Tido como pré-candidato a presidente, o governador Romeu Zema (Novo) segue à risca orientação de seu marqueteiro para virar notícia nacional, ainda que seja pelo lado negativo. Em mais um post de final de semana, Zema, que enriqueceu na iniciativa privada, reafirma sua descrença na democracia. Faz isso sempre que abre a boca. Há muito, já é conhecido esse lado desse araxaense acostumado a decidir sozinho os rumos de sua organização.
“Democracia é o direito das pessoas escolherem o próprio tirano”, escreveu ele, atribuindo a frase ao ex-presidente dos Estados Unidos James Madison. Esse senhor presidiu os EUA no século XIX, entre 1809 e 1817. É considerado pelos estadunidenses o “pai da Constituição” por conta do seu papel na elaboração do texto. Também ficou marcado por ter vários escravos em sua fazenda herdada na Virgínia. Morreu em 1836.
Não está descartada a divulgação de uma possível nota oficial do governo a partir de hoje, para dizer que ‘não é bem assim’, caso a repercussão seja negativa. Se assim for, o marketing do antidemocrata teria cumprido seu objetivo de dar visibilidade a Zema que quer mostrar uma personalidade crítica a aspectos civilizatórios.
Seu marqueteiro aposta que a maioria da população, por ser desinformada e de pouca oportunidade social, irá enxergar ali algum valor. E não só esse segmento desfavorecido. Os endinheirados também gostam. Para setores do empresariado e da direita, democracia é coisa da esquerda e atrasaria o desenvolvimento do país (deles).
Na semana passada, Zema assumiu as razões das dificuldades de relacionamento com o novo governo federal, liderado pelo petista Lula. Segundo ele, tem gente demais dando palpite e que seriam 37ministérios contra 23 da gestão Bolsonaro. “Antes era mais fácil decidir”, observou ele, acostumado a sentar e decidir sem muita discussão.
Há menos de 30 dias, o marketing foi menos criterioso e o levou a se identificar com o líder do fascismo italiano, Benito Mussolini (1883-1945). A postagem foi feita em 1º de julho e trazia o texto: “Fomos os primeiros a afirmar que, quanto mais complexa se torna a civilização, mais se deve restringir a liberdade do indivíduo”. O nome do ditador europeu foi citado.
A publicação feita um dia após decisão do Tribunal Superior Eleitoral que tornou inelegível ex-presidente e aliado de Zema, Jair Bolsonaro (PL). No mesmo campo, Bolsonaro, que também descrê da democracia, atacava a Justiça Eleitoral e as urnas eletrônicas.
Parafraseando o moleiro de Berlim, em Minas e no Brasil, “ainda há quem acredite na democracia brasileira”. A historiadora Heloisa Starling, professora da UFMG, é uma delas. “Costumamos ver a democracia no Brasil como uma coisa fraca, mas, na hora em que a gente olha para a história, percebe que não é bem assim. Ela tem uma história longa no país. A ideia moderna de democracia começou a ser trabalhada por aqui no século 18, na conjuração do Rio de Janeiro. Essa noção de fragilidade da democracia no Brasil começou a me incomodar”, afirmou Starling.
A professora mineira será curadora do seminário ‘Como Renasce a Democracia’, que acontece em São Paulo nesta terça (25) e quarta (26). Participam da programação nomes como a ministra do STF Cármen Lúcia, a secretária de Ciência e Tecnologia da cidade do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, o jornalista e professor da USP Eugênio Bucci e o cientista político Miguel Lago. Hora de aprender um pouco sobre a democracia e sua importância histórica para a humanidade.
“Como vamos pensar a democracia nesses últimos quatro anos? Como vamos reconstruí-la? No meio desses pensamentos, eu me lembrei de um livro de 1985 editado pelo Caio Graco, um livro que fez minha cabeça quando eu estava no movimento estudantil, cujo título era ‘Como Renascem as Democracias’”, contou Starling. “Nós sabemos como o Estado democrático morre, sabemos fazer essa crítica, mas como ele renasce?”, indagou ela. (com informações da Folha de SP).
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