Sem dedicar uma linha à polêmica aquisição de 58% do capital total do Banco Master, o Conselho do BRB – Banco Regional de Brasília, convocou os acionistas para Assembleias AGO/E em 09 de maio. O BRB acertou pagar R$ 2 bilhões pelo Master.
A operação, entretanto, está pendurada no Banco Central (BC) e no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). E pior: o Master negocia uma cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para carteira de “moedas podres”. Ou seja, títulos que tradicionalmente o mercado financeiro refuga.
Nesta quinta (17/04), o jornal Valor Econômico estimou em R$ 33 bilhões o saldo de moedas podres do Master – ações do capital de companhias em dificuldades, precatórios e direitos creditórios.
Respingos da política
Além do BC e Cade, holofotes de um pool top de entes públicos estão sobre o BRB. Na lista figuram o Ministério Público de Contas, Ministério Público do DF e Territórios, Tribunal de Contas do DF, Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público Social (Prodepe). A Câmara Legislativa do DF também tirou partido.
Enorme barulho, portanto, induz ausência de transparência razoável na operação BRB-Master. Além disso, é visível o esforço para se evitar desconfianças de um potencial escândalo com raízes profundas na política.
André Esteves, dono do BTG Pactual, ofereceu R$ 1,00 pelo Master. No mundo dos bancos, ofertas assim significam que a instituição no foco é um elefantão em moedas podres. Depois, Esteves negou tal oferta. Comportamento típico do jogo no mercado financeiro, onde cabe anunciar fumaça, mesmo onde não há fogo.
O controlador do Master, o mineiro Daniel Vorcaro, porém, não ficou desamparado. O Governo do Distrito Federal acenava com bilhões. Além disso, uma cadeira no Conselho do BRB.
DF começa a enxergar o mico no Master
A luz amarela para o Master foi acesa diante das captações agressivas no mercado. Até o 3T24, pagava ao investidor ao redor de 140% do CDI em rendimento anual. Isso, portanto, excedia em muito o máximo, de 120%, entre bancos de mesma faixa.
O tempo, porém, nublou para o banco de Vorcaro, quando o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) freou a queda dos juros. No Brasil, de imediato, o Copom inverteu a trajetória: retomou a elevação na taxa básica de juros do BC, a Selic.
Esse cenário criou aperto de liquidez para o banco.
O Governo do DF, todavia, pareceu não ter nem se importado. Em explicações rotas, o próprio governador, Ibaneis Rocha (MDB), anunciou que o Master abriria novos nichos. Entre estes o do ingresso do BRB na arena dos bancos digitais.
Todavia, com o negócio avançando em ambiente de fumaça de escândalos, Ibaneis tratou de criar uma janela de fuga. De imediato, por exemplo, depositou o potencial mico sobre a mesa do diretor-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. Até declarou que pediu auditoria e atenção para “moedas podres”: papéis da dívida pública e precatórios.
BTG foi ao presidente do BC
Inconformado com os sinais de que os produtos do Master que lhe interessavam escapavam, o dono do BTG cumpriu agenda (31/03) no BC. Conversou, pois, com o presidente, Gabriel Galípolo.
Nos governos Lula 1 e 2, Esteves era chamado de “o banqueiro de Lula“.
Galípolo foi colocado no BC pelo petista. O chefe do Planalto dedicou dois anos de campanha sem trégua a Roberto Campos Neto, antecessor do seu escolhido.
Consignados na Aeronáutica e Exército
O pacote do Master para o BRB inclui o Will Bank (nome fantasia da Will Financeira S.A. Crédito, Financiamento e Investimento) e o Credcesta. Este último é um cartão consignado “exclusivo para atender Servidores Públicos, Aposentados e Pensionistas”.
O Master surgiu no mercado em 1974, como Máxima Corretora, uma CVTM. Cresceu com várias incorporações. Em fevereiro de 2024, criou seu braço digital ao assumir o controle do Will Bank, que tinha operações concentradas no Nordeste.
Mas se o Master vinha quebrado, como sobreviveu até aportar no estaleiro Governo do DF? Uma resposta, talvez, venha dos bastidores da política.
O banco de Vorcaro está, por exemplo, carregado em operações de consignado para militares da Aeronáutica e do Exército. Os contratos em vigor com as duas forças vão, respectivamente, até abril de 2026 e janeiro de 2027 (Fonte: MD).
Enfim, a expectativa é se o Ministério Público Federal (MPF), de fato, se aprofundará na questão.
Assembleias serão virtuais
Pensando, então, em precaução contra protestos públicos, o Conselho do BRB determinou que as Assembleias AGO/E serão “de modo exclusivamente digital”.
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