O governador Romeu Zema (Novo) encerra sua administração 2019-2022 colecionando alguns absurdos. Entre os últimos, o projeto de um monumento, em tese, às 270 vítimas da tragédia causada por rompimento de barragens na Mina Córrego do Feijão, em Córrego do Feijão, Brumadinho, em 2019. Entretanto, bem distante do local da tragédia. Ficará nos gramados da Cidade Administrativa. Provavelmente, ao alcance do nariz do governador em seu gabinete.
Mas, na verdade, será bem mais um marco político do chefe do Executivo ao acordo de indenização com a Vale S/A, dona da mina, de R$ 37,68 bilhões, de 4 de fevereiro de 2021.
O dinheiro indenizará parentes das vítimas 270 mortas e população afetada diretamente. Mas a fatia superior do dinheiro do acordo foi para cofres dos órgãos públicos. Zema, então, se vangloriou disso, em discursos e mídia de seu governo: “maior da América Latina”. Agiu, portanto, de forma consciente (ver adiante). Agora quer um monumento pra chamar de seu.
A tragédia na Mina Córrego do Feijão surgiu com o rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro B1, na serra do Pico três Irmãos. A avalanche de lama arrastou equipamentos pesados – composição ferroviária, veículos, máquinas – estruturas de prédios, árvores etc. Em alguns trechos, correu com velocidade superior a 60 km/h (CBMG). Entre mortos, empregados da Vale, de empresas terceirizadas, de fornecedores, residentes em áreas próximas e quem transitava pela estrada no entorno mina. Três anos depois, os bombeiros ainda procuram seis corpos. RELEMBRE AQUI.
Zema determinou ou acolheu sugestão para que o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais (Iepha) lançasse, em 20 de janeiro, o Edital Concurso Cultural 01/2022 para a criação de um monumento àquelas vítimas. Será “(…) em memória às vítimas da tragédia ocorrida pelo rompimento de barragens da Vale S.A. em Brumadinho”. “Objeto: O edital tem a finalidade de promover um concurso para selecionar proposta de monumento, na forma de marco, coluna, totem, forma vertical etc.”.
A chamada pública abriu prazo para entrega das propostas entre 25 de janeiro e 31 de março. Nesta terça, entretanto, o Iepha, sem justificativa, o prorrogou até 29 de junho. Mas, claro, bem mais próximo das eleições. Zema, até aqui, é pré-candidato à reeleição.
O Edital do Iepha sustenta: “O local escolhido para a instalação deste monumento, Cidade Administrativa de Minas Gerais Presidente Tancredo Neves, é muito simbólico, uma vez que o governo do Estado traz para sua sede, ponto referencial para todo o estado de Minas Gerais e para o Brasil, o monumento com a temática da tragédia ocorrida, demonstrando assim, sua importância e deferência pelo poder público” (sic).
O governador sabe, todavia, que, no “Projeto Território Parque” (mercado comunitário, centro de cultura e artesanato etc.) a Vale constrói o “Memorial de Brumadinho” às vítimas da tragédia no Córrego do Feijão. Pelo cronograma, será concluído até 27 de dezembro próximo. O Parque Território impacta mais de 50% da área urbana do arraia.
A chamada pública do Iepha, portanto, terá espaço de destaque nos anais dos gastos públicos com as vaidades de governantes.
O “Acordo Global de Brumadinho”, teve, portanto, Vale, de um lado, e Governo de Minas, Ministério Público Federal e Estadual e TJMG do outro. Ou seja, envolveu diversos entes públicos. Não apenas o Executivo mineiro. Gerou muita expectativa na população afetada.
Entretanto, desde as primeiras horas, Zema passou por cima da dor de milhares de pessoas. Investiu na busca dos dividendos políticos. “Governo Zema e Vale fecham maior acordo de reparação da América Latina”, publicou no site o Partido Novo, em 04/02/2021. A administra estadual, sem perda de tempo, fez mídia. Ou seja, se vangloriou com os bilhões extraídos da lama e a custa de vidas.
Gesto, portanto, de extrema insensibilidade considerando-se o fato gerador: tragédia. O governador, então, fez disso um troféu para marcar sua administração, sua conquista política.
“Trata-se do maior acordo de Medidas de Reparação em termos financeiros e com participação do Poder Público já firmado na América Latina, totalizando R$ 37,68 bilhões, e um dos maiores do mundo”. Trecho a publicação, em 04/02/21, da Agência Minas, órgão de mídia oficial do Estado. O partido refletiu bem a comemoração que Zema.
O pedido inicial à Vale eram R$ 54 bilhões – danos socioeconômicos, morais e difusos. O valor acordado atenderia indenizações diretas e indiretas (reconstrução e construção de infraestruturas diversas), intervenções em áreas do crime ambiental, TACs em outras partes do Estado etc. A administração Zema abocanhou R$ 11,06 bilhões. E elegeu algumas obras: trem metropolitano de Belo Horizonte, Rodoanel Metropolitano, hospitais, reaparelhamento do Corpo de Bombeiros.
Parte do quinhão do Estado, era carimbada para municípios. Portanto, em 30 de agosto passado, Zema armou palco no repasse de R$ 1,5 bilhão a 853 municípios. Utilizou o teatro do Palácio das Artes, com presença de aproximadamente 500 prefeitos.
“A primeira parcela do acordo de Brumadinho está na conta das prefeituras. Nós, gestores públicos, temos a obrigação de fazer com que esses recursos sejam direcionados para o bem do povo mineiro”, ressaltou Romeu Zema, lembrando que o termo é considerado como o maior acordo reparatório já firmado na América Latina em volumes financeiros e com participação do Poder Público” (sic Agência Minas). LEIA AQUI.
Mas, claro, a atitude do governador causou indignação à população do Córrego do Feijão, de familiares das vítimas das diversas localidades, estados e do exterior. Não desejavam ver a tragédia em palanques. Isso ficou claro em redes sociais.
O dinheiro com o tal totem, o mimo bancado por verba que virou pública, seria melhor empregado em ações junto àquela população.
Além dessas questões, o governador Zema coleciona um rosário trapalhadas. No início de 2020, por exemplo, com a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) acelerando em contaminação e mortes pelo país, seguiu o Jair Bolsonaro, um negacionista. Aceitou, além disso, a tese louca do chefe do Planalto, de “imunidade de rebanho”.
O governador, na época, além ir contra isolamento sanitário, defendia que as pessoas seguissem vida normal e deslocamentos pelo Estado. Em videoconferência ao XP Investimentos, em abril daquele ano, aderiu receita contágio e que seria, portanto, benéfico que “(o vírus) viaje um pouco”.
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