Ao que tudo indica, os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estão pela bola sete e devem ser demitidos brevemente. Não que o presidente Bolsonaro esteja insatisfeito com a atuação de ambos, mas por uma questão de pragmatismo. Os dois são vistos dentro do governo como entraves sérios a acordos comerciais do Brasil com outros países ou blocos comerciais.
Araújo, por exemplo, tem feito críticas recorrentes ao principal parceiro comercial do Brasil, que é a China. Chegou a culpar o país asiático pela pandemia do coronavírus e a chamar o vírus de “comunavírus”. Hoje, o governo chinês anunciou que suspendeu importações de três unidades processadoras de carne brasileiras. Em Brasília, a decisão é vista como um recado às autoridades do governo federal.
Ricardo Salles, do Meio Ambiente, está na mira especialmente de países europeus. Na famosa reunião ministerial do dia 22 de abril, onde ficou evidente o nível da equipe de primeiro escalão do governo federal, o ministro aconselhou o presidente Bolsonaro a aproveitar a crise do coronavírus para promover, de “baciada”, uma série de mudanças nas regras ligadas à proteção ambiental e na agricultura, evitando críticas e até mesmo processos na justiça.
“… precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse o ministro na reunião ministerial.
A política ambiental de Ricardo Salles, bem como o aumento crescente do desmatamento na Amazônia, tem provocado uma série de críticas de países europeus e ameaça até mesmo o acordo comercial Mercosul-União Europeia. Mais grave: o Brasil começa a perder dinheiro internacional, que já seria ruim em tempos normais, mas catastrófico em tempos de pandemia.
Recentemente, fundos internacionais de investidores, que gerenciam ativos de cerca de 21 trilhões de reais, cobraram maior efetividade do Brasil na área ambiental. Em carta aberta entregue em embaixadas do Brasil pela Europa, Ásia e América do Sul, os representantes dos fundos disseram estar preocupados com “o impacto financeiro do desmatamento, bem como as violações dos direitos dos povos indígenas”.
Na carta, os investidores afirmam que, sem a mudança de rumo, seus clientes veem “potenciais consequências para os riscos de reputação, operacionais e regulatórios”.
Ou seja, o Brasil pode ter prejuízos gigantescos se não sinalizar a países como China, membros da União Europeia e investidores internacionais que pode mudar de direção. As demissões de Araújo e Salles podem sinalizar essa mudança de rumos. A ver.
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