O presidente nacional do Partido Social Democrático (PSD), Gilberto Kassab, tem em mãos a oportunidade para sepultar dois mercenários históricos, atrasos na vida nacional. Mas com influências no Congresso e Executivo. Em um lado, a dupla exibe ala da bancada evangélica tutelada por Silas Malafaia, pastor-empresário evangélico (Assembleia de Deus Vitória em Cristo – ADVC). Oportunista, ele vai de apoiador e crítico do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No outro, corre o também histórico sanguessuga político Waldemar Costa Neto. Empresário, ex-deputado federal por São Paulo e presidente (dono, na prática) nacional do Partido Liberal (PL). “Se prenderem Bolsonaro, ele elege um poste presidente”, advertiu a dois dias do pleito do 2º turno, conforme notícia de O Globo.
Malafaia e Waldemar são bolsonaristas e carregam o histórico de trocar de capa de chuva a cada verão político. São tão influentes no Congresso Nacional ao ponto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acenar sempre para eles. Na tentativa de livrar o PT de vexame maior, no domingo, pensou arrebanhar eleitores evangélicos. E abanou a cartilha de sempre: açucarar com verbas bocas das pregações fisiológicas no Legislativo.
Kassab, ex-ministro de Estado em dois governos e atual secretário de Governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), encerra a temporada eleitoral com poder de negociação política em alta e um portfólio invejável: 891 das 5.569 prefeituras. Saiu do primeiro turno com 877. Entre as cerejas do bolo, exibe cinco capitais: Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e São Luiz (MA).
O político paulista criou cacife suficiente, portanto, definir horizontes nos próximos dois anos. Suas bandeiras ostentam a influência nos três principais orçamentos públicos do país. No Governo Lula, o PSD tem ministros (Minas e Energia, Agricultura e Pesca); no Governo de São Paulo, ele é o atual secretário de Governo e Relações Institucionais; e, na Prefeitura de São Paulo, prestou apoio relevante à reeleição de Ricardo Nunes (MDB).
A pergunta, portanto, é: Lula resistirá ao pedido de Kassab por mais um ministério?
Nunes derrotou Guilherme Boulos (PSOL), apoiado pelo PT, que não teve candidato na capital paulista.
O PSD, portanto, ao lado do velho vigia do muro da política, o MDB (864 prefeituras), se apresenta para armar um novo tabuleiro. Os dois, porém, continuam arrastam velhas figuras e que nunca promoveram mudanças para melhor.
Abaixo da linha divisória de vencedores e derrotados, o presidente Lula ficou com uma fatura pesada. O PT não quer assumir o fardo, preferindo ver curvar com ele a sua estrela maior.
O partido levou apenas uma capital, Fortaleza (CE). E foi preciso chamar um VAR, da CBF, para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para aferir que Evandro Leitão obteve, mesmo, os 50,38% dos votos validos do 2º turno.
No quintal sagrado do sindicalismo petista, o ABC Paulista, o partido garantiu apenas a prefeitura de Mauá.
O borderô do PT fechou com 252 prefeituras, ou seja, menos que as 265 de entrada nas urnas neste outubro.
O presidente Lula só pode contabilizar ‘vitórias’ importantes onde figurou como carona de candidatos reeleitos em 1º turno, no Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE). Eduardo Paes (PSD) e João Campos (PSB), respectivamente, apareciam com provável reeleição em pesquisas anteriores à abertura do horário gratuito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no rádio e TV. E venceram, pela ordem, com 60,47% e 78,11% dos votos válidos.
João Campos estará, logo mais, à noite, no do centro programa Roda Vida, da TV Cultura.
O saldo das urnas fragiliza, é inegável, a coluna central dos planos Lula por um alongamento da presença na sala principal do Planalto. E Kassab vai querer tirar proveito disso.
A situação já não era de facilidades para o inquilino do Alvorada. Há muito, ele pisa em solo pantanoso das correntes internas do partido. As vísceras petistas serão expostas mais ainda neste final de 2024. As disputas na troca de comando administrativo, a sucessão da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), servirão de palco.
O último ato destas eleições, dissipou, portanto, a cortina de fumaça que encobria pontos nevrálgicos dessa anatomia que o PT arrastará pelos próximos dois anos. Todavia, uma questão parece já definida: Lula perdeu a voz de comando para os rumos do partido. Prova disso: atropelado pelo Diretório Nacional nos repetidos apoios ao ditador da Venezuela, Nicolas Maduro, e ao grupo terrorista Hamas.
Se já era presidente honorário, agora o presidente fica mais honorífico.
