Arte, como investimento financeiro, no Brasil e em outras praças importantes do mundo, padece de transparência e organização: política, econômica, gestão etc. Para se ter uma ideia, a referência mais recente sobre a formação do mercado, investidores, galerias etc., data de 2016 e trabalha com dados até 2012. É o livro “Arte e Mercado no Brasil”, da FGV Projetos, de 2016, reúne informações básicas até 2012. “O país tem todas as ferramentas. Falta um descobridor (investidor) perene”, disse, na condição do anonimato, ao ALÉM DO FATO o proprietário de uma galeria de arte de Belo Horizonte.
Brasil é só 1% dos valores negociados
Belo Horizonte tem 9% das galerias do país, segundo a “Pesquisa Setorial Latitude”, usada pela FGV. Isso dá ao mercado mineiro de arte uma fração irrisória no bolo financeiro do mercado global aceito como “auto-regulamentado”, estimado pela FGV Projetos em US$ 60 bilhões anuais. Disso, 1% é o Brasil. Mas a estatística, como salienta a publicação, não é confiável. Pesa nisso o fato de que quem adquire uma obra, a maioria dos casos, preza pelo sigilo. “Isso, também agrada ao autor”, disse a fonte ouvida por reste site, salientando que, “lamentavelmente, no mundo inteiro, obras de arte são utilizadas para lavagem de dinheiro”.
Desencontros estatísticos e críticas de Oscar Araripe
As estatísticas não se dão as mãos. A Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact) informou que, em 2016, o mercado de arte do país iria bem, apesar da recessão, e movimentou R$ 500 milhões. O Governo, por sua vez, via Secretaria de Comércio Exterior, informava a exportação crescente, e, que, nos doze meses em maio de 2017, o Brasil colocou no mercado externo acima de US$ 226,4 milhões (+14,3%) em obras de arte.
“Os artistas plásticos, de um modo geral, só pensam em seus blá-blá-blás e na sua carreira. Raramente opinam e nem são chamados a opinar. Aceitam serem explorados pelas entidades culturais em troca de uma exposiçãozinha quando muito quinzenal. Os Governos, os empresários, usam a Lei Rouanet para se promoverem e enriquecerem as gráficas e os donos do entretenimento. Usam a Lei Rouanet sem pudor para investirem neles mesmos. O Brasil, os empresários, as universidade são todos avaros, não premiam, não incentivam, não honram os que merecem, enfim, duvido que o Instituto Lula ou o Instituto FHC ou a Universidade de São João Del Rei estejam pensando em agraciar a cultura brasileira com uma Medalha de Resistência Cultural…”.
A crítica é de Oscar Araripe, artista plástico, jornalista, escritor, advogado e tradutor, em entrevista ao site “Panorama Mercantil”, em 6 de abril de 2016. Nascido (1941) no Rio e radicado e há anos radicado em Tiradentes (MG), ele tem formação cultural pouco comum. Nesta quarta (18/09), daqui a pouco (19h30), o artista abre mais uma exposição individual (“Oscar Araripe Colecttion“), em Belo Horizonte, em galeria no Ponteio Lar Shopping. Conhecido como o “Mestre das Flores”, seu tema marcante, nas Olimpíadas de Londres, representou o Brasil na cerimônia de abertura da exposição oficial da Olympic Fine Arts 2012. A exposição reuniu 500 artistas de 80 países. Oscar Araripe ganhou medalha de ouro por sua participação com a tela “As Flores Abraçam o Mundo”. A obra, adquirida pelos organizadores da mostra, foi para o “Memorial das Olimpíadas de Londres”.
Arte concentra negócios em São Paulo
Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro são o “eixo” dos negócios com obras arte. Incluindo Minas Gerais, os três estados do Sudeste são 80% das “operações” do mercado brasileiro de arte. As galerias ficam com 79% e os leilões 21%. As transações se dão de forma “regional”, ou seja, não são amplamente divulgadas pelo país, o que pressiona as cotações para baixo. De acordo com a publicação da FGV, 26% das operações foram com preços inferiores a US$ 3 mil; 61%, entre US$ 3 mil e US$ 50 mil. E que, não encontrou cadastros de vendas acima de US$ 350 mil, em 2012.
Mas nem o Cadastro Nacional de Negociantes de Obras de Arte (Cnart) refletiria a realidade dos negócios. Esse registro é compulsório para os comerciantes de obras de arte. Ativos, no Brasil, a FGV registrou 1.946 marchands e 149 leiloeiro. A Pesquisa Setorial Latitude, de 2013, aponta que 57% das galerias de arte estão em São Paulo, seguido pelas capitais Rio de Janeiro (28%), Belo Horizonte (9%), Porto Alegre (2%), Curitiba (2%) e Recife (2%). O livro “Arte e Mercado no Brasil” (216 páginas – 1ª edição, 2016) apresenta textos de curadores e professores como Frederico Coelho, Ligia Canongia, Daniela Labra, Felipe Scovino e George Kornis, além de especialistas da FGV.
Pela Portaria Nº 396/2016, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), as vendas acima de R$ 10 mil, de forma obrigatória, devem ser declaradas ao Cnart – formato público, gratuito, on-line e obrigatório. Todos os “negociantes de arte” devem comunicar Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) as chamadas “operações suspeitas”.
Fundos de investimentos estão chegando
O educador financeiro capixaba André Bona, da AB Educação Digital (professor de Alocação de Ativos, na PUC-RS, na pós-graduação de Finanças, Investimentos e Banking, e da equipe do BTG Pactual), faz incursões pelo tema mercado de arte. “Investir em obras de arte vale a pena?”, questionou, há três meses. Ele diz que o pequeno investidor pode começar com R$ 500,00, adquirindo telas, gravuras, fotos e outras peças de variados artistas. “Quanto mais renomado o artista, mais cara se torna a obra de arte”.
André Bona atesta que os fundos de investimentos em arte cresceram no Brasil, nos últimos anos. O primeiro deles, para artes plásticas, surgiu em 2010, o Brazil Golden Art, teria atraído acima de 70 investidores. O grupo somou aplicações de R$ 40 milhões no fundo, que possui acervo de mais de 600 obras de arte. “No ano passado, o fundo da gestora Plural Capital possuía mais de 540 obras de arte de mais de 300 artistas brasileiros. O acervo do fundo era composto por obras de artistas “blue chips” – nomes consagrados no mercado das artes – e “small caps” – artistas emergentes, cujas obras devem valorizar nos próximos anos”, escreveu.
O educador destaca que a meta do Brazil Golden Art é reunir um acervo de 2 mil trabalhos até 2020. Mas alerta: “Os investidores interessados, no entanto, devem ficar atentos à liquidez do fundo: o prazo mínimo para o resgate do investimento é de cinco anos”.
MODIFICADO ÀS 22h32
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.