Menos de 24 horas após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter anunciado um acordo para a compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac contra a Covid-19, ele foi desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro, que anunciou, pelas redes sociais, que não vai comprar o imunizante.
Algumas considerações sobre o episódio:
1) dificilmente uma negociação desse porte, que exigiria um desembolso de mais de R$ 2 bilhões do governo federal, teria avançado por parte do ministro sem a anuência do seu chefe Bolsonaro. General, que prima pela disciplina e pela hierarquia, e conhecendo bem o seu chefe, é pouco provável que tenha tomado tal decisão sem o seu aval.
O que terá acontecido na calada da noite para que houvesse uma guinada no entendimento anunciado pelo ministro?
2) Bolsonaro disse que não comprará vacina que não for autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Está certíssimo o presidente. Mas no caso da Coronavac, como havia esclarecido o próprio ministério da Saúde, a negociação só vai avançar se a Anvisa confirmar que ela é segura (o que já foi demonstrado) e eficaz.
Entretanto, mesmo sem a aprovação da Anvisa, o presidente Bolsonaro assinou em 6 de agosto Medida Provisória (MP) liberando R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid desenvolvida pela Universidade de Oxford.
3) “Tenha certeza, não compraremos vacina chinesa”, respondeu o presidente hoje a um seguidor irado em suas redes sociais. Mas se ficar comprovado que a Coronavac é capaz de deter o novo coronavirus, o que pode acontecer também com outras três vacinas chinesas em fase final de testes, os brasileiros não poderão ser imunizados simplesmente porque o medicamento é chinês?
Não vai acontecer. Governadores de vários estados, como Plano B, já estão negociando com o Instituto Butantan, que vai produzir a coronavac no Brasil, a compra da vacina, caso ela seja aprovada pela Anvisa. E apesar da contrariedade manifestada pelo presidente, talvez mais para agradar suas milícias digitais, não está descartada a possibilidade de que o Ministério da Saúde também o faça.
4) O Brasil é o segundo país do mundo em número de mortes pela Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos. Portanto, qualquer decisão do governo federal em relação ao assunto deveria considerar apenas critérios científicos para garantir a saúde dos brasileiros. Mas o debate está irremediavelmente contaminado por questões ideológicas. Se o remédio é da China, um país comunista (embora seja o principal parceiro comercial do Brasil), não serve, mesmo que ele tenha sido submetido aos mais rigorosos testes para sua aprovação. Pelas barbas do profeta!
5) Há ainda um componente eleitoral nesse debate insano em torno da vacina. A Coronavac, se aprovada, será produzida pelo Instituto Butantan, que é do governo de São Paulo, hoje comandado por João Dória (PSDB), pré-candidato à Presidência da República em 2022, portanto, adversário de Bolsonaro, candidato à reeleição. Por essa razão, a Coronavac é chamada pelo presidente de “vacina chinesa do João Dória”.
O que será do Brasil se o debate em torno de um problema de saúde pública, que afeta milhões e milhões de brasileiro, for conduzido com base messes critérios e com tais argumentos? O mundo precisa de vacinas para conter a pandemia do novo coronavírus, que deixou o Planeta de ponta cabeça. Onde elas surgirem, seja na China, Cochinchina, Indochina, precisam estar disponíveis para os terráqueos.
O ex-vice-presidente da República José Alencar, um empresário de sucesso no ramo da indústria têxtil, e que portanto de comunista não tinha nada, costumava citar com frequência uma frase do líder chinês Deng Xiao Ping: “Não importa a cor do gato, desde que ele cace ratos”.
Vale para a vacina contra o novo coronavírus. Se for segura e eficaz, de onde ela vem não tem a menor importância.
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Porque esta discussão sobre uma vacina que ainda está em fase de testes? Quando os Estados tiveram o remédio gratuito exigiram comprovação científica, e agora querem quase 3 bilhões do governo para pagar a vacina chinesa contra um virus chines. Porque a China não vacina seu povo primeiro e prova de uma vez por todas sua eficácia?
Concordo plenamente!
Mas a militância eh do contra, tudo que o governo falar eles vão na contra-mão.
Se ele tivesse falado que todos os brasileiros vão ser obrigados a toma a vacina, ele seria taxado do COMUNISTA e AUTORITÁRIO.