Economia

Último ato de Dino e o puxadinho no Senado

A semana da saideira do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB/PCdoB), do Governo Lula (PT), deixa recheios de surpresas. Quais? Surpresas não se anunciam de véspera, e permanecem, existindo, restritas aos autores e parceiros próximos. É, pois, elemento fundamental na vida política.

A virada de página, nesta semana, da Polícia Federal para cima do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), não parece o prato principal. Está mais simples guarnição de entrada neste banquete ao Governo do PT oferecido pelo chef Dino.

Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o “Carluxo” como tratado, o vereador do Rio de Janeiro é investigado em lista enorme de acusações e atos. O conjunto da obra, portanto, exibe a sua joia: “Abin paralela”. O ministro da Justiça rumará, então para o Supremo Tribunal Federal (STF) com o velho bordão: “sentimento da missão cumprida”.

Dino será mais um “ministro da casa” no Supremo

Como se dizia no Governo Fernando Henrique (PSDB) para Nelson Jobim (P/MDB), Dino será mais um “ministro da casa (do Planalto)” na galeria política do STF. A Corte, atualmente, incorpora cor, cheiro e alma de Partido. Com mérito, pois, pode solicitar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a ficha de inscrição.

Dino deixará para Lula uma Polícia Federal com menos cara do desmonte imposto por Bolsonaro, que a desfigurou como entidade de Estado. “… a minha PF”, bradava Bolsonaro. Agora, pode-se dizer, então, que exala cheiro de PF do Lula.

A pedra bem-posta em ninho bolsonarista, além de fragilizar, de vez, o olhar satânico de “Carluxo”, posicionou Dino no alto de páginas dos jornais. No jornalismo soçaite, por exemplo, preencheu a falta de assunto nos teles da Globo News.

Lula confiou a Dino encomendas ao balcão franciscano do Senado

A partir de amanhã (1º/02), entretanto, Dino, ex-juiz federal e ex-governador do Maranhão, seguirá no papel de subordinado de Lula. Ao ato final na Justiça, o abraço em Ricardo Lewandowski, erguerá novo puxadinho do Planalto no Senado.

Na transição a STF, com posse dia 22/02, Dino voltará ao Senado. Irá destrinchar um carreirão ordens repassadas por Lula.

A recente aposentadoria de Lewandowski, abriu a vaga tão sonhada por Dino. E não será, pois,, surpresa alguma, se, até às 11h, de amanhã, receber no Planalto algum souvenir de boas-vindas a mais sobre “Abin paralela”.

No remanso dos pernoites de três semanas no Congresso, Dino despachará um busão de agenda de brindes franciscanos: “é dando que se recebe”. Em uma pule de dez, via boca larga do comunista gourmet, o petista perfumará a “casa” com um passe extra, um saco de bondades. O vale tudo para avançar projetos do Executivo.

O pacotão Dino, é fácil adivinhar, engordará a legião de mercenários acampados na Praça dos Três Poderes. Tudo segue a reza que vem do Governo José Sarney (1985-1990).

Acima de Pacheco e Lira; serviçais de Bolsonaro e Lula

Dino circulará pelo Congresso com fardamento virtual de primeiro-ministro. Feito estátua de Stalin, fará sombra à crista do nariz do mineiro Rodrigo Pacheco (PSD-MG – eleito pelo DEM). Pacheco presidente, ao mesmo tempo, Senado e Congresso.

Dino despejará sobre os pares olhar da certeza de ser, de momento, o No 1 naquele inservível cine Brasil.

Pacheco, assim como Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, são crias da alquimia de Bolsonaro. Agora, servem fácil ao Lula, mas impondo-lhe tudo que couber no portfólio de negociatas do Congresso.

O par de chefes das duas bandas do Congresso se serve e oferta milkshakes com cobertura de nata do fisiologismo. Esse é o eixo principal na medíocre política brasileira. Nesse ambiente, Pacheco e Lira foram, em dezembro de 2022, escudeiros e obreiros de primeira hora nos conchavos da “transição”.

Surfaram, portanto, do bolsonarismo para um petismo. Lula implorava governabilidade. Os dois tiraram proveito, impondo a contrapartida das suas permanências.

Outro ‘dono’ da PF e com folga no STF

O alongado último ato de Dino no Senado, pode-se igualmente prever, funcionará como corda de relógio que Lula tanto esperava. Rodará cebolões de bolso acorrentados no Legislativo e Judiciário.

Além de tomar para si a Polícia Federal, Lula baterá forte no peito e, nos olhos e sorrisos, se exibirá orgulhoso: o meu STF

Vale perguntar, então, diante das eternas imposições do Executivo ao Legislativo e Judiciário: qual a servidão da Suprema Corte aos legítimos anseios da sociedade? Há muito, virou letra morta o conteúdo do Artigo 2o da Constituição Federal 1988: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Vale só no papel.

Missão contra Sérgio Moro: vingança de Lula

Na melhor performance pelo PCdoB (migrou para o PSB, em 2021), Dino se elegeu governador do Maranhão, em 05/10/2014. Derrotou caprichosamente a oligarquia do ex-presidente José Sarney (Arena, PDS, PFL… P/MDB).

Dono daquela bagagem histórica, agora entrará triunfante no Pleno do STF: sultão do Maranhão. Será portador de sagrada missão de Lula, bordada na altura do pleito: destruir senador de Sérgio Moro (União-PR).

Julgamento às vésperas da chegada de Dino ao STF

O pedido de cassação do senador entrou em pauta no TRE-PR. Está com julgamento marcado para 19/02, ou seja, três dias antes da posse de Dino no STF.

Se consumar esse capítulo contra Moro, Lula terá, portanto, consagrado a principal obsessão da campanha de 2022: vingança exemplar contra quem o mandou para cadeia da PF, de Curitiba (PR). Dino, então, faria jus à estrela de honra ao mérito do PT. Mas, poderá ser promovido à galeria superior, se ajudar no caminho para o ex-colega passar a residir em algum cárcere imundo – fácil de se encontrar.

Operação Lava Jato

Em entrevista ao Uol, em 12/05/2017, Dino defendeu volta de Lula, já investigado em denuncias de corrupção. Todavia, somava, em parte, no clima do apoio da sociedade às ações do combate à corrupção. E afirmou: “A Lava Jato tem esse mérito de jogar luz sobre isso, e a minha esperança é que isso se corrija”.

Nairo Alméri

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