Assembleia cobra de Zema “cumprimento da palavra” em acordo da Vale Assembleia cobra de Zema “cumprimento da palavra” em acordo da Vale

Assembleia cobra de Zema “cumprimento da palavra” em acordo da Vale

  • por | publicado: 28/06/2021 - 17:24 | atualizado: 29/06/2021 - 12:52

Presidente do Legislativo estadual, Agostinho Patrus (PV), concede entrevista, foto Guilherme Bergamini/ALMG

Ao falar pela 1ª vez do impasse na votação do projeto do acordo da Vale, o presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus (PV), cobrou do governo Zema o cumprimenta da palavra. Em entrevista coletiva, nesta segunda (28), Agostinho Patrus afirmou que o Legislativo está pronto para votar a qualquer momento a matéria, mas com uma condição. “Desde que o Governo do Estado encaminhe à Casa um texto substitutivo cumprindo acordo feito anteriormente com a Assembleia”, pontuou o presidente da Casa.

O Projeto de Lei (PL) 2.508/21, do governador Romeu Zema (Novo), trata da utilização dos recursos do acordo judicial firmado entre o Estado e a Vale. São R$ 11 bilhões dos R$ 37 bilhões pactuados em favor da reparação pelo rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho (Grande BH). A parte destinada ao Governo do Estado (R$ 11 bilhões) será paga em 10 parcelas semestrais de R$ 1,1 bilhão. Os outros R$ 26 bilhões deverão ser aplicados na reparação e indenização diretas a familiares afetados pela tragédia e à recuperação ambiental e econômica da região.

E o que pactuaram deputados e governo Zema? Que os deputados deixariam de fazer emendas individuais em favor da aprovação de apenas uma emenda, coletiva, destinando R$ 1,5 bilhão (dos R$ 11 bilhões) para os 853 municípios mineiros. De que forma? Por meio de transferência especial, sem burocracias e convênios, e com base no critério populacional. Acordo foi feito, mas duas horas depois, segundo ele, o governo recuou, exigindo uma forma de prestação de contas e de fiscalização na aplicação desses recursos aos municípios.

Exigência de convênio

Os deputados entenderam o recuo como descumprimento do acordo e que, a exigência de convênio por parte do governo, seria forma de fazer controle político sobre os prefeitos. Em resposta, retiraram o projeto de pauta, que, agora, só será reapreciado e votado se o governo cumprir a palavra, como disse Agostinho Patrus.

Para chegar ao R$ 1,5 bilhão para os municípios, os deputados discutiram com o secretário de Governo, Igor Eto, sobre a desnecessidade de algumas obras definidas pelo governo. Ao enviar o projeto, Zema apontou o destino de cada recurso em obras, algumas polêmicas e avaliadas como “sem necessidade” para o momento. Agostinho citou, por exemplo, duas delas como a troca da fiação elétrica da Cidade Administrativa (sede do governo mineiro) por R$ 40 milhões.

O outro gasto citado na entrevista previa R$ 310 milhões para contratar pessoal que faria o acompanhamento da execução do acordo. “Conversamos com os secretários e eles concordaram que esses investimentos não apresentam necessidade nesse momento”, disse.

E reforçou: “Buscamos a forma mais democrática e menos burocratizada. Infelizmente, o Governo do Estado não cumpriu essa forma que havia sido acordada. Ficamos muito desapontados quando a palavra deixou de ser cumprida duas horas depois de fechado o acordo. Queremos que o recurso seja transferido de forma direta, equânime e transparente para todos os 853 municípios”, reafirmou o presidente da Assembleia.

Retomada depende do governo

“Se o governo enviar um substitutivo cumprindo sua palavra, a Assembleia está pronta a votar a qualquer momento, não aceitamos é descumprimento da palavra. O fio do bigode ainda vale aqui”, reiterou o parlamentar.

O presidente disse que a ALMG defende que o recurso vá diretamente para a conta do município para “evitar a velha prática do pires na mão”. E ainda, “para que, na pandemia, os prefeitos não sejam obrigados a deixar de atender à própria população para cuidar de papeladas e burocracias, como xerox e autenticações”.

