De todos os depoentes e acusados, a CPI da Cemig avalia que três deles estariam em situação mais complicada que os demais. São o diretor de Regulação e Jurídico, Eduardo Soares, o empresário e dirigente do partido Novo, Evandro Negrão de Lima Júnior, e o diretor CemigPar, Maurício Dall’Agnese . Eles devem ser incluídos na lista dos indiciados em relatório que será apresentado na próxima semana. O primeiro é apontado como o responsável pela emissão dos pareceres jurídicos que deram sustentação às diversas irregularidades em contratos sem licitação.
Até mesmo o escritório paulista de advocacia do qual ele foi, ou ainda é, sócio foi contratado fora dos padrões legais. Há informações, entre os deputados, de que, embora tenha se desligado formalmente, Soares mantém vínculos com o escritório.
O segundo seria a ponte da ingerência partidária nas decisões da Cemig, mesmo sem ter cargo na empresa ou no governo. Evandro Negrão adiou seu depoimento de quinta-feira passada, alegando viagem, e pediu para comparecer nesta terça (15), para depor. Segundo o deputado Professor Cleiton, a CPI aguarda que ele se apresente voluntariamente, após receber duas intimações e não comparecer.
Se não se apresentar, ele automaticamente entra no relatório da comissão como indiciado, conforme explicou o deputado. A linha de investigação o coloca como interlocutor do governo e da estatal de energia em contratações sem licitação. Na quarta passada (9), a gerente de Compras de Materiais e Serviços da Cemig, Ivna de Sá de Araújo, admitiu à CPI que seu marido, o empresário Carlos Alberto Araújo, é sócio de Evandro.
Os dois têm, segundo ela, uma empresa de geração de energia que teria negócios com a Cemig, a TRZS Energia e Participações Ltda.. A direção da estatal nega que tenha relações comerciais com essa empresa. Depois do Legislativo, Evandro deverá ter problemas com o Judiciário, onde acumula desgastes por suas pregações de enfrentamento junto ao governador e de descumprimento de decisões judiciais.
Além deles, foi convocado para esta terça (15), Maurício Dall’Agnese, diretor da Cemig Participações Minoritárias (CemigPar). A CemigPar cuida das participações acionárias da estatal em outras empresas. Uma suposta estratégia de desinvestimento, com a venda de ativos importantes e consequente descrédito da Cemig, para viabilizar politicamente sua privatização. Essa é outra linha de investigação da CPI.
Os deputados consideram suspeita a venda da participação da Light na Renova Energia, por R$ 1, em outubro de 2019. A Light ainda tinha a Cemig como sua acionista majoritária naquele ano. A Renova Energia é uma empresa de geração de energia renovável.
Em janeiro de 2021, a Cemig também vendeu, em condições suspeitas, o restante de sua participação na Light, a principal empresa de energia que atua no Rio de Janeiro, por R$ 1,37 bilhão.
Em depoimento à CPI da Cemig, Cledorvino Belini, ex-presidente da empresa estatal de energia, revelou ter discordado da decisão de venda da Renova. Essa teria sido a razão pela qual se absteve de votar para aprovar a operação, quando ainda fazia parte do Conselho de Administração da Light. Ele renunciou à posição logo depois do fechamento do negócio.
Chegou ao conhecimento da CPI que, apenas quatro meses antes da venda, a Cemig teria recebido uma oferta de compra da empresa de energia renovável por cerca de R$ 480 milhões.
Ex-presidente da Light, Luis Fernando Paroli também relatou à CPI que sempre entendeu que a venda da Renova por esse valor acordado não era a melhor opção.
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