A válvula da panela de pressão interna no PT apita sem parar. Mas ninguém parece se importar em tirar do fogo alto. Enquanto isso, afunila o calendário de eleição da mesa da Câmara dos Deputados, no qual Kassab será a estrela. Os petistas, todavia, se ocupam com os cacos das urnas, e esperam a poeira baixar.
De toda forma, as correntes petistas adversárias se rendem ao fato Lula ter nas mãos a caneta do cofre do Tesouro Nacional. Ou seja, das liberações das emendas e verbas extraditarias.
Com esse importante escudo Lula ainda terá fôlego para influenciar na escolha de seu herdeiro.
O atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem currículo de melhor posicionado. Ele surfa no topo do partido desde os 1º e 2º governos de Lula e 1º Governo Dilma, como ministro da Educação (2005-2012). Se elegeu prefeito de São Paulo, em 2012. Em 2018, assumiu a cabeça da chapa do PT à presidência da República, quando Lula ficou inelegível (condenação e prisão após investigações da Operação Lava Jato – corrupção). E, por último, foi para o 2º turno nas eleições para governador de São Paulo, em 2022.
No momento, pois, Haddad não tem concorrente.
Lula teria, ainda, hoje dificuldades de pensar em eventual nome de fora para receber apoio do PT em 2026. Além disso, o PT não aceite esse expediente quando a pauta a cadeira do Planalto.
E ser “candidato do presidente Lula” foi um desastre do deputado federal Rogério Corrêa (PT-MG), na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte. Correia abusou do slogan e teve só 4,37% dos votos válidos do 1º turno. Amargou 6º colocação.
O prefeito reeleito da capital mineira, Fuad Noman (PSD), sacou logo a lição. Aceitou apoio de Lula no segundo turno, desde que ele não pisasse em Belo Horizonte. Funcionou: ficou 53% dos votos válidos. Valeu nisso a presença da habilidade de Kassab.
Neste Lula 3, ressuscitaram inúmeros vícios de gestão pública, entre os quais, inchaços na máquina no primeiro mais ministérios e secretarias nacionais) e segundo escalões. E turbinadas de casuísmos para avançar votações de projetos no Congresso.
O petista, entretanto, criou algumas feridas novas, profundas. Entre estas, por exemplo, da oposição ferrenha à revisão nas aposentadorias (RVT). Para derrotar os velhinhos, no Supremo Tribunal Federal (STF), com apoio de Haddad, a fake news do rombo de R$ 480 bilhões no Orçamento. Venceu fácil na votação do STF, onde a bancada do PT tem maioria folgada.
Engordaram a lista dos malfeitos a liberação dos jogos eletrônicos – Lei 14.852, de 03 de maio de 2024. As apostas sugaram R$ 3 bilhões dos benefícios entregues ao pessoal do Bolsa Família.
As trapalhadas do petista retornaram à política externa, à diplomacia do Itamaraty. Apitou na guerra na Ucrânia, no apoio ao ditador Vladimir Putin, da Rússia. Lula assumiu postura contra o Ocidente: OTAN e Estados Unidos. Elas prosperaram da blindagem ao tirano Nicolás Maduro, da Venezuela, até os equívocos no trato da guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza (Palestina).
E levou seus equívocos para o palco das Nações Unidas, em setembro.
O PT empurrou Lula a tropeços maiores, como a sustentação, no Brics, para Putin lançar a criação de organização militar para confrontar a OTAN. O russo avançou seu objetivo na semana passada, na cúpula de Kazan (Rússia).
No meio caminho das emboladas, o chefe do Planalto não soube administrar a questão bem pessoal da idade e o desejo pela reeleição.
A revista britânica The Economist matou a pretensão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O chefe da Casa Branca foi avaliado como um tanto velho para tentar reeleição e permanecer no comando do país. A publicação, atacou no exato 4 de julho, data nacional dos EUA. Biden tentou resistir, mas jogou a toalha, diante de uma chuva em mesma linha, até no próprio partido, o Democrata.
Feito paralelo, Lula esbravejou. O PT não.
O petista mandou a oposição “perguntar para Janja (sua mulher)” se está velho. Não foi preciso. De lá para cá, algumas respostas saíram das suas agendas e cotidiano.
Após o 1º turno e a quinze dias do 2º, pesquisa de opinião da Quaest apontou que 58% dos consultados não querem Lula candidato em 2026. Portanto, uma resposta das ruas.
Hoje, olhando para 2026, Lula aparece chamuscado, enquanto Kassab desfila com alguma vantagem.
Nesse cenário, a viuvez da crônica política é também explícita. A imprensa, lamentável, incorporou simpatias e paixões por candidatos.
Criou, assim, a raiz quadrada de zero nas análises da vida política. E não consegue sair da mesmice “esquerda” e “direita”. Por vezes, serve um malpassado “centrão”.
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