Esse cuidado, segundo ele, garante a distribuição dos recursos independentemente de “apadrinhamento político” e também impediria uso eleitoral do acordo.

Agostinho Patrus garantiu que o repasse feito da maneira como havia sido acordada com o governo não dispensaria a fiscalização de sua aplicação pelos órgãos de controle. Citou, nesse ponto, o Tribunal de Contas do Estado, além das câmaras municipais e o próprio governo por meio da Controladoria Geral do Estado.

O presidente da Assembleia destacou que o repasse direto já ocorre com os recursos destinados à saúde e à educação e ainda o Fundo de Participação dos Municípios. “As contas dos municípios são auditadas e fiscalizadas, o que queremos (para votar o projeto) é só o cumprimento do acordo feito com a Assembleia. Se o governo mandar um substitutivo garantindo isso, será votado”, insistiu o presidente do Legislativo.

“Celeuma não é verdadeira”

Dos recursos previstos no acordo, de um total de R$ 37 bilhões, R$ 11 bilhões são um acréscimo ao orçamento do Estado, se constituindo como receita extraordinária. Na avaliação dele, para que possa utilizar o recurso é necessária autorização legislativa para uso dessa verba.

Nesse sentido, Agostinho Patrus esclareceu que não há R$ 37 bilhões parados porque a Assembleia ainda não votou o projeto, como estaria sendo divulgado. O projeto em análise trata de R$ 11 bilhões.

“Essa celeuma não é verdadeira. Na verdade, o Estado recebeu R$ 1,1 bilhão até agora, esse é o valor (do acordo) que foi depositado e que está hoje na conta do governo”, ressaltou. O deputado ainda lembrou que os repasses do montante acordado com a Vale serão semestrais.

“Para a Assembleia, estamos tratando de questão orçamentária, temos respeito pelos demais poderes. Respeitamos a decisão tomada pelo Tribunal de Justiça e demais entidades e órgãos que participaram do acordo”, disse.

Ele defendeu a necessidade de transparência na destinação desses recursos ao explicar que é nesse sentido que a Assembleia atua para aprimorar o projeto.

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Obras sem valores definidos

Como exemplo, disse ser importante que o projeto detalhe quais são os hospitais regionais beneficiados com recursos, e com que valores. Nesse ponto, o projeto oficial não define.

Outro exemplo dado pelo presidente foi quanto ao previsto para a reforma de estradas em Minas dentro do que foi acordado na Justiça. Segundo ele, não basta que o orçamento traga o montante total, mas especifique em quais trechos serão feitos os investimentos e o valor de cada intervenção.

“É necessário que a aplicação desses recursos esteja no formato orçamentário, que é o que a Assembleia está fazendo”, justificou.

Ao ser indagado sobre outros pontos, Agostinho Patrus classificou de “levianas” as acusações que estariam sendo feitas ao Legislativo. De que a Assembleia estaria atrasando a liberação de recursos do acordo com a Vale ou interessada em ganhos eleitorais.

Ele disse que “são acusações de gente pouco experiente”, ao lembrar que a Casa não está votando o acordo da Vale, mas a destinação do recurso. “Como o faz com qualquer outro recurso orçamentário”.

“Assembleia é soberana”, rebate Zema

Ao comentar a cobrança, Zema disse, em entrevista ao jornal Estado de Minas, que a Assembleia “não depende de nós” e que é soberana. “Teve acordo para abrir CPI. Por que ela não vota o acordo (da Vale)? Então, ela pode fazer isso a qualquer momento, do jeito que ela fez com a CPI. Que ela (a ALMG) avalie lá o regulamento dela, tem soberania, acho que está esquecendo. Ela pode votar a qualquer momento. Não depende do governo. A Assembleia é soberana”, afirmou.

Zema ainda escalou os secretários Mateus Simões (Secretaria Geral) e Luísa Barreto (Planejamento) para manifestar sobre o caso em nome do governador Romeu Zema (Novo). Tão logo, tenhamos o material, iremos divulgar no próximo post.

LEIA MAIS: Zema apela ao MP e Defensoria para destravar acordo da Vale na ALMG

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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marcos

Romeu Zema será reeleito com facilidade, a não ser que aceite ser candidato a presidente