Economia

Cemitério de indústrias de semicondutores em Minas

Minas virou cemitério de indústrias de semicondutores, que faliram porque nasceram de decisões políticas, contrariando regras de mercado. Assim, desapareceram Transit (1981), Philco (1984) e SID (1997). Agora, por todas evidencias, a vez da Unitec Semicondutores, de Ribeirão das Neves. Unitec, abandonada pelos acionistas, então, pelo visto, respira últimas moléculas de oxigênio no balão.

Mesmo separados por décadas, todos aqueles projetos tiveram algo em comum: peso da decisão política.

A Unitec Semicondutores saiu do papel em 2012, com dono do Grupo EBX, Eike Batista. Este tinha fortes laços de amizade com ex-governador e, então, senador Aécio Neves. Unitec consumiu R$ 1 bilhão e precisa de US$ 80 milhões (cerca de R$ 320 milhões). Em desgraça, Eike saiu. Os acionistas remanescentes e novos não fazem aportes nem investidores se sentem atraídos. Sábado (02), com exclusividade, ALÉM DO FATO revelou que, no dia 12, os sócios (BNDES, BDMG e IBM) se reúnem. Mas, antecipadamente, admite a “extinção“.

SID Semicondutores herdou a Philco

Esse ciclo de indústria de semicondutores inacabadas, em Minas, veio na ditadura militar. Começou com a Transit Semicondutores, em Montes Claros, em 1974. O projeto era liderado por Hidenburgo Pereira Diniz, ex-presidente do BDMG. A cidade, à época, não tinha infraestrutura para comportar projeto daquela natureza. Além disso, fica fora da rota dos centros indústrias consumidores de chips e outros itens da microeletrônica. Mas os militares estavam determinados em atender ao governador Rondon Pacheco. Randon tinha sido chefe da Casa Civil do ditador e general Garrastazu Médici.

Como estava na área da Sudene, poderia, portando, receber rios de dinheiro e incentivos do Finor, além de linhas favorecidas ilimitadas do BNDES. Fechou em 1981. Até mês passado, entretanto, seu esqueleto tinha partes na Fazenda Nacional e Justiça do Trabalho.

A Philco, em Contagem, tinha dispensado 700 empregados (restavam 60) e desligado equipamentos de difusão, montagem e testes das pastilhas de silício (chips). Era mantida pela Ford, que absorvia a produção. Mas, em 1983, optou por importar. Após longa negociação, em fevereiro de 1984, Tancredo Neves atraiu Lázaro Brandão (Bradesco) e Mathias Machline (Sharp). Eles criam, então, a SID Microeletrônica e assumem a Philco. Lázaro e Mathias formaram alicerces junto ao empresariado que influenciou, no Colégio Eleitoral, eleição de Tancredo à Presidência da República, em 1985. Foi o fim da ditadura.

Sharp temia a lei de mercado

Antes, em telex, Machline justiçou a Tancredo o desinteresse pela Philco, mesmo sendo estratégica para a Sharp, que demandava em microeletrônica. “Todavia, a economia de escala gerada pelo aumento de produção diminui sensivelmente o custo dos semicondutores, provocando, a nível mundial, contínua redução no número de fabricantes, devido aos elevados investimentos necessários” (sic). Sucumbiu algum tempo depois.

Foi, portanto, contrariando verdades assim que projetos de semicondutores, mais políticos (à custa de incentivos) que econômicos, foram atraídos por Minas. Seus aventureiros, entretanto, perderam para as leis de mercado.

Nairo Alméri

Ver Comentários

  • Alguém ai sabe me dizer onde consigo os manuais ( Datasheets) de componentes da SID.....34 993405248

  • Pelo que eu sei quem fazia o garoto propaganda das revistas do Senhor Newton Carlos Braga, era mesmo a SID Microeletrônica . Na época revistas como Saber Eletrônica e Eletrônica Total apareciam revistas com datashets da SID Microeletrônica. Em suma a SID Microeletrônica foi prestigiada com um troféu da ISO 9000 em 1993 . A SID Microeletrônica era mesmo garoto propaganda dessas publicações no período entre 1986 a 1996. Depois disso nunca mais se falou dessa empresa. Somente produtos importados. Principalmente da China.

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