Em 1982, lições com Tancredo e Barbacena livre - Além do Fato Em 1982, lições com Tancredo e Barbacena livre - Além do Fato

Em 1982, lições com Tancredo e Barbacena livre

  • por | publicado: 30/09/2022 - 19:16 | atualizado: 07/10/2022 - 15:33

Tancredo Neves (E) e José Sarney (D), eleitos indiretamente, em 1985, presidente e vice. Era o fim da ditadura militar. Em pé, deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP), que viria a presidir a Assembleia Constituinte de 1988 - Crédito: Arquivo TSE

PMDB toma o poder na Barbacena dos Bias e Andradas”. Esse o título do Jornal do Brasil, em 20/11/1982, para um resultado importante na política de Minas Gerais, nas eleições daquele ano. Somado à vitória de Tancredo Neves (PMDB), o Estado contribuiu para o conjunto de fatos nos ensaios por mudanças na vida do Brasil. Há 40 anos.

Mas, a trajetória imaginada emperrou. Perdeu para conchavos, casuísmos, fisiologismos. A história tem, até o presente, páginas, assim, para inúmeros políticos, de todos os partidos.

O eleitor, mais uma vez, então, olhará para as urnas, no domingo (02/10). E, novamente, sem associar candidatos a um só programa de governo sério. Não apresentaram plano de negócio para o país. Trouxeram o mesmo de sempre: alicerces para causas pessoais e grupos aliados.

Apesar de 1982, o país não conseguiu, no entanto, romper a polarização, entre o passado indesejável e um presente intolerável em democracia. .

Portanto, não há horizonte para, ao menos, se abrir vertedouros como em 1982. Naquele ano, encorajados por transformações, os eleitores expurgaram correntes de pensamentos de políticas encardidas, culturas do Século XIX.

Um dos marcos que deu volume e possibilitou deletar personagens, foi a coincidência das eleições municipais, estaduais e federais. Entre as exceções, entretanto, continuava para Presidência da República, retomada em 1989, espera de 29 anos. A última escolha livre, até então, foi a de Jânio Quadros, em 1960.

Queda dos Bias e Andradas; subida de Brizola, Tancredo e Montoro

Os generais iniciaram a ditadura de 1964, com a derrubada do Governo João Goulart. Apanharam feio em 1982. Na tentativa de sobrevida à hegemonia de correligionários, plantaram casuísmos como, por exemplo, do mandato tampão, de dois anos prefeitos e vereadores, que findariam em 1980. Argumentaram a necessidade de prazo para adequação à Reforma Partidária, de 1979, que permitiu criação de partidos.

Até então, funcionava o bipartidarismo das legendas autorizadas pela ditadura: Arena (virou PDS) e MDB (PMDB). Entretanto, a legislação dos militares excluía eleições para prefeitos nas capitais e municípios considerados áreas de segurança nacional – estâncias hidrominerais, com usinas e fronteiriços.

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Mas, era forte a sede nacional por mudanças. Em Minas Gerais, engrossaram a bandeira, as vitórias de Tancredo e do candidato de mesmo partido à Prefeitura de Barbacena.

“Esta vitória, perseguida há 10 anos, é importante porque estamos derrubando duas dinastias hereditárias com aproximadamente 100 anos de poder”, assim o professor Lídio Nusca explicou ontem a sua eleição para a prefeitura municipal pelo PMDB — derrotando o candidato dos Andradas — e a vitória do Senador Tancredo Neves para governador, ganhando do Deputado Bias Forte”. Do JB, no Caderno ELEIÇÕES, edição de 20/11/1982, quando as apurações definiam os eleitos, das Câmaras Municipais ao Congresso Nacional.

Reprodução Jornal do Brasil – Caderno Eleições, edição de 20/11/1982, página 08

Aquelas foram a segunda eleições diretas para o governadores dentro da ditadura. Além de Tancredo, os militares engoliram seco as vitórias de Leonel Brizola (PDT), no Rio de Janeiro e Franco Montoro (PMDB), em São Paulo.

Generais ruminavam derrotas na GB e MG, em 1965

No pleito de 1982, os militares ainda tinham na memória as derrotas nas eleições diretas para governadores de 03 de outubro de 1965. Elas foram limitadas ao Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Minas Gerais, Guanabara, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás.

Os opositores ao golpe arrancaram das urnas vitórias emblemáticas na Guanabara, Minas Gerais, Santa Catarina e Mato Grosso (ainda não desmembrado).

Em MG, sucesso de Israel Pinheiro (PSD), adversário do governador Magalhães Pinto (UDN), pilar dos golpistas civis. Na GB, de Negrão de Lima (PSD) em cima do candidato de Carlos Lacerda (UDN), outro esteio civil do golpe. Portanto, vitórias de dois colaboradores do ex-presidente Juscelino Kubitschek, eleito em 1955 pela UDN.

Mas, por vingança, os generais acabaram com as eleições para governadores.

De Sarney a Bolsonaro: casuísmos, impeachments e prisões

A última escolha presidencial indireta, via Colégio Eleitoral, foi em 1985. Mesmo expediente das sucessões entre os ditadores. Tancredo (PMDB) derrotou, então, Paulo Maluf (PDS), candidato dos generais. Mas, doente e hospitalizado na véspera da posse, não assumiu. Seu vice era José Sarney (PFL).

Tancredo sempre teve como aliado o deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP). Presidiu a Câmara de 1985 a 1989, e a Assembleia Constituinte, pronunciando célebre discurso da promulgação da Nova Constituição, em 05 de outubro de 1988.

Sarney carregava cheiro dos quartéis. Subiu ao Governo do Maranhão, 1965, apoiado pelo 1º ditador, general Castelo Branco. Agora, como ex-aliado dos militares, teve, então, que pegar a faixa largada em cima da mesa da copa pelo último ditador, o general João Figueiredo.

Político de práticas de senhor de engenho de cana-de-açúcar, Sarney criou caixas de rosários de casuísmos. Na Constituinte, por exemplo, derrotou (junho de 1988) opositores históricos da ditadura e emplacou cinco anos ao seu mandato.

E vieram as eleições presidenciais de 1989. De lá para cá, o país tropica em políticas desonestas e tempos tenebrosos: escândalos políticos, renúncias, prisões e cassações de mandatos de presidentes. No atual governo, ameaças às instituições, levantando fumaças golpistas.

Daqui a dois dias, portanto, pela nona vez, pós-1964, o povo cumpre o calendário da escolha de Presidente da República. Até aqui, foram eleitos Fernando Collor (1989), Fernando Henrique (1994/1998), Luiz Inácio Lula da Silva (2002/2006), Dilma Rousseff (2010/2014) e Jair Bolsonaro (2018).

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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