O day after de todas as eleições partidárias abre, na prática, a corrida para as próximas, no caso, as presidenciais de 2026. Alguns derrotados na primeira fase, mas com cacife, continuam em cena no 2º turno. E, portanto, colam em suas janelas cartazes de oferendas em troca de puxadinhos futuros. No melhor estilo do fisiologismo, beijam (e são correspondidos) adversários com os quais, até semana passada, se atracavam ferrenhamente – palavrões, cadeiradas e socos.
Esse é o brasilzinho eterno. E que o eleitorado (apto a votar: 155.912.680 – TSE) parece, todavia, não abrir mão. Pouco importa, então, se todos, das fileiras ditas de “esquerda”, “direita” e do “centrão” de aluguel, buscam o de sempre: se arrumar em cima da coisa pública.
Políticos, nesta Terra de Cabral, não entram no ramo por vocação. Miram em polpudos salários (reajustados quando e com índices ao sabor das “excelências”) e um rol secreto de benesses periféricas:
O país convive passivo com práticas diárias de abuso de poder econômico nas prefeituras, governos estaduais e União. Neste ano, até aqui, tudo novamente tolerado pelas promotorias eleitorais nos Estados (TREs) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde janeiro, arrastou comitivas de ministros pelo país. Nas asas da FAB (Tesouro Nacional), fez pousos e decolagens por mais de uma cidade em mesmo dia. Atropelou, ou seja, diversas vezes, o calendário do TSE. Antecipou, pois, palanques para candidaturas do Partido dos Trabalhadores (PT) e aliados no pleito do último domingo (06/10)
Lula, de forma compulsória, empurrou comitivas gordas de ministros de Estado para dentro do avião presidencial. A agenda das inaugurações foi apenas álibi. Mesmo critério de barganhas em viagens fora do país. A conta petista do 1º turno com a FAB não ficou barata (nem será paga pelo PT). Essas caravanas influenciaram, sim, onde o petista obteve algum sucesso.
O senador Sergio Moro (União-PR), a quem Lula, PT e partidos da “base aliada” querem cassar o mandato, foi acusado (e absolvido) por muito menos em processo eleitoral no TRE-PR. Prova de que a Justiça Eleitoral adota dois pesos duas medias.
Moro, contudo, segue como alvo de Lula. Isto é, mantido pelo presidente como eventual troféu para cacifar seu projeto de tentativa de reeleição em 2026.
Prevalece, então, a velha prática do fisiologismo político: preservar donos das chaves dos cofres e que são facilmente manipulados. Nesse expediente, o balcão das negociatas entrega emendas parlamentares (emendas pix), verbas extras para currais eleitorais, cargos para apadrinhados… Emenda pix soltou R$ 7,7 bilhões.
Ou seja, mesmas mazelas federais, mesmos atrasos culturais. Nada muda!
Apesar de tudo, houve alguma mudança, menos em relação aos objetivos pessoais dos políticos, novos e velhos. As ferramentas dos cabos eleitorais e candidatos evoluíram de 2018 para 2022, com uso massivo da Internet. Deram rasteiras em pesquisas DataFolha e concorrência.
Neste 2024, até o momento da cadeirada de Luiz Datena (PSDB-SP) em Pablo Marçal (PRTB-SP), o país estava em parafuso com a tendência em subida vertical do eleitorado paulistano. Afinal, a cidade mais rica do continente parecia sem bússola. Em jogo a gestão do 3º maior orçamento do país, depois do Governo de São Paulo e da União.
Marçal, foi parado por coisa de 57 mil votos. Entretanto, não pulou para este turno por conta do passeio de Lula a Guilherme Boulos (PSOL-SP) pelo centro de São Paulo. Marçal é que foi o maior cabo eleitoral do adversário. Perdeu a poucas horas da abertura das sessões eleitorais, ao exibir documento falso.
Todavia, navegará ainda com a votação expressiva recebida (1.719.274) . O ex-coach não será, pois, facilmente sepultado até 2026. Se preso ou em isolado de outra forma, a memória dele está nas redes. Na apuração do TSE, ele ficou distante do 1º (Ricardo Nunes, do MDB, 1.801.139), mas arranhou no 2º (Guilherme Boulos, 1.776.127).
Marçal seguirá ativo no jogo da polarização. Com ele, por vontade do eleitorado (a democracia permite), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) será outro influente, indicam os resultados do domingo. Isso a despeito da culpa direta da administração bolsonarista nos mais de 700 mil óbitos causados na pandemia da Covid-19. Ou seja, o negacionismo dele, infelizmente, sobrevive.
Lula, de sua parte, não pode computar como suas “vitórias” de reeleitos de cara e campeões de aprovações. Prefeitos do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD-RJ; 60,47%) e do Recife, João Campos (PSB-PE; 77,43%) já eram favas contadas. Isso muito antes da abertura do horário gratuito do TSE, no rádio e TV.
