Economia

Milhões na miséria e os bilhões t de grãos

A Forbes, com dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento e Preços (Conab), fez excelente reportagem para os bilhões de toneladas de cereais em safras do Brasil, mas ignorou exemplarmente a miséria. O saldo, na verdade, foi homenagem indireta à vitoriosa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), por tantos sucessos. A Conab é também competente na conta dos levantamentos e gráficos didáticos – bem informativos.

Em resumo, a publicação desfraldou o business, a sua praia.

O nariz da publicação não sentiu o cheiro da miséria crônica histórica em que vivem quase quatro dezenas de milhões de brasileiros (no link adiante). Ignorou, na outra ponta, que a cadeia do agribusiness é altamente subsidiada pelo Tesouro Nacional. Além disso, concentradora de riqueza. É assim, do campo às gôndolas dos supermercados.

Mais uma vez, então, Forbes passou trator sobre a lavoura da miséria, para louvar o chavão furado: o empresário brasileiro do campo “alimenta o povo na cidade”. Povo no sentido da pobreza.

Imagem ilustrativa – Documentário “Histórias da fome no Brasil”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) – Crédito: Reprodução/Youtube

Miséria sempre sobe palanques e aparece nos TREs

Conab e Embrapa, estatais do Ministério da Agricultura, de fato, são surpreendentes na execução de seus objetivos. Muito além da competência de seus experts, todavia, um fator é determinante nisso: a pouca interferência dos males das políticas dos mandantes nos governos – presidentes da República, ministros da Fazenda e Agricultura, parlamentares do Senado e da Câmara Federal etc.

Diante disso, uma pergunta palpita: se, por um lado, governos e toda gama de políticos acertam com a Conab e Embrapa, por não obstruir na gestão, por que erram feio no combate à miséria? Simples. Com um calendário de eleições a cada dois anos, os políticos precisam da miséria viva transbordando em seus palanques. Nela reside uma galinha de ovos de ouro, ou seja, as manadas com seus votos (obrigatórios) depositados nas urnas.

Os números enchem as cestas dos populistas nos mapas dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), oficializados na rede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nem Lula nem Bolsonaro desejam o fim da miséria

Acabar com o coletivo da miséria – a fome e péssimos serviços na saúde e ensino etc. – será um tiro no pé para os políticos. Por isso, o presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT) e seu antecessor Jair Bolsonaro (PL) convergem em que o Bolsa Família e o rosário de assistencialismos devem ser perenes. E, portanto, para justificá-los, a miséria nacional precisa sobreviver!…

Na última década de safras anuais, o Brasil atingiu 2,415 bilhões t de grãos. Essa a soma feita pela Forbes com os números da Conab. De 2013 para 2023, a safra brasileira cresceu de 188,2 milhões t para 322,8 milhões t (projeção do 12º Levantamento – Conab).

Imagem ilustrativa do Documentário “Histórias da fome no Brasil”/Unicef – Crédito: Reprodução/Youtube

Em mesmo período acima, entretanto, as famílias assistidas pelo Bolsa Família passaram de 14,1 milhões (Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social – MDS) para 21,4 milhões (setembro/2023 – Fonte: Secretaria de Comunicação Social do Planalto).

Em 2033, 390 milhões t. E quantos milhões de famintos?

O Brasil, portanto, seguirá com os recordes em safras agrícolas. Mas, também em assistidos no Bolsa Família e outros despachos. A Conab projeta para safra 2032/2033 colheita de 390 milhões t de grãos (ver no link abaixo). Mas, de outra parte, qual será a população em estado de fome e miséria?

Outra pergunta que não ofende: Estarão vivos, ainda, o Bolsa Família? E sobreviverá o modelo atual de eleger políticos para administração pública?

Nairo Alméri

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