O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), longe da costumeira agressividade dos palanques do ABC paulista, mantém a pauta das eleições da Venezuela, mas sem acusar o chavismo de fraude. O petista tenta, assim, evitar um ridículo internacional maior. Um deles, não passar recibo de fantoche do seu Partido dos Trabalhadores (PT).
Mas, se, por um lado, consegue benzer feridas internas, abertas por radicais ideológicos do partido, fora do país, no universo das democracias, a história é outra. Lula promove isolamento crescente da diplomacia brasileira. Agora, leva pedradas de ex-aliado de carteirinha.
E o silêncio pontual, recentes, de plagas do topo do poder do planeta deveria, igualmente, incomodar ao Planalto.
As eleições na Venezuela (28/07) caminham para o 30º dia. E o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) chafurda em pocilga do ditador chavista venezuelano, Nicolás Maduro.
Lula e Maduro, entretanto, têm o compromisso de não brigarem. Eles aprovam o papel de cada um nesse cenário de faz de conta. Os dois se dão. Amizade sólida de duas décadas.
Lula, como todo o planeta, viu aquilo que as nações democráticas apontam como fraude no processo das eleições tocadas por Maduro. O “observador” despachado pelo presidente brasileiro, o ex-chanceler Celso Amorim, assistiu in loco, em sala vip. Foi recebido em estrutura e honra do chavismo, em Caracas.
Mas o PT os mantém cegos.
Lula, Amorim e Maduro estão em mesmo bote. Cada um rema ao seu estilo (ou falta de). Mas, viajam unidos nos objetivos: tentar, pelo cansaço da ladainha das Atas das eleições, fazer o mundo se esquecer do antes, durante e pós-eleições de julho. Ou seja, que o mundo ignore a repetição venezuelana de métodos de repressão, perseguição e mortes de opositores.
O ditador da Rússia, Vladimir Putin, comanda todos. Mas este anda ocupado em seu joguinho de guerra real e a reação da Ucrania, em solo russo. Putin põe gelo em sua vodka e sugere aos asseclas latino-americanos doses maiores no “chá de camomila”. Na véspera do pleito fajuta, o chá foi a receita de Maduro para Lula.
O sandinista Daniel Ortega, da Nicarágua, foi escalado por Putin, para lançar algumas bolas nas costas de Lula. Ortega, então, põe mais cor e cheiro na meleca bolivariana, espólio deixado por Hugo Chávez, o Maduro. E puxa Lula para mesmo lago.
Ortega estreou no circo mandando embora a embaixadora do Brasil. Ficou de bom tamanho, pois, Lula revidou em igual moeda. O ditador da América Central entrou na política, no final dos anos da década de 1970, como herói nacional revolucionário. Mutou, entretanto, para tirano.
Ortega foi apoiado financeiramente (dinheiro do BNDES) nos dois governos do petista, na abertura deste século. Mas, com fardas do chavismo, acusa os governos Lula 1 e 2 de banhados por elevado grau de corrupção.
A referência do nicaraguense, certamente, está embasada nas investigações, processos e condenações a partir da Operação Lava Jato. Isso dá munição aos adversários de candidatos apoiados pelo PT nas eleições municipais de outubro.
O chefe do Planalto, todavia, finge não ter assistido ao vídeo de Ortega. Rodou até em zap de Marte. E vai manter o seu papel (até o limite tolerado por Moscou), de abanador, a baixa altitude, do cartaz da cantilena das Atas do chavista.
Os documentos, se é que se pode chamar assim, carregam apuração do Conselho Nacional Eleitoral Venezuelano (CNE). Este é um cantinho fedorento mantido por Maduro.
O mundo, todavia, não se deixa enganar. Sabe que Lula, no fundo, prefere as Atas não pareçam. O recente pleito bolivariano embalou vícios de sempre do chavismo. Teve, portanto, mesmos início, meio e fim abomináveis dos anteriores.
Além disso, conhecer o conteúdo (seja qual for) do papelório venezuelano não mudará o curso da história. Motivo: Putin (e o PT de carona) não quer outro enredo.
Lula, Amorim, Maduro, Putin, Ortega e a silenciosa ditadura de Cuba estão satisfeitos. E, fraternos, escorregam em tobogã russo até pintar a próxima diversão de Moscou.
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