do Planalto e as sedes do STF e do Congresso Nacional.
Após os ataques, todo o mundo oficial, democrático e civilizado reprovou a invasão e a tentativa de golpe. Menos as Forças Armadas e o Exército. Eles aceitaram o desmonte dos acampamentos diante dos quartéis, na segunda (9), porque havia uma decisão judicial do corajoso ministro Alexandre de Moraes. Não a cumprir seria assumir uma clara posição favorável ao golpe.
O ministro da Defesa de Lula, José Múcio, permanece, além de calado, acuado e pressionado a renunciar com apenas 11 dias de governo. Um dia após os ataques, Lula reuniu os chefes dos poderes e 24 governadores. As cúpulas do Judiciário e do Legislativo se unira, pela primeira vez, ao Executivo. Todos em coro contra o vandalismo, o terrorismo e o golpismo. Até agora, não se viu uma manifestação republicana e institucional das Forças Armadas. Estão esperando o quê? Nesse aspecto, a situação permanece instável e preocupante.
Eles são os principais responsáveis, em situações extremas como essa, para garantir a ordem pública diante da ameaça golpista. Caso contrário, omissão é cumplicidade, é apoio a um lado. Não há espaço pra ficar em cima do muro. Daí a razão pela qual, os movimentos antidemocráticos estão se sentindo amparados para voltar à carga. Tancredo disse, após ajudar a derrotar a ditadura, que matar o monstro é fácil, difícil é remover seus destroços que estão espalhados por aí. Pelas instituições e até mesmo entre nós, na sociedade que se diz e pretende civilizada.
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