A partir das 7h, desta terça (05/11), houve várias concentrações de populares em Mariana (a 110 km de Belo Horizonte). Uma delas, na Rodovia MG-129, no trecho que liga a cidade às minas do Complexo de Germano, pertencente à Samarco (Vale/BHP Billiton), distante 27 km e onde ocorreu a tragédia, há quatro anos. A ONG Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e outros movimentos coordenaram a maioria dos atos.
O rompimento da Barragem Fundão, dentro da Mina Germano, foi dia 5 de novembro de 2015, às 15h. A estrutura armazenava mais de 53 milhões m3 de rejeitos de minério de ferro. A sede do pequeno distrito de Bento Rodrigues, 2,7 km a jusante, foi encoberta em boa parte pela lama. Morreram 19 pessoas.
Em geral, desde novembro de 2015, as negociações regidas pelos movimentos sociais dão mais ênfase aos aspectos econômicos (empregos), sociais (principalmente moradia) e políticos. Portanto, os atingidos se mantêm em pé nas negociações com a Samarco e a Vale graças a essa pressão política exercida pelas ONGs.
Contudo, isso relegou ao esquecimento problemas relevantes como os relacionados à saúde, originados na contaminação ambiental. Pouca lembrança ficou, por exemplo, dos alertas, de 2017, quanto à contaminação por níquel (metal pesado) da bacia do Rio Doce.
Mesmo descuido se repete com atingidos na tragédia do rompimento da B1, na Mina Córrego do Feijão, também da Vale, no distrito do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Neste município, o rompimento foi em 25 de janeiro deste ano, causando 252 mortes e 18 desaparecidos (os soldados do Corpo de Bombeiros ainda buscam por corpos).
Ainda sobre a mina da Samarco, em 2017, representantes de um pool de entidades advertiu para possibilidades do surgimento de doenças de pele. Foram citados, de outra parte, problemas respiratórios, causados pela poeira da lama seca. Fora a área humana, observava para a mortandade continuada de peixes e de variedade de espécies da fauna aquática.
Como consequência de algumas contatações, principalmente em território mineiro, por encomenda do Governo, os relatórios serão revisados e atualizados até fevereiro 2020.
As recomendações anteriores ao Governo listavam, além de profissionais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Governo Federal), a participação de pesquisadores ligados à Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, Universidade de São Paulo (USP) e London School of Hygiene and Tropical Medicine (Reino Unido). O material incluiu alerta para um provável surto de febre amarela na bacia do Rio Doce, associado à catástrofe.
Já nos primeiros dias após a tragédia em Mariana, a Fiocruz alertava para riscos elevados de contaminação. Resultados de análises da Fundação apontavam, além de ferro, a presença de resíduos de alumínio, manganês, cromo e mercúrio em índices preocupantes nas amostras coletadas.
Todavia, um relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (Ibama), assegurava que a flora e fauna daquela bacia tinham sido contaminadas por metais em número superior: Alumínio (Al), Bário (Ba), Cálcio (Ca), Chumbo (Pb), Cobalto (Co), Cobre (Cu), Cromo (Cr), Estanho (Sn), Ferro (Fe), Magnésio (Mg), Manganês (Mn), Níquel (Ni), Potássio (K) e Sódio (Na).
Além da tragédia humana, o rompimento da Barragem Fundão provocou destruição ambiental e danos patrimoniais e à economia numa extensão de 600 km. A lama levou junto a represa de água Santarém. E, logo abaixo, a 77 km, atingiu o Rio Doce. Pelo Rio Doce, chegou ao mar, em Linhares (ES), impactando diretamente moradores de 41 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo. Cerca de 700 mil pessoas foram afetadas.
Apesar de tanto tempo, não há, até hoje, informação precisa para o volume de rejeito que vazou da Barragem Fundão. Contudo, o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (GESTA/UFMG) chegou a informar 50 milhões m3. Isso, todavia seria quase a totalidade do material contido antes do rompimento.
As manifestações de hoje, em Mariana, tiveram início no Bairro Morro do Santana, às margens da Rodovia MG-129, no local conhecido como “Saída para as Minas”. De lá, direcionadas pelos movimentos sociais, saíram para o Centro de Mariana e à vizinha Barra Longa.
A rodovia é o principal acesso também às dezenas de minerações de ferro nos municípios de Catas Altas, Santa Bárbara, Barão de Cocais, São Gonçalo do Rio Abaixo e Itabira. Maioria das minas pertence ao Grupo Vale.
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