O petista, para manter olho vivo até 2026, precisa, então, mesmo que montado em chapas não puro sangue do PT, vencer, ao menos, em grandes centros que sobraram. Por exemplo, em São Paulo e Belo Horizonte, respectivamente, capitais dos 1º e 2º maiores colégios eleitorais do país.
Mesmo que saia vitorioso nesses redutos, o caminho de Lula não será sopa no mel. Terá pela frente o ‘centrão’ do PT, que já faz poeira. Esta ala recorreu, neste pleito, a influentes da dita “direita”, mas de fora de partidos. Barganhou votos e foi atendida.
O bloco quer novos “líderes”, ou seja, mudanças. E, ainda que de forma velada, joga suas lanças pensando em 2026. Até olha atento para capa que a britânica The Economist dedicou (contra) a Joe Biden. O presidente dos Estados Unidos foi tratado como velho para continuar na Casa Branca. Aceitou que era o fim da corrida por mais um mandato.
MATÉRIA RELACIONADA:
A outra arma desse fogo amigo do PT é o fato de que o eleitorado, cada vez mais, está casado com as redes digitais. Essa relação foi turbinada com a liberação ampla (novembro de 2022) da Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês). A partir daí, o eleitorado criou bolhas aceleradoras de tendências dos votos. E, cada vez mais, então, tudo vazará em velocidades renovadas. Logo, até 2026, muitos vendáveis pela proa.
Isso, claro, não vale apenas na relação Lula-PT. Vai para todos do topo nos Três Poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário.
O presidente do PSD Gilberto Kassab (PSD-SP), deu entrevista ao sabor do avanço expressivo do partido no domingo: 878 prefeituras. Mas, daí, ele falar em “nova política” brasileira, pelas mãos de atores da velha política, é tripudiar do povo. Pena que os entrevistadores engoliram.
Kassab ex-ministro em diferentes governos. E, com raras exceções, todos influentes que giram no seu eixo político arquivos dos tempos da Velha República, ditadura militar e de governos carimbados por “pixulecos”: José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula (1 e 2), Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e Lula (3).
Para não ser longo, vale pincelar Sarney: aos 15 anos (1945), líder estudantil, protesta contra ditadura de Cargas; 1964, como deputado federal (UDN), apoiou o golpe militar; foi da Arena (partido dos generais) e, na mudança de nome, do PDS; em 1985, no racha no partido, cria a Frente Liberal, que negocia com o MDB (partido de oposição aos generais) a vaga de vice de Tancredo Neves (MDB) nas eleições indiretas, no Colégio Eleitoral. Tancredo foi internado na véspera da posse e morreu um mês depois. Sarney governou a segunda metade da “década perdida”, até 1990. Nos Governos Lula 1 e 2 (2003-2010), o maranhense, campeão em inflação, foi “conselheiro” pessoal do petista.
A FL marcou o núcleo raiz do que chamam hoje por “centrão”. Com ele, rosários de corrupção política prosperaram. As investigações da Operação Lava Jato, conduzidas pela Polícia Federal e Ministério Público Federal (MPF), mostraram parte do mapa com fartura de bilhões de reais desviados nos primeiros Governos Lula. Outras investigações se tornaram famosas: Mensalão do PT, Correios, Petrobras, Mensalão Tucano.
Apesar dos réus confessos e devoluções bilionárias (R$ 25 bilhões – 2022) de parte dos roubos, o Supremo Tribunal Federal (STF) achou por bem desmontar a Lava Jato e anular a rodo as condenações.
MATÉRIA RELACIONADA:
Na bula da “nova política” de Kassab entra o peso imediato que o PSD extraiu das urnas. Valerá, como moeda de troca, claro, até 2026. E ele partiu para as negociatas, acenando que decidirá a eleição do próximo presidente da Câmara dos Deputados.
O político paulista foi ministro nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Serviu como secretário do então governador João Doria (PSDB) e, agora, no secretariado de Tarcísio de Freitas (Republicanos). No seu portfólio, estão as carteirinhas do PL, PFL, DEM (atual União Brasil) e PSD.
O Brasil, há quatro décadas, dá espaços à pregação por uma “nova economia”. Contudo, não sai do fiasco. Pega algo elementar: agentes da velha economia (velhas mentalidades) querem liderar a metamorfose para algo melhor.
A socióloga Rosângela Lula da Silva (PT-PR), mais uma vez, desfila de fogo amigo contra…
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Democrata), nos 60 dias que lhe restam de…
O GSI é, digamos assim, um nano quartel de generais de “elite” cravado no coração…
Dono do Grupo MRV (construtora), do Banco Inter e de empresas de comunicação, o empreiteiro…
A montadora brasileira Embraer S.A. refez sua projeção de entrega de aeronaves para este exercício.…
Em Minas e no Brasil, houve muito barulho por nada, da direita à esquerda, após…