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Lições das Américas com dois velhos e um ‘maduro’

  • por | publicado: 02/08/2024 - 14:38 | atualizado: 12/08/2024 - 20:16

Sem pisar no Brasil desde 2015, ainda no Governo Dilma, o ditador Maduro recebeu abraço fraterno e honras de Estado de Lula, em maio de 2023 - Crédito: Marcelo Camargo/EBC/Agência Brasil

O mês de julho deixou cicatrizes profundas nas políticas das Américas. Principalmente para os Estados Unidos, Venezuela e Brasil. Políticos foram confrontados com as suas idades (ver adiante). Tolerância do Governo Lula aos regimes ditatoriais extrapola limites para um país que vive em democracia.

Na maior potência economia e militar do planeta, os Estados Unidos, o cidadão Nº 1, o presidente Joe Biden (81), fez pouso forçado fora da pista de reeleição. Preço que pagou pelos tropeços no debate com o antecessor, o republicano Donald Trump.

Uma avalanche de avaliações, incluindo o próprio partido, o Democrata, desqualificou Biden. Ele, portanto, avistou, bem acesa, a luz vermelha do cruzamento do desejo de seguir hóspede da Casa Branca por mais uma temporada.

A sentença mais cruel, sem dúvida, apareceu na capa da revista britânica The Economist. E justo no 4 de julho, Dia Independência dos EUA. A publicação exibiu um andador, sugerindo que Biden está velho.

A bala de prata, todavia, veio dias depois. Entrevista montada para Biden ensaiar uma lanternagem nos amassados do debate, chamuscou ainda mais sua foto. Ele confundiu o nome da vice, Kamala Harris. A chamou de Trump. De vez, então, uma tormenta exemplar, de costa a costa, varreu as pretensões do presidente.

O próprio Biden, então, passou o boné à vice, que irá representar os democratas no próximo 5 de novembro.

Lula mordeu a isca; surfou em mais trapalhadas

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (78), sentiu os respingos da derrota de Biden antes das urnas. O fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) tem planos para 2026.

De cara, o petista tentou descolar das comparações com a idade de Biden. Até que, no início, tirou meia sola de vantagem.

Todavia, o modo trapalhão do petista em diplomacia internacional criou embaraços dentro das eleições (28/07) na Venezuela. A coisa destrambelhou no dia seguinte do pleito.

Lula é amigo do ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Mesmo diante de todas as evidências da fraude e repressão violenta às manifestações de oposição (com mortes e prisões de centenas), o chefe da sala principal do Planalto seguiu atestando “normalidade”.

Chefes de Estados e Governos de diversas democracias repudiaram a autoproclamação de vitória de Maduro e, depois, o atestado passado pelo Comitê Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE). Mas Lula diz esperar pelas atas de apuração. Elas foram engavetadas por Maduro.

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Amorim voltou de Caracas pior que na partida

O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e atual assessor internacional de Lula, ajudou a enxovalhar mais a imagem do Brasil. Retornou de Caracas com um pacote chavista e avaliações absurdas. Amorim é outro amigo de Maduro.

O ex-ministro deu sua versão aos fatos em entrevista à RedeTV. E, sem surpresas, avaliou que “o clima transcorreu surpreendentemente calmo no dia da eleição”.

A única “decepção”, disse, é a demora da CNE em divulgar as atas. Mas, sentenciou pró-Maduro: “A oposição consegue colocar dúvidas (irregularidades do Governo Maduro e da CNE), mas também não consegue provar o contrário…”

Lula enviou Amorim para “fiscalizar” as eleições montadas pelo ditador. Brincadeira.

“…O problema é que a Venezuela, em função de tudo o que já aconteceu, em qualquer país, o ônus da prova cabe a quem acusa. Mas, no caso da Venezuela, o ônus da prova tá em quem é acusado, ou quem é objeto de suspeição. …. Em função de tudo que já aconteceu, enfim, de todo quadro político, há uma expectativa de que a Venezuela possa provar, o governo venezuelano possa provar, a votação que alega ter sido”, disse Amorim.

Nesse trecho da entrevista, portanto, Amorim traduziu a torcida do Governo do PT, de que o chavista convença o mundo da lisura do pleito. Só pode ser brincadeirinha achar que Maduro apresentaria documentos verdadeiros – honestos.

EUA, sem as atas, proclamam derrota de Maduro

A oposição venezuelana, de posse de boletins, supostamente da CNE, concluiu 67% dos votos para Edmundo González, adversário de Maduro. As atas desses boletins é que o CNE, por imposição do ditador, se nega a entregar para auditagem. O CNE atestou que o ditador obteve 51% dos votos, contra 44% d oposição. Mas, não divulgou as atas.

Na quarta-feira (31/07), de boa, Maduro revelou que o seu partido, o PSUV, tem 100% das atas. E se dispôs a levá-las ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para “perícia”. O Tribunal, entretanto, é controlado por ele.

Ontem (01/08), porém, o Governo dos EUA, via secretário de Estado, Antony Blinken, se antecipou e divulgou nota em que reconhece a vitória da oposição venezuelana. Washington julgou suficiente a contagem dos votos em atas obtidas pela oposição e a avaliação do Centro Carter, dos EUA, sobre a fraude.

Lula segue sob rédeas do Diretório do PT

É nessa gôndola de oferendas caducas que Lula flutua. E tenta vender aquilo que acredita ser a verdade suprema. No mundo do petista, portanto, não cabem anseios por liberdades do povo do país vizinho nem censuras a Maduro. Por isso o Brasil se absteve em votação na Organização dos Estados Americanos (OEA) e derrubou moção.

Antes desse cafofo todo em defesa do chavista, o petista deu salvo-conduto a torcedor do Corinthians para bater na mulher. O chefe do Planalto é corintiano. Mas o clube não tem culpa disso, claro.

A vantagem de Lula sobre Biden é que ele ainda atende aos interesses do Diretório Nacional do PT. No dia 30/07, o comando do partido, em Nota Oficial, se antecipou ao Planalto (pode até ter havido combinação nisso). A agremiação da estrela vermelha reconheceu primeiro a reeleição proclamada pelo chavista. Ou seja, seguiu as ditaduras de Cuba, Nicarágua, Rússia, China, Irã, …

Lula explode, por dentro, cheio de vontade de assumir de público a nota PT. Mas deve ter sido alertado de que seria um estrago maior aos candidatos apoiados nas eleições de outubro. Os tropeços diante da Venezuela, certamente, serão munições para adversários, principalmente nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro.

Dentre os três personagens de julho na política das Américas, o menos chamuscado ainda é o tirano. Além da fidelidade dirigente petista, é untado por armas, conselheiros militares e dinheiro do ditador da Rússia, Vladimir Putin. Biden não confronta o russo.

Lula, por sua vez, dá polimentos em coturnos do ex-chefe da KGB, a polícia política e espiã de Moscou. E, para um alívio maior, falta à opinião pública no Brasil uma The Economist.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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