A Polícia Civil vai investigar pichações que pregam morte de jornalistas após denúncia feita pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas e da Casa do Jornalista. A iniciativa foi tomada pelo chefe do 1º Departamento de Polícia, delegado Wagner Salles, após reunião com os dirigentes sindicais nesta quinta (14), em Belo Horizonte.
O objetivo é apurar e identificar o autor das pichações pregando e incitando a violência e morte de jornalistas. Um tapume do Hospital das Clínicas, na região hospitalar da capital mineira, foi pichado na madrugada dessa quinta com palavras de ódio contra os jornalistas.
“Colabore com a limpeza do Brasil matando um jornalista todo dia”, diz a pichação no tapume que cerca o local onde é feita a triagem de pessoas suspeitas de contaminação pelo Covid-19. As mensagens foram logo cobertas por cartazes, feitos pelo Sindicato, em defesa dos jornalistas e do jornalismo.
Logo após, eles foram retirados pelo Hospital das Clínicas e os tapumes foram pintados novamente. De acordo com a assessoria do hospital, a chuva do começo da tarde danificou os cartazes, e o hospital teve que pintar rapidamente para que a pichação não voltasse a ficar visível.
O delegado que investiga o caso disse que todos os esforços serão empreendidos para tentar apurar o responsável pelas pichações. Segundo ele, as ameaças atingem a toda uma classe de trabalhadores e “também à democracia”. De acordo com Salles, serão requisitadas imagens das câmeras de segurança da região na tentativa de identificar quem está pregando a violência contra os jornalistas.
Assim que tomou conhecimento das pichações, a presidenta do SJPMG, jornalista Alessandra Mello, esteve no local para registrar as pichações e tentar localizar imagens das câmeras de segurança. Em frente ao local, existem câmeras instaladas em um comércio local. Segundo o gerente, cujo nome vai ser preservado por questões de segurança, as imagens ficam guardadas por dez dias e podem se requisitadas pela Polícia ou pela Justiça. Todas essas informações foram repassadas à Polícia Civil.
A direção sindical também conversou com o procurador de Justiça José Antônio Baeta de Melo Cançado, que se colocou à disposição para acompanhar as apurações sobre esse ato de violência. Cópia das imagens e do boletim de ocorrência serão encaminhadas ao Ministério Público.
“Não é a primeira vez que pichações ameaçam de morte jornalistas mineiros. Durante a ditadura, a sede do sindicato foi invadida e as paredes pichadas com frases de ódio e incitação de crimes contra jornalistas. Nessa toada, não será a última vez que isso acontece e, como sempre, não ficaremos calados e não seremos intimidados. A liberdade de imprensa, o direito à informação são garantias universais e vamos sempre lutar por isso, em defesa da nossa profissão e da democracia”, afirmou a presidenta Alessandra Melo.
Ao comentar as ameaças, o presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus (PV), repudiou o fato. “Tentativas criminosas de intimidação à imprensa representam uma afronta a toda sociedade. A Assembleia também se sente atacada pelas ameaças feitas hoje a jornalistas, de maneira sórdida e covarde, em pichações de muros e tapumes, em Belo Horizonte”.
Como ele, um dos líderes do Partido Novo e do governo Zema, deputado Guilherme da Cunha, reconheceu que “não existe democracia sem imprensa LIVRE”.
A exemplo dessas, outras manifestações foram feitas de apoio e solidariedade aos jornalistas por diversas entidades, movimentos sociais e organizações não governamentais. O presidente do Tribunal de Justiça de Minas, desembargador Nelson Missias de Morais , também repudiou as manifestações antidemocráticas e defendeu a independência dos jornalistas como um dos pilares da democracia. “Apesar de funções distintas, a Imprensa e o Judiciário são fundamentais ao Estado de Direito e à defesa do cidadão”.
A escalada da violência contra jornalistas tem tomado uma proporção assustadora desde que os governos estaduais e municipais determinaram medidas de confinamento. Desde que foi decretado o confinamento na capital mineira, esse é o quarto caso de tentativa de intimidação do trabalho dos jornalistas. Repórteres de diversos órgãos de comunicação têm sido vítimas de tentativas de intimidação e ameaças durante a cobertura da pandemia. Todos os casos estão sendo levados ao conhecimento das autoridades para que as agressões sejam coibidas.
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