Sem conhecimento e apreço pela interlocução política, Zema seria derrotado hoje se o seu projeto de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) fosse à votação na Assembleia. O das privatizações também. Não se trata de pesquisa, mas do simples fato de ele não ter os votos necessários. Por várias razões. Primeiro, a fama do governador junto aos deputados não é boa, é de alguém que não cumpre os combinados, que não tem liderança própria nem líderes aliados capazes de guiar o voto dos aliados.
No papel, põem 57 deputados como aliados, mas, na prática e no plenário, não chegam a 39 (número mínimo para sessões de votação). Aprovação de projetos complexos exige 49 votos. Basta conferir as últimas votações, que exigiam só maioria simples: venceu por 33 a 30 e 31 a 27. Fora do plenário também.
O primeiro encontro oficial que realizou com os deputados da base, na terça (17), no suntuoso Palácio da Liberdade, desde 2019, foi um fiasco e reafirmação desse desarranjo. Passaram por lá 40 a 45 deputados; boa parte ficou alguns minutos. Quando o governador assumiu o microfone, foi ouvido por uns 30.
Disse Zema que, agora, mudará de postura e que, quando for chamado para reunir-se com deputados, vai “postergar as viagens”. A relação não é boa, menos por culpa dele e mais por conta da equipe da articulação política.
O governador já teve quatro secretários dessa área numa rotatividade reveladora dos fracassos. O que Zema não entendeu, nem o núcleo do governo, é que, sem uma forte aliança com o presidente da Assembleia, não irá avançar. É ele quem comanda a pauta e o ritmo dos trabalhos legislativos. Foi assim, no primeiro mandato de Zema, na gestão do então presidente do Legislativo, Agostinho Patrus.
Agora, o presidente é outro, Tadeu Leite (MDB), que chegou lá derrotando o próprio governador e sua máquina de erros. O comando da Assembleia mudou, mas não a realidade. Tadeu é diferente de Agostinho, que se cansou da forma errática do partido Novo, mas tudo tem limite e paciência. Até o momento, Tadeu tem colaborado, mas não cabe a ele influenciar o voto dos deputados.
Zema contestou que vá congelar reajuste salarial dos servidores pelo prazo de 9 anos de adesão ao RRF. Fez mais, prometeu dar duas revisões salariais, sem dizer o que é isso, quando ou os índices. Sabe-se que reposição salarial é atualização inflacionária dos ganhos; reajuste é o aumento acima da inflação. Revisão não tem definição objetiva. Além disso, ele terá mais três anos de mandato e não poderá garantir o que farão os sucessores nos outros seis anos da adesão ao regime do aperto fiscal.
(*) Coluna publicada no jornal Estado de Minas
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