Banco BTG atacou Americanas no plantão da Justiça mas perdeu
O praticamente inevitável pedido de recuperação judicial da Americanas S.A., com rombo e dívidas de R$ 40 bilhões, incorpora o bode no salão nobre de todas as concorrentes no país. Isso porque, os balanços, em geral, passam a ser passíveis das desconfianças para as “inconsistências”. Conforme chamou atenção ALÉM DO FATO, o comunicado da quarta (11/01) da diretoria da companhia admitiu a “inconsistência” (rombo) de R$ 20 bilhões, no balanço de 30 de setembro, mas deixava brecha para outros R$ 20 bilhões.
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Na sexta-feira (13/01), porém, na Justiça, a Americanas confirmou o pior: o buraco é de R$ 40 bilhões (ver abaixo). Portanto, muito acima do valor explicitado no comunicado à Bolsa de Valores B3 (Brasil. Bolsa. Balcão), dois dias antes. A confirmação veio no texto da concessão, pela 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro, da “Tutela de Urgência Cautelar”, ou “proteção judicial”, contra eventuais pedidos antecipados de vencimentos de dívidas da companhia.
O despacho, documento de sete páginas, favorável do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), abre de forma clara sobre o futuro na gestão da Americanas. “Trata-se de Tutela de Urgência Cautelar em caráter antecedente, preparatória de processo de Recuperação Judicial (…)”. Além da Americanas, completa, a solicitaram também a BW2 Digital Lux S.À.R.L e a JSM Global S.À.R.L, com sede em Luxemburgo, na forma de “requerentes em conjunto, como Grupo Americanas”. BW2 é proprietária, além da Americanas, das marcas Submarino e Shoptime.
Os sites das três empresas estão fora do ar.
Banco BTG Pactual quis bloqueio e antecipação de R$ 1,2 bi
O temor das empresas, portanto, ao solicitarem a “Tutela Judicial”, foi também claro: “(…) de que os credores (da Americanas) pudessem promover a execução administrativa destes contratos, já na data de hoje (13/01/2023)”. E percebiam, então, “constrições em suas contas correntes/investimentos, na ordem de R$ 1,2 bilhão, decorrente de compensação operada por credor financeiro”, relatou o juiz Paulo Assed Stefan, responsável pelo despacho 4ª Vara Empresarial. A pressão era, pois, consequência do comunicado da “inconsistência” contábil de 30 de setembro de 2022.
“Essas inconsistências, na avaliação das Requerentes, exigirão reajustes nos lançamentos da Companhia, o que poderá impactar nos resultados finais divulgados nos respectivos exercícios anteriores, com alteração do grau de endividamento da empresa e/ou volume de capital de giro, implicando, por via reflexa, no descumprimento de “covenants financeiros” previstos em contratos, inclusive estrangeiros, acarretando o vencimento antecipado e imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões”. Nesses termos, portanto, na página 01 da concessão da “Tutela Judicial”, a comprovação de que o buraco financeiro era o dobro.
Na página seguinte, o Banco BTG Pactual é identificado como um dos credores que declarou vencimento antecipado de crédito superior a R$ 1,2 bilhão.
Banco ingressou com agravo no TJRJ; negado
Neste domingo (15/01), em agravo de instrumento apresentado ao desembargador do plantão do TJRJ.
Fitch e S&P rebaixam Americanas e reforçam desconfianças
O inevitável pedido de recuperação judicial da companhia, portanto, em até 30 dias, conforme de termina o despacho da “Tutela Judicial”, terá reflexos mais amplos. Põe, por exemplo, sob holofotes informações financeiras dos balanços no leque das redes de varejo. Entram nesse olhar as redes de lojas físicas, de vendas on-line e mistas, caso da Americanas.
Esse estado de coisas é reforçado na decisão, também na sexta, das duas principais agências mundiais de classificação de riscos. A Fitch Ratings e Standard & Poor’s (S&P) Global Ratings de rebaixaram das notas da Americanas. Esses pareceres balizam os investidores. “Segundo a Fitch e a S&P, o rebaixamento é devido às incertezas geradas pela identificação das inconsistências contábeis, conforme divulgado no Fato Relevante de 11 de janeiro de 2023”, afirmou Fato Relevante encaminhado pelo diretor-presidente de Relações com Investidores!, João Guerra.
Bancos querem empenho maior de Lemann, Telles e Sicupura
Americanas tem no grupo de controle, desde 1982, o investidor Jorge Paulo Lemann. O empresário é rico Nº 1 do Brasil e um dos fundadores da AmBev, líder mundial no setor cervejeiro.
Lemann tem como dois eternos parceiros nos negócios os também bilionários Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Os três integram a holding 3G Capital. E, na condição de “acionistas de referência” (mais importantes), então, propuseram aos bancos a capitalização de R$ 6 bilhões na Americanas. Mas, as instituições acham pouco. Pedem, no mínimo, de R$ 10 bilhões.
Americanas está entre líderes do ranking do varejo
Em 2022, o ranking do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar-FIA 2022) colocou a Americanas na 5ª posição pelo critério de faturamento. A listagem foi para as 120 redes maiores,
- Grupo Carrefour (grupo) – R$ 81,1 bilhões
- Assaí – R$ 45,6 bilhões
- Magazine Luiza – R$ 42,9 bilhões
- Via Varejo – R$ 36,3 bilhões
- Americanas – R$ 32,2 bilhões
- Grupo Pão de Açúcar – R$ 29 bilhões
No critério das “maiores marcas”, Americanas subia para 4º posição, atrás da Assaí, Magazine Luiza e Via Varejo, e, à frente do Grupo Pão de Açúcar. Mas, o Ibevar-FIA, pôs a Americanas S.A. como líder entre Lojas de Departamento (R$ 27,6 bilhões). A Lojas Americanas (R$ 32,2 bilhões), liderou em Franquias.
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