Política

Assembleia fará do dia 25 de janeiro luto oficial permanente no Estado

Sob forte emoção e luto, a Assembleia Legislativa, o Judiciário e o Ministério Público, além de familiares das vítimas, homenagearam os 272 mortos no crime da Vale. Convidado, o governador Romeu Zema (Novo) não foi ao evento, realizado, nessa quinta (23), no Legislativo mineiro, nem enviou representante. No mesmo horário, 17 horas, Zema não tinha agenda oficial, que previa apenas encontro com a deputada distrital Júlia Lucy (Novo), de Brasília, às 18h30. Não foi divulgado o motivo dessa reunião.

A ausência do governador foi criticada por deputados estaduais. Segundo eles, isso refletiu a falta de sensibilidade e de sintonia dele com a indignação que alcançou os mineiros na tragédia de Brumadinho (Grande BH). A crítica veio acompanhada de outras sobre a posição dúbia e tolerante do governo perante a Vale após o desastre. Deputados defendem que o dia 25 de janeiro seja luto oficial permanente no Estado.

Esperando por obras que não chegaram

“Ficaram o ano inteiro passando pano, tratando a Vale como parceiros e indo a eventos de mineração. A Vale prometeu dinheiro e obras para o governo e, um ano depois, como não saiu nada, ficaram nervosos”, disse um deputado. Outro culpou a coordenação política do governo por não ter orientado Zema melhor. “Ele vai sábado (dia 25) a Brumadinho, mas o que levará lá?”, cobrou outro em referência ao registro de um ano da tragédia.

Na última segunda (20), Zema cobrou obras da mineradora Vale para indenizar e compensar Minas pela tragédia. “Em vez de multas, preferimos que realizem obras. Uma vez que o nosso estado, devido à crise no setor minerário que se seguiu foi o único a apresentar recessão. São dezenas de obras, mas não as posso elencar até que em fevereiro seja fechado. Nosso investimento é de R$ 70 milhões no ano, a intenção é que se mantenha isso pela empresa num horizonte de 100 anos (cerca de R$ 7 bilhões)”, disse o governador.

Governador reconhece resistências da Vale

Ele reconheceu que a mineradora tem tido resistências nesse acordo e que, por isso, poderá levá-la à Justiça. “Mas seremos duros e estamos confiantes em resolver essa questão por negociação. Os valores que nos ofertam ainda não estão dentro do que queremos”, admitiu o governador.

Legislativo pode decretar luto todo 25 de janeiro

Se houve ou não falta de sensibilidade de Zema, o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV), anunciou que esse crime não pode ser esquecido. Para isso, deputados irão, logo na abertura dos trabalhos deste ano, em fevereiro, apresentar dois projetos de lei. “O primeiro para decretar luto oficial do Estado em todo dia 25 de janeiro. Todos que passarem pelos órgãos públicos vão lembrar desse crime, responsável pelo maior número de mortes de pessoas num único evento. Esse erro terrível passará para a história”, reforçou.

O outro projeto é o que prevê dar os nomes das vítimas da tragédia em Brumadinho às obras do Governo do Estado. Essas obras seriam financiadas pela Vale, conforme acordo informado pelo governador. A ideia, segundo um deputado, é que, ao colocar nomes das vítimas nas obras, a Vale não ficaria de “boazinha” na iniciativa.

Homenagem em memorial

Na cerimônia, a Assembleia Legislativa inaugurou, nessa quinta (23), memorial em homenagem às vítimas do rompimento de barragem da Vale, em Brumadinho. A tragédia aconteceu no dia 25 de janeiro do ano passado. Instalada na Praça da Assembleia, em BH, a obra expõe os nomes de todos os atingidos.

Além dos nomes das vítimas, a obra também traz contextualização breve. Acompanha ainda a seguinte estrofe do poema Lira Itabirana, de Carlos Drummond de Andrade. “Quantas toneladas exportamos/De ferro?/Quantas lágrimas disfarçamos/Sem berro?”, contesta o poeta.

Rosas brancas foram deixadas no local, além de velas acesas e fotos das vítimas, que foram afixadas em uma das paredes do prédio. Houve pronunciamentos emocionados de representante das famílias dos atingidos e de Agostinho Patrus (PV).

Agostinho defende punição exemplar

“A Assembleia iniciou esses quatro anos de mandato de luto, e isso se mantém. Ainda temos pessoas desaparecidas, famílias que ainda não conseguiram fazer o último gesto com essas pessoas. É um momento de homenagem às vítimas e às famílias, pensando nas pessoas. A questão ambiental é importante, judicial, de indiciamentos, mas focamos nas pessoas”, disse o parlamentar.

Ainda durante o evento, Agostinho Patrus defendeu punição exemplar aos responsáveis. “Nós sabemos que a punição das pessoas não traz de volta aqueles que perderam suas vidas. Mas ela é fundamental, não só para servir de exemplo a aqueles empreendedores que pensam em desrespeitar a legislação. Esses exemplos também são importantes. Agora, é ver como o Judiciário vai conduzir”, pontuou.

Também participaram do evento, o chefe do Ministério Público, Sérgio Tonet, o defensor público geral, Gério Patrocínio Soares, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Giovane Gomes da Silva, a representante das famílias das vítimas), Andresa Rodrigues, o comandante do Corpo de Bombeiros Militar de Minas, Edgard Estevo da Silva Gerais, entre outros.

Familiar observa painel com fotos das vítimas da Vale, foto Daniel Protzner/ALMG

Vale “aciona” o nível 1 em barragem da Mina Jangada

Orion Teixeira

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