O mau uso do cartão de crédito, com suas altas taxas de juros, levou a população mais jovem, entre 18 e 29 anos, a se endividar progressivamente. Por conta disso, o indicador de inadimplência da capital mineira registrou crescimento de 0,78% no mês de junho, em comparação a maio. Os dados são da pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH).
Ao contrário dos jovens, os idosos entre 65 e 94 anos foram os que menos concentraram dívidas em junho, 13,09%. Isso se deve ao pagamento antecipado da primeira parcela do 13° salário, que permitiu aliviar as contas e aumentou o poder de pagamento dessa população.
O avanço da inadimplência em Belo Horizonte não é um caso isolado. Em todo o país, o indicador cresceu. A recente pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), estima que quatro em cada dez brasileiros adultos (38,68%) estavam negativados em maio de 2022. São 62,37 milhões de consumidores pessoa física inadimplentes.
Em maio de 2022, o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu 5,81% em relação ao mesmo período de 2021. Em relação a abril de 2022, o número aumentou em 0,8%. Na soma de todas as dívidas, cada consumidor negativado devia, em média, R$ 3.564,82 para 1,89 empresas credoras, em média. Porém, mais da metade das dívidas (50,32%) é de até R$ 1 mil.
Quando avaliada a faixa etária das pessoas inadimplentes, a pesquisa mostra que a maior parte tem entre 30 e 39 anos (24,04%), na sequência aparecem aqueles entre 40 e 49 anos (21,06%). A idade média de um devedor em atraso no Brasil é de 44 anos. Com relação ao sexo, mulheres representam 50,8% dos casos e homens, 49,2%.
“Dentre os fatores que explicam o endividamento entre essa faixa da população (mais jovem) está o uso excessivo do cartão de crédito. Com a alta taxa de juros vigente, tem sido cinco vezes mais caro utilizar o crédito. Por este fator e também pela média salarial mais baixa, a população dessa faixa etária tem se endividado progressivamente”, avaliou o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.
Em função desse cenário, o dirigente reforça a necessidade de um planejamento financeiro e também, sempre que possível, optar pelo pagamento total das faturas do cartão de crédito. “Pagar o valor mínimo da fatura não é a melhor escolha para a saúde financeira, pois além de adiar uma dívida, os juros crescem ainda mais. O ideal é planejar o uso da renda, priorizando as contas essenciais e tentar, ao máximo, fugir de refinanciamentos e gastos desnecessários”, aconselha.
De acordo com o Banco Central (BC), a taxa de juros cobrada em faturas atrasadas estava em 364% em abril. Para os brasileiros que optaram pelo pagamento parcelado, a taxa média cobrada foi de 175,1%. Esses são os dados mais recentes, em função da greve dos servidores do BC que paralisou as divulgações recorrentes como o boletim Focus e notas dos setores de crédito e externo.
Durante o mês de junho, o registro de dívidas entre os sexos foi praticamente igual. Sendo que homens concentravam 3,31% e mulheres, 3,21%.
A comparação anual (Junho.22/Junho.21) aponta que o indicador de inadimplência avançou 6,58%. “O ano de 2021 registrou uma retração de 6,64% na base de devedores em função do auxílio emergencial, negociações e adiamento de prestação. Com o fim dessas medidas, a tendência de crescimento aconteceu”, advertiu Souza e Silva.
A pesquisa revelou que, em comparação ao mês de maio, junho teve um aumento de 1,83% de dívidas por CPF. Na análise anual (Junho.22/Junho.21), o crescimento foi de 10,28%. Segundo o levantamento, as dívidas por CPF estão aumentando devido ao cenário econômico desfavorável, à alta taxa de juros e ao processo inflacionário crescente. Esses fatores promovem um desgaste da renda e comprometem a adimplência das famílias.
A pesquisa de inadimplência da CDL/BH mostra que, entre as empresas, houve uma leve retração de 0,27% no mês de junho em comparação a maio. Já em relação ao mesmo período do ano passado, houve um crescimento de 3,65%.
O número de dívidas por CNPJ aumentou 0,08% no comparativo anual (Junho.22/Junho.21). Na análise mensal (Junho.22/Maio.22), também se observou um aumento de 0,03% no número de dívidas.
O setor com menor número de dívidas no mês de junho foi a agricultura, com declínio de 0,84% na inadimplência. Já o maior índice de empresas devedoras está no setor de serviços com aumento de 0,78%. O comércio registrou aumento de 0,35% e a indústria 0,2%. As principais dívidas desses setores ocorre pelo custo operacional de água e luz, com 0,98% de negativação e comunicação, com 0,49%.
“A alta taxa de juros da economia têm dificultado a possibilidade de pagamento das empresas e as renegociações. Ainda assim, o aumento do número de dívidas entre as empresas é discreto. Belo Horizonte vivencia uma leve retomada econômica com geração de empregos e aumento de circulação de renda e as empresas ainda estão se reestruturando”, observou o presidente da CDL/BH.
(*) com Ascom/CDL/BH)
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