O pedido de recuperação judicial da rede de varejo Americanas completará cinco mesesº mês na segunda (12/06). Está atolado nas operações da carteira de “risco sacado”, os recebíveis que a rede repassou aos investidores. Os credores, portanto, estão com bilhões nesses papagaios queimando suas mãos. Americanas pressiona para tirar vantagem, enquanto, debenturistas não querem assistir o vento levando R$ 11 bilhões.
Os fornecedores e bancos acumulam créditos acima dos R$ 50 bilhões com o Grupo Americanas. Operações via contratos de créditos (inclui antecipação de recebíveis) e emissão de debêntures.
No final de maio, os debenturistas recusaram a proposta dos acionistas referenciais (maiores) da Americanas: Jorge Paulo Lemann, Marcel Hermann Telles e Carlos Alberto da Veiga Sicupira. O trio propôs que os debenturistas renunciassem 70% dos valores de direito. Na prática, deram bomba no plano de recuperação judicial. da rede. Nos próximos dias 26 e 27, voltam à mesa.
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Americanas ingressou, em janeiro, com o pedido de recuperação na 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro. A Justiça protocolou como Processo nº 0832245-23.2023.8.19.0001. Estão nele Americanas S.A, B2W Digital Luz UZ S.À.R.L, JSM Global S.À.R.L. e ST Importações Ltda. Com a administração judicial, veio o Processo nº: 0803087-20.2023.8.19.0001.
O buraco na Americanas foi anunciado à Bolsa de Valores B3 em 11 de janeiro, como “inconsistência” (manipulação contábil) no balaço 3T22. Era uma bolada de R$ 20 bilhões. Mas, nas entrelinhas, o aviso deixava brecha para se enxergar o dobro, R$ 40 bilhões.
Isso foi apontado, em mesmo dia, pelo ALÉM DO FATO, ao observar: “O comunicado não é claro, entretanto, se o rombo de R$ 20 bilhões é a própria “inconsistência” apontada para “financiamento de compras”. Mais tarde, a companhia direcionou o holofote a outros R$ 20 bilhões.
Passados cinco meses, entretanto, a dívida supera da Americanas supera R$ 50,1 bilhões. Do saldo, R$ 7,6 bilhões via controladas.
Até abril, de toda dívida de contratos de créditos e debêntures da Americanas, 44% eram transações de “risco sacado”. Traduzindo: antecipação de recebíveis gerados nos negócios. Ou seja, os papagaios negociados pela rede de varejo.
Se antes foi festa atender o cliente, agora, porém, os recebíveis queimam nas mãos dos credores. Estes brigam contra cano parcial. No geral, os credores querem antecipar vencimentos. Além disso, pressionam para que os sócios referenciais façam esforço de capital próprio para Americanas saldar dívidas. Esses créditos em “risco sacado” somavam R$ 16,1 bilhões.
O tal “risco sacado”, pelas informações que emergem, foi a mãe da “inconsistência” contábil, os R$ 20 bilhões, visível no balanço da Americanas do 3º trimestre de 2022.
Entre os bancos credores que ingressaram na Justiça contra Grupo estão:
Os administradores judiciais (AJ) da recuperação são Escritório de Advocacia Zveiter e Preserva Ação Administração Judicial. O “3º Relatório Mensal de Atividades – abr/2023”, informa que duas principais empresas do Grupo Americanas, a Americanas e ST Importações Ltda, perderam 49% nas receitas consolidadas de dezembro para abril. Juntas, portando, desceram de R$ 3,200 bilhões para R$ 1,631 bilhão.
As vendas nas lojas físicas despencaram 50%, de dezembro (R$ 1,884 bilhão) para fevereiro (R$ 944 milhões). Mas, sinalizaram recuperação em abril (R$ 1,505 bilhão). O mesmo, entretanto, não ocorreu nas vendas online. Por este canal, o tombo seguiu e foi de 91,4%, de dezembro (R$ 1,242 bilhão) para abril (R$ 107 milhões).
A disponibilidade de caixa conjunta dessas empresas principais, entre maio de 2022 e abril de 2023, teve perda de 67,2%, de R$ 4,144 bilhões para R$ 1,4 bilhão.
No período janeiro-abril, a rede fechou 31 lojas físicas, das 1.882 existentes em dezembro. De 24 de abril para 21 de maio a empresa demitiu 1.644 pessoas. Permaneceram 38.098. O número de clientes cativos foi reduzido de 49,118 milhões para 45,115 milhões.
Datas:
Título original: Os 150 dias da agonia da Americanas
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