Entre a vontade de ser candidato a presidente da República, em 2026, e a realidade política, o governador Zema (Novo) tem três fortes obstáculos que travam seu objetivo. Na convergência deles, o bolsonarismo está presente. Primeiro adversário: Bolsonaro poderá recuperar a elegibilidade e ser candidato presidencial. Segundo, caso o ex-presidente continue inelegível, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se tornaria o nome da direita. Por último, se a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro for lançada pelo marido caso os dois primeiros fiquem de fora da disputa.
Essas três variáveis formam o cenário desfavorável para a candidatura presidencial de Zema. Por outro lado, superadas essas três barreiras, o governador de Minas se tornaria o candidato da direita, com chances de superar, na escolha, os governadores concorrentes, Ronaldo Caiado (GO) e Ratinho Júnior (PR).
Negociação e porteira fechada
Os obstáculos citados não tirariam Zema do jogo completamente. Poderia se transformar, por exemplo, em um candidato a vice-presidente bastante cortejado. A hipótese vale também para a disputa ao Senado. Ou seja, nessas duas hipóteses, o governador poderia fazer uma grande negociação em nível estadual. Apoiaria, no estado, a chapa presidencial que lhe der a reciprocidade em relação ao seu candidato ao governo de Minas e ao Senado Federal. Em ambos os casos, as futuras candidaturas ao Executivo estadual do vice-governador Mateus Simões (Novo) e do secretário Marcelo Aro (Governo) ao Senado se fortaleceriam bastante. Nesse contexto, a pré-candidatura a governador de Cleitinho Azevedo (Republicanos) subiria no telhado numa negociação nacional.
Consenso da direita
Apesar das variáveis e dos desejos de cada um, os governadores do campo da direita – Zema, Tarcísio de Freitas, Caiado e Ratinho Junior – fizeram um pacto. O de se unirem para tentar derrotar a reeleição do presidente Lula (PT).
Ciúmes de Bolsonaro
Dizem na Assembleia Legislativa que o PL bolsonarista deixou a base do governador por ordem do ex-presidente. Bolsonaro teria ficado insatisfeito com a saliência de Zema em se apresentar e se movimentar como pré-candidato presidencial.
Zema ainda rejeita o Senado
Após passar cinco horas no Senado, ouvindo debates acalorados no dia da votação do Propag, projeto alternativo ao pagamento da dívida de Minas com a União, Zema ratificou sua posição. “Se eu tinha alguma dúvida, agora, não tenho mais. Não quero virar senador”, comentou ele.
TCE impõe maior derrota
O governo Zema poderia estar comemorando os números da Secretaria da Fazenda que dão conta, oficialmente, que Minas arrecadou no ano passado 12,64% a mais do que em 2023. Foi uma arrecadação de R$ 11, 8 bilhões maior. Mas não terá folga ante a maior derrota deste ano. O Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG) deu a pancada ao determinar que o governo volte a pagar a contribuição patronal de 16,5% ao Instituto de Previdência dos Servidores Militares (IPSM). Prevendo a decisão, o governo voltou a fazer o pagamento do percentual desde dezembro passado.
Compensação generosa
Ao julgar a ação judicial da Aspra (associação de praças policiais e bombeiros de Minas), o conselheiro Agostinho Patrus, do TCE-MG, deu uma no cravo e outra na ferradura. Determinou o retorno do pagamento dos 16,5% da contribuição penal, mas retroativo só a junho de 2024. Com isso, os mais de R$ 7 bilhões que o governo tungou do IPSM, desde 2016, ficam anulados oficialmente.
Marchinha da PM anti-Zema
Por causa de divisão interna e constitucionalidades, os policiais militares não fizeram, nem podem, fazer paralisação por melhorias salariais. Para não perder o protesto, seis associações dos militares patrocinaram marchinha de carnaval e vídeo animado com ataques ao governador e a seu vice. “Cadê você, Zema. Você sumiu; aquele aumento, ninguém sabe ninguém viu”, diz o refrão, que é sucedido pelo aumