Uns dizem mentiras; os outros também. Uma delas: “todo governador de Minas é um potencial candidato a presidente da República”. Outra: “que a sucessão presidencial passa por Minas”. O que há de verdade entre essas mentiras? Pouca coisa, mas o que existe é suficiente para ser transformado politicamente. Ensina a inteligência política, chamada de habilidade por um ou de marketing por uma, que mentira pode ser meia: uma parte é verdade, a outra, não. Os sábios orientam como fazer para que a verdade seja a parte majoritária.
É isso que fará de um governador de Minas um nome cacifado para a missão, porque presidência não é função nem boa gestão. Dito isso, o atual governador de Minas, Romeu Zema (Novo), admite, ou deixa os outros torcerem, para que ele seja candidato a presidente.
O que há de correto nisso? A meia-verdade, ou meia-mentira, não importa, é de que ele se acha grande para ser candidato a presidente, tamanho dado pelo cargo em Minas. Todo governador de Minas seria historicamente assim. O que há de errado nisso é o fato de que, pensando efetivamente, Zema tem desafios para desfazer a descrença dos outros nessa intenção dele.
Você pode, e deve, dizer pra fora que você ‘é o cara’, mas, para confirmar isso nas urnas, precisa fazer o ‘dever de casa’, no local onde você é o mais conhecido. Ou será que o governador vai querer sempre com a sorte que o elegeu e o reelegeu? O Zema teve o mérito de provar, até agora, que o raio pode cair no mesmo lugar duas vezes, mas três vezes seria querer-se enganar.
Sem querer deixar o rei nu, Zema precisa reconhecer que, politicamente, até agora ele foi um zero, mas também não é um único. Em sua natureza empresarial, o partido dele, o Novo, se organizou contra o exercício da política e isso fez o sucesso deles, pelo menos em Minas. Fora daqui, foi um fracasso. Uma vez no poder, no entanto, confirmam que gostam mesmo é de ganhar muito dinheiro, não gostam de pagar impostos nem direitos conquistados de servidor público e de subordinados.
Falam uma meia-verdade, hoje, que, após a reeleição dele, Zema teria mostrado força política e que teria maioria parlamentar na Assembleia Legislativa. Se tivesse, teria aprovado sua reforma administrativa na semana passada. A base voltou a patinar. Agora, nesta semana curta (feriado de Tiradentes), precedida de outra (feriado do dia do trabalhador), terá que provar que está forte em votação de temas polêmicos, mas nem tanto. Então, fica como lição e primeiro desafio fazer o ‘dever de casa’.
O segundo desafio é o lado de fora: o que os outros pensam de você. Nesse ponto, é meia-verdade com viés de mentira. É preciso parecer que é, e Zema não parece ser porque ele não cumpriu o primeiro desafio ainda. Ele pode falar pra fora que enxugou a máquina, cortou secretarias e que não iria receber salários, ou que iria doá-los, mas agora se dá reajuste de quase 300%. O partido dele não fazia alianças com outros nem com políticos e não usava o fundo partidário. Agora, é outro.
No começo do atual mandato, o marketing dele o orientou a ocupar o vácuo do ex-presidente Bolsonaro na extrema direita. Começou a atacar o governo recém-empossado de Lula, mas descontinuou porque não deu certo ou por outra razão.
Tudo somado, Minas, hoje, não tem um porta-voz, não tem um líder, portanto, não tem um candidato a presidente. E mais, no tabuleiro nacional de verdadeiros e falsos, o Estado não tem uma liderança política, daqueles que defendem os interesses de Minas. E que até batem na mesa, mesmo que seja de mentira. Diante do vácuo, qualquer um finca o pé com muita facilidade.
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