PwC aprovou balanço de 2021 da rede de varejo em fevereiro. Sete meses depois, rombo de R$ 40 bi.
O caso da Americanas S.A. faz lembrar que tanto o mercado financeiro quanto o de outros serviços nem sempre criam um escândalo com DNA diferente. É comum, portanto, repaginarem lambanças antigas. E são, além disso, semelhantes até no modus operandi.
Em 2001, o mercado acionário internacional foi escandalizado com o case Enron Corporation, do Grupo Enron, com sede Houston, no Texas (EUA). A companhia debutava seus 15 anos e superava a barreira dos US$ 100 bilhões em faturamentos. Então, virou uma das queridinhas no mundo dos investidores. E subia veloz em rankings globais do setor energético.
A ascensão relâmpago da Enron, entretanto, virou queda duas vezes mais rápida. Faliu em 2001. As Bolsas de Valores, principalmente nos Estados Unidos, foram nocauteadas. Mas, não sucumbiu sozinha. Arrastou uma das cinco maiores empresas de auditoria e consultoria do planeta, Arthur Andersen, que faliu dezembro do mesmo ano. Toda companhia top de linha sonhava com selo daquela auditoria, bem no alto do balanço patrimonial.
Na Enron, porém, a própria companhia e a Andersen arquitetavam resultados fictícios. Escondiam os prejuízos e, na ponta, lesavam investidores.
O balanço de resultados financeiros da Americanas é auditado pela potente PwC, sigla da PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes. Por sinal, o rateio da carteira da Arthur Andersen, no início deste século, deu expressiva engordada ao portfólio da PwC.
Americanas, conforme revelação preliminar, na quarta (11/01), tem rombo nominal superior a R$ 40 bilhões, entre “inconsistência” contábil e dívidas. O buraco taxativo para 50%, e apresentado de forma subliminar outra metade. Os dinossauros em dívidas nos bancos são principalmente com BTG Pactual e Bradesco.
O inverno dessa hibernação nas contabilidades da companhia findou no balancete do 3T22 (de 30 de setembro). Descortinada por recém-empossados, em 1º/01, presidente, Sergio Rial, e de Relações com Investidores, André Covre. Em mesmo Fato Relevante à Bolsa de Valores B3 (Brasil. Bolsa. Balcão) bombástico, ofereceram denúncias de “inconsistência” no balanço e comunicaram suas “renúncias” aos cargos.
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Em ato contínuo, holofotes do planeta iluminaram a berlinda posta para o maior bilionário do Brasil, Jorge Paulo Lemann. Está lá em companhia de seus dois eternos parceiros em mega negócios, Carlos Alberto da Veiga Sicupira e Marcel Hermann Telles. O trio bilionário surgiu antes da criação da AmBev.
O enredo na Americanas ainda está em investigação inicial. Não permite, então, se afirmar taxativamente que tenha (ou terá) cara, cor e cheiro do caso Enron-Arthur Andersen. Mas, de toda forma, provoca análise, mesmo que preliminar, nesse sentido. O parecer de “consistência”, atestado pela PwC na auditagem do balanço de 2021 da rede de varejo, virou, portanto, contabilidade de areia neste janeiro de tempestades (mais politicas) de 2023.
Na página 2 do Relatório, datado de 22/02/2022, a PwC declarou (praxe) sua autonomia nas relações com clientes. “(…) Somos independentes em relação à Companhia e suas controladas, de acordo com os princípios éticos relevantes previstos no Código de Ética Profissional do Contador e nas normas profissionais emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, e cumprimos com as demais responsabilidades éticas conforme essas normas. Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é suficiente e apropriada para fundamentar nossa opinião”.
Além disso, a PwC deu voto de fé contundente à veracidade nas informações auditadas no balanço da Americanas. “Em nossa opinião, as demonstrações contábeis acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Americanas S.A. e da Americanas S.A. e suas controladas em 31 de dezembro de 2021, o desempenho de suas operações e os seus respectivos fluxos de caixa, bem como o desempenho consolidado de suas operações e os seus fluxos de caixa consolidados para o exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil e as normas internacionais de relatório financeiro (IFRS) emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB)”.
Aquilo, portanto, que pareceu “inconsistência” para Rial e Covre foi visto com outra lupa pelos auditores da PwC. “Com base nas evidências obtidas por meio dos procedimentos acima sumarizados, consideramos que os critérios adotados pela administração para o registro das transações e as respectivas divulgações em notas explicativas são razoáveis e consistentes com dados e informações obtidos” (sic – pg. 3 do Relatório).
Expressões “são razoáveis e consistentes” e “são consistentes” aparecem sempre (bem mais a “são razoáveis e consistentes”) no fecho de cada tópico analisado pela PWC.
Mas, a despeito da trombada, agora, com diretores da Americanas, cabe destacar que fez algumas ressalvas. Entre elas, por exemplo, provisões permanentes para valores não recuperáveis. Aqui abordou investimentos necessários em websites, além de “ágio em aquisição e investimentos e ativos intangíveis ainda não disponíveis para uso”.
Outros tópicos selecionados foram dívidas fiscais e causas judiciais, e, claro, efeitos nas contas do balanço. Sobre o Fisco, expressou: “Adicionalmente, a Companhia possui saldos de imposto de renda e contribuição social diferidos ativos, substancialmente relacionados a prejuízos fiscais e bases negativas de contribuição social e diferenças temporárias, os quais foram reconhecidos considerando as suas expectativas de realização determinadas com base nas projeções de resultados tributáveis futuros”.
A invasão de hackers na plataforma e-Commerce (comércio eletrônico), base de sustentação das receitas diretas da Americanas, recebeu atenção maior da PwC. Ocorreu em 19 e 20 de fevereiro de 2022, portanto, quase coincidindo com a data (24/02) da assinatura do balanço pelos auditores. O caso foi intitulado “Incidente Cibernético” e tratado como “acesso não autorizado”. A análise abordou, os riscos para informações dos balanços: “O acesso não autorizado aos servidores e base de dados poderia acarretar processamento incorreto de informações financeiras críticas necessárias à elaboração das demonstrações financeiras, além de trazer riscos relacionados à segurança da informação e continuidade das operações do E-commerce”.
No imbróglio invasão pirata, a PwC registrou ter recebido “confirmação da administração quanto a impossibilidade, no momento (da assinatura da auditagem do balanço), de mensuração e divulgação de perdas esperadas com razoável segurança”.
PwC e Americanas, portanto, até que tudo seja apurado e separado, figurarão como agentes siameses dentro dos R$ 40 bilhões. No momento, entretanto, ligados de corpo inteiro.
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