Os baixos níveis dos principais reservatórios das hidrelétricas (UHEs) no Sudeste e Centro-Oeste (pior situação em 91 anos) obrigaram o Governo a retomar a geração nas usinas termoelétricas – óleo e carvão. Nas duas regiões, estariam com capacidade média para um terço de potência de geração. Abre-se, então, nova janela para outras fontes. Isso, portanto, reacende também a prioridade na geração termonuclear. Mas, neste momento, principalmente o programa de extensão da vida útil (LTO, sigla em inglês) da Usina Nuclear Angra I, em Angra dos Reis (RJ).
O projeto para Angra I é de alongamento de operação de 40 anos, a completar em 2024, para 60 anos. A usina, em operação desde 1985, tem potência instalada para 600 megawatts (MW). E ganha importância, com Angra II e o projeto de Angra III, na matriz energética do país. As usinas pertencem ao Grupo Eletrobras, que está em processo de cisão para privatização. Todavia, as usinas nucleares continuarão com o Governo.
A Eletrobras Nuclear (Eletronuclear/Sistema Furnas Centrais Elétricas – Furnas), operadora das usinas termonucleares, apresentou formalmente o pedido à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) em novembro de 2019. O Governo não revelou qual o custo do programa. Mas admitiu que envolveria financiamento da agência de fomento US Eximbank, dos Estados Unidos. Em áreas afins do setor elétrico, todavia, cogitou-se, custo de R$ 1 bilhão (US$ 225,7 milhões, na cotação da época).
No Relatório Mensal do LTO Angra I, de março, (LTO-Rel-03/2021), a Eletronuclear registra que o Banco Santander participa das negociações.
“A Alvarez e Marsal está preparando um estudo custo x benefício do projeto para aumento de potência de Angra 1” (sic), menciona o relatório. O reator da usina gera eletricidade suficiente para abastecer uma população de 1 milhão de habitantes. A Alvarez & Marsal (A&M) é uma empresa global de consultoria. Criada em 1983, a A&M presta consultoria em todas as áreas da economia – indústria e serviços. A sede está Nova York (EUA) e possui escritórios em 25 países da América do Norte, América Latina, Europa, Oriente Médio e Ásia. O slogan da A&M é: “…ajudar as empresas a transformar áreas de estagnação em crescimento para alcançar resultados sustentáveis”.
O pedido de alongamento de Angra I, em 2019, era compromisso da Eletronuclear, de requerer até cinco antes do término do licenciamento de operação. Esse é o “padrão” aplicado nos Estados Unidos e seguido pelo Brasil. Por isso, então, é que as usinas Angra I e II foram licenciadas por 40 anos. A explicação foi apresentada pelo diretor da unidade da CNEN em Angra dos Reis, engenheiro Jefferson Borges Araújo.
Nos EUA, eram mais 70 usinas de geração nuclear com vida útil dilatada, com maioria de 40 para 60 anos. Mas, conforme Jefferson Araújo, havia estudos iniciais para operar até 80 anos.
Entretanto, a Eletronuclear terá de cumprir uma série de etapas rigorosas. Nota da assessoria da CNEN, de 2019, destacou o “Programa de Gestão de Envelhecimento (PGE) e também procedimentos relacionados à gestão do conhecimento e à obsolescência”. A empresa terá, então, de entregar à CNEN, em dezembro de 2023, a “documentação para o planejamento da 3ª RPS (Revisão Periódica de Segurança) de Angra I”, conforme cronograma do LTO-Rel-03/2021.
No final de 2024, encerra o atual prazo de licença de operação de Angra I. Mas, se aprovado o alongamento solicitado, vai 2044.
Todavia, conforme o LTO-Rel-03/2021, havia atrasos e previsões de outros prazos descumpridos no cronograma. Na parte “Projeto / PEP Orçamento de Investimento (SAP IU)”, do Controle Orçamentário (gerenciamento de envelhecimento, programa de qualificação ambiental, estudo de viabilidade técnica e acordo de cooperação científica e técnica) os investimentos previstos eram de R$ 27,075 milhões. O relatório informava, porém, a realização de R$ 3,525 milhões. Ou seja, somente 13%.
Título original do post: Crise nas UHEs fortalece operar Angra I até 2044
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