Economia

Projeto da Vale para um Córrego do Feijão “sustentável”

A população do arraial Córrego do Feijão, em Brumadinho, tomou conhecimento, sábado (14/12), das propostas de intervenções urbanísticas, mobilidade e sustentabilidade em diversas áreas formatadas pela Vale S.A. Contemplam parte expressiva das reivindicações encaminhadas à empresa pelo Ministério Público e moradores do vilarejo e zona rural.

No “Projeto Território-Parque“, está a criação de infraestrutura para diversas atividades: lazer, cultura, aprendizados, convivência, preservação ambiental, segurança, conhecimento/formação de pessoas e “mercado” de produtos locais. Esses novos serviços, portanto, multiplicariam, de sobremaneira, o atendimento que a população dispõe hoje.

A apresentação ocorreu a 52 dias de completar um ano a tragédia causada pelo rompimento de barragens de rejeitos na Mina Córrego do Feijão, da Vale: em 25 de janeiro. Causou 257 mortes e 13 desaparecidos (02/12/2019).

Apresentação atraiu poucas pessoas – Foto cedida por morador

A apresentação, pelo arquiteto e urbanista Fernando Maculan, de forma permanente, atraiu ao redor de 40 moradores – avaliação apurada por este site. Foi parte de outras atividades, das 8h às 17h30. Nesta segunda (16/12), todavia, assessoria da Vale disse ao ALÉM DO FATO que foi uma apresentação “preliminar”. E, portanto, só dará divulgação após resultados das e consultas e eventuais alterações .

Área Simbólica – Foto: Reprodução

Aliviar lembranças dos helicópteros

O megaprojeto exibe três intervenções impactantes. Ao Sul, o campo de futebol, que divide laterais com Igreja Católica e o cemitério municipal desaparecerá. Mas, em seu lugar, surgirá um parque com alamedas, jardins, espelho d’água e uma capela para velório. O local é apresentado como “Área Simbólica”. Está em um platô, que permite avistar a serra do Pico Três Irmãos e parte da enorme do enorme rastro da destruição da tragédia.

O campo serviu de “base” para os helicópteros. A igreja abrigou o QG do comando do “Centro das Operações” nos primeiros 45 das operações de resgates das vítimas e dos corpos. Ali ficou, portanto, o comando-geral do Corpo de Bombeiros, Forças Armadas, Polícias Militares e Civis e agentes dos diversos Estados.

A “base” chegou a ter quase 20 aeronaves em solo. Nos primeiros dias, os helicópteros chegavam com os corpos, suspensos no ar, dentro de enormes puças, ou em padiolas. Eram desembarcados aos olhos da população.

Imediatamente à desocupação, a igreja foi restaurada pela Vale. O comando foi deslocado para dentro da mina, onde está até hoje, e recebeu o batismo de “Base Bravo”.

Área Praça – Foto: Reprodução

Implantação e preservação de áreas

No Centro, próximo à Horta e do Centro Comunitários, “Área Praça” terá a implantação literal de área verde. Será polo de diversas atividades: centro de cultura e artesanato e artesanato, lazer, artesanato, mobilidade, feiras, festividades, ponto de apoio multiuso (apoio eventos relativos à produção – em comunidade e nos “quintais”) e terá um bosque etc. A praça preencherá enorme descampado

A terceira e a maior, a “Área Parque”, favorecerá a preservação de imensa área verde, foco de contínuas queimadas. Ocupará superfície próxima da metade da ocupação urbana. Está no acesso Norte do arraial e margem esquerda do pequeno córrego (assoreado pelos rejeitos da Mineração Ibirité – MIB, do Grupo Aterpa) que dá nome ao lugar. Nesta parte, surgirão horto, viveiro, ciclovias, trilhas, piscina, anfiteatro, mercado (para venda de produtos locais), espelhos d’água e serviço de segurança. Terá, ainda, o núcleo de um sistema sustentável de manejo das águas – de superfície, poço artesiano e captação.

“Área Parque” – Foto: Reprodução

Busca da sustentabilidade local

Como parte do reparo da sua responsabilidade na tragédia de 25 de janeiro, a Vale se propõe, portanto, a patrocinar uma bolha sustentável para aquela população. A referência a um dos primeiros pontos de atendimento que criou sintetiza seu objetivo: “Comunidade em Desenvolvimento – a Casa Rosa é um importante espaço de ações para o desenvolvimento sustentável comunitário do Córrego do Feijão, integrando atividades sociais, econômicas…”.

Toda área urbana do Córrego do Feijão com indicação das intervenções das propostas da Vale – Foto: Reprodução

Barragem da MIB a montante

Todavia, na extremidade Norte da “Área Parque” terá proximidade da barragem de rejeitos da MIB. As suas atividades de extração e beneficiamento de minério ficam a montante do Córrego do Feijão. Portanto, o projeto da Vale, em parte, poderá respaldar a MIB. Bem antes, do 25 de janeiro, era alvo de inúmeras e frequentes denúncias de riscos à população. Mas, com a tragédia e a Vale sendo o foco maior, a outra mineradora ficou esquecida.

Área do Córrego do Feijão quando os bombeiros ainda utilizavam o campo de futebol (embaixo) como base das operações do helicópteros. No alto, a mineradora MIB – Foto:Reprodução/Imagem Google

Nairo Alméri

Ver Comentários

  • Notícia equivocada ! A MIB não possui barragem . Opera licenciada com preenchimento de cavas exauridas com rejeitos desaguados, além disto opera com filtros para desaguamento dos rejeitos para empilhamento a seco , possibilitando o reaproveitamento de 95% da água utilizada no processo.

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