Economia

Via Única pretende decolar de Montes Claros; política local

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) está congestionada de pedidos de certificação de novas companhias para transporte de passageiros (certificação RBAC 121) e cargas. Mas, entre os últimos, chama atenção o da Via Única Linhas Aéreas S/A. Apresentou endereço de sede em Montes Claros, principal centro urbano e polo industrial do Norte de Minas.

A Via Única informa ter capital inicial de R$ 50 mil e criação em 14 de dezembro de 2021. Portanto, surge nos instantes em que a Itapemirim Linhas Aéreas – ITA, abandonava milhares de passageiros portadores dos seus bilhetes por saguões dos terminais aéreos.

O site especializado em aviação AeroIn titulou, na terça (10/05), assim a notícia: “Grupo mineiro entra com pedido para criar uma nova empresa aérea no Brasil”. A referência desperta, contudo, para um fato curioso: o endereço comercial da companhia é o mesmo da Funorte Faculdades Unidas do Norte de Minas Ltda. Entretanto, o complexo de empresas no entorno da Funorte não registra experiência em logística aérea. Mas, talvez, no aspecto legal, a cessão de domicílio seja o viés no campo “atividade secundária” da entidade junto à Receita Federal. Tem, por exemplo, “serviços combinados de escritório e apoio administrativo”.

O diretor-presidente da Via Única é o empresário Alexandre Conrado Alves Gomes Dias. De acordo com informações de domínio público (cadastro nacional de pessoa jurídica – CNPJ), em 2018, criou a Regional Linhas Aéreas S/A, em Belo Horizonte. Mas, somente em junho de 2021, abriu processo de certificação na Anac para transporte de passageiros e cargas. A Regional possui capital de R$ 500 mil e continua “ativa” para a Receita.

Conforme informações públicas, a exceção da Via Única, há um rol de outras empresas relacionadas ao Alexandre Gomes Dias com endereço comum, em Belo Horizonte.

Dono da Única tem interesse na aviação regional; startup

Com uma das figuras jurídicas, ACW Aviação & Hotelaria, Alexandre Gomes Dias participou da consulta pública, fevereiro e março de 2021, na privatização do Aeroporto da Pampulha. Foi incisivo no item da “aviação regional”. Direcionou questões sobre voos de aeronaves acima de 30 assentos, e até 80 (ATR72, DASH8-400 e outros). Mas incluiu ainda os modelos Dash 8-100/200 (37 assentos), Emb120 Brasília (30) e Dornier 328 (32).

A Anac registrou, entre outras, a seguinte manifestação de Alexandre Gomes Dias: “Saber o tráfego potencial de rotas como Diamantina, São João Del Rey, Juiz de Fora, Teófilo 56 Otoni, fins compor um business plan para uma startup usando C208B” (sic). C208B é a nomenclatura do modelo de aeronave Cessna C208B Grand Caravan, para nove passageiros, operada pela ex-parceira do Governo de Minas.

O empresário é dono também da Acw Litoral Norte Serviços e Turismo Ltda, ACW Treinamentos (fantasia da Alexandre Conrado Alves Gomes Dias – ACW Treinamentos) e da ACW Consultoria. O endereço eletrônico desta última consta, porém, no cadastro da Via Única na Anac.

As informações relacionadas à privatização do Aeroporto da Pampulha estão no “Relatório circunstanciado acerca das questões suscitadas durante a Consulta Pública”.

Em Montes Claros, há uma Auto Escola Via Única. Teria cedido o nome?

Caso da TwoFlex, projeto político Voe Minas

O executivo da Única pontuou as rotas Belo Horizonte-Montes Claros e Belo Horizonte-Governador Valadares. Mas, citou os aeroportos de Guarulhos, Uberlândia e Porto Seguro. Nesse propósito, objetivou, claramente, acesso às estatísticas do falido projeto Voe Minas, do Governo Fernando Pimentel (PT). Envolvia a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

O TwoFlex voou de 2016 a 2019, até o Governo Zema findar a parceria. Depois disso, a empresa foi adquirida pela Azul. O projeto era muito criticado, pois, o Governo de Minas bancava ocupação mínima das aeronaves. A TwoFlex era dona das aeronaves (Cessna Grand Caravan) e operadora das rotas. Relembre AQUI.

Aeroporto de Montes Claros

A cidade de Montes Claros possui aeroporto que comporta operação de grandes aeronaves. No passado, as extintas Varig, Vasp e Transbrasil tinham a cidade em suas rotas regulares. Mas, há anos, as atuais grandes companhias aéreas não dão peso aquele mercado.

O aeroporto de Montes Claros recebeu obras recentes de melhorias e consta do programa de privatização pela União – Crédito: Marcelo Sampaio/Twitter

O Aeroporto Mario Ribeiro tem pista com 2.100 metros de comprimento por 45 metros de largura e recebe voos da Azul e da Gol. Essas companhias operam aeronaves ATR-72-600 e Boeing 737-700 nas ligações de Montes Claros com Confins, Guarulhos, Salvador e Porto Seguro. O terminal está no programa de privatização.

Presença do empresário e ex-prefeito Ruy Muniz

O empresário Ruy Adriano Borges Muniz, ex-prefeito municipal – eleito pelo PRB, em 2012 – é o dono da Funorte. A entidade foi criada em 1988 e tem capital social declarado (março) de R$ 18,560 milhões. A reitora é Tânia Raquel Queiroz de Muniz, mulher de Ruy e também política. Ela ocupou cargo de deputada federal (PSD-MG) na legislatura 2015-18. Ambos são médicos.

Coligadas à Funorte há um rosário de entidades na área de ensino (mantenedoras de participação etc.), incluindo um hospital (Hospital das Clínicas).

Comprou a Santa Úrsula e investigações do MPF

Na década passada, Ruy Muniz surgiu como grande comprador de instituições de ensino no Norte de Minas. Mas, se expandiu para fora Minas Gerais. Entretanto, a mais emblemática destas aquisições foi da Universidade Santa Úrsula (USU), em 2012, em estágio pré-falimentar.

O casal, entretanto criou vasta enciclopédia de problemas (prisão), em mesmas proporção e velocidade com que expandia os negócios. Além das empresas, eles próprios são alvo de inúmeros processos na esfera federal. Entre estes, pelo Ministério Público Federal (MPF): importação de equipamentos hospitalares.

Além disso, o proprietário da Funorte coleciona atritos no relacionamento alunos. Em 2019, por exemplo, Ruy Muniz bateu boca em protesto dos universitários, por falta de estrutura para residência médica no hospital coligado à fundação.

Nairo Alméri

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  • O programa Voe Minas deixou um rombo de R$ 52 milhões para o contribuinte mineiro. Apoio todas as iniciativas, menos dinheiro do erário para empresa aérea. O nome da nova empresa é terrivelmente feio e sem marketing, mas boa sorte.

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