Política

Reforma da previdência de Zema: confisco salarial ou ajuste fiscal

O primeiro dia debates realizado pela Assembleia Legislativa, nessa segunda (13), não impedirá a reforma da previdência do governador Romeu Zema, porém, vai expor sua natureza real. A proposta que cria quatro alíquotas de contribuição previdenciária e as amplia de 11% para 13% a 19%, de acordo com a remuneração.

A oposição e deputados de blocos independentes, além de representantes dos servidores, cravam em coro que é confisco salarial. Já o governo mantém o argumento de ajuste fiscal. De acordo com o secretário de Planejamento, Otto Levy, a reforma da previdência deve ser vista como questão de estado, e não de governo. Ou seja, tenta aliviar a barra do governador, apesar da matriz empresarial e formação ultraliberal dele e de seu partido, o Novo.

Em audiência, na Assembleia, o secretário abordou a progressividade das alíquotas de contribuição, de 13% a 19%. Nos cálculos dele, 82% dos servidores ativos terão alíquota efetiva inferior a 14%. Ainda assim, para os salários mais baixos, haverá aumento de R$ 30,00 a R$ 40,00 por mês em um contexto de congelamento de salários até janeiro de 2022.

Mudanças afetarão 473 mil

A reforma afetará 184 mil servidores ativos, 251 mil inativos e 38 mil pensionistas. Em sua exposição, Otto Levy expôs dados da situação financeira do estado, dramática, segundo ele. De 2013 a 2019, o déficit fiscal acumulado foi de R$ 45,8 bilhões, prejuízo que deve se agravar com a pandemia de Covid-19, previu o secretário.

No mesmo período, as despesas com pessoal subiram praticamente 73%, frente aos 40% de aumento das receitas. Entre essas despesas, destacam-se as da previdência. Corrigido pela inflação, o déficit previdenciário relativo aos servidores civis, aqueles impactados pela reforma, chega a R$ 85,8 bilhões.

De positivo da reforma, na visão do governo, será a economia obtida em dez anos, cerca de R$ 32 bilhões. Ao lado do secretário de Governo, Igor Eto, Levy participou do Seminário Virtual da Assembleia A partir desta terça (14), os debates serão entre deputados estaduais e representantes de sindicatos de servidores.

Promessa previdenciária ameaçada

“No modelo vigente, não será possível cumprir a promessa previdenciária aos servidores quando eles chegarem ao fim de suas carreiras ativas. Precisamos de uma reforma para buscar o equilíbrio das contas públicas, possibilitar o pagamento em dia a servidores, pensionistas, aposentados e fornecedores e viabilizar investimentos que precisam ser feitos”, apontou Igor Eto. Segundo ele, não há interesse, por parte do estado, de fazer ajuste fiscal com a previdência social dos servidores.

As justificativas dos secretários receberam críticas de deputados de oposição e até de aliados. Entre eles, as deputadas Beatriz Cerqueira (PT), Marília Campos (PT) e Andréia de Jesus (Psol). E dos deputados Virgílio Guimarães (PT), André Quintão (PT), Professor Cleiton (PSB), Delegado Heli Grilo (PSL) e Sargento Rodrigues (PTB).

O líder do bloco de oposição, André Quintão (PT), reprovou os índices de taxação previdenciária. “Me coloco na situação de um servidor que ganha pouco, está com o salário congelado e terá aumento na alíquota. Uma espécie de confisco salarial. Por que o governo não construiu a proposta ouvindo sindicatos e servidores, já que o envio à Assembleia demorou um período?”, questionou.

Prazo curto para tramitação

Os deputados ainda questionaram a apresentação da proposta em plena pandemia e o prazo exíguo para a tramitação. Sargento Rodrigues também avaliou negativamente a escolha do debate remoto, que classificou como uma farsa. “Seminário virtual não tem o condão de substituir a participação popular. Concordo que a reforma deve ser feita, mas não desta forma. Precisávamos exercer na plenitude os direitos dos deputados e da participação popular. Os deputados estão sendo amordaçados”, criticou.

Marília Campos questionou a criação do Fundo Previdenciário de Capitalização que, segundo ela, vai agravar a situação financeira da Previdência. Os debates estão sendo realizados depois que a Assembleia suspendeu a tramitação da proposta para permitir debates e a participação dos servidores.

Aliados como a deputada Celise Laviola (MDB) e os deputados Arlen Santiago (PTB) e Carlos Pimenta (PDT) defenderam a tramitação da reforma e a realização do debate virtual. Assim como a deputada Laura Serrano (Novo), eles avaliaram que a reforma é necessária, mas ponderaram que a Assembleia deve buscar aprovar a redação mais justa possível.

Respeitar direitos adquiridos

“O Estado precisa da reforma, mas queremos votar o melhor texto, com alíquotas justas. É muito importante também que sejam respeitados os direitos adquiridos. Quando o servidor fez o concurso público, ele entrou no Estado sob determinadas regras, que não podem ser modificadas pelo quadro dramático que estamos passando, que é muito mais culpa de maus governos”, ponderou o deputado Carlos Pimenta.

O deputado Gustavo Valadares (PSDB) apontou que a matéria é fundamental para o equilíbrio das contas públicas do Estado e a celeridade dos trâmites não é ofensiva ao Parlamento. “Não há correria, a Assembleia cumpre o seu papel, inclusive para corrigir os possíveis equívocos que possa haver”, declarou.

Em resposta às críticas, Igor Eto destacou o aumento da expectativa de vida e a diminuição da população economicamente ativa. Segundo ele, são fatores que precisam ser levados em consideração na análise de um sistema previdenciário defasado.

LEIA MAIS: Zema desabafa contra 2 derrotas no 1º tempo da reforma da previdência

Orion Teixeira

Ver Comentários

  • Sem aumento há anos e depois cortando composição salarial, como ajuda de custo que é a metade do salário de quem ganha menos, será insustentável ficar no serviço público. Os penduricalhos dos tetos continuam isentos, né? Sempre os de baixo pagando?

Posts Relacionados

CWI menor no capital da Equatorial

A Capital World Investors (CWI), administradora norte-americana de ativos, encolheu a participação na Equatorial S.A,…

12 horas atrás

Janja, a mosca na sopa (2026) do Lula

A socióloga Rosângela Lula da Silva (PT-PR), mais uma vez, desfila de fogo amigo contra…

3 dias atrás

A foto do G20 é o de menos

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Democrata), nos 60 dias que lhe restam de…

3 dias atrás

Generais do GSI novamente não sabiam…

O GSI é, digamos assim, um nano quartel de generais de “elite” cravado no coração…

1 semana atrás

Banqueiro dono do Galo demorou

Dono do Grupo MRV (construtora), do Banco Inter e de empresas de comunicação, o empreiteiro…

1 semana atrás

Embraer reduzirá 10% nas entregas

A montadora brasileira Embraer S.A. refez sua projeção de entrega de aeronaves para este exercício.…

1 semana atrás

Thank you for trying AMP!

We have no ad to show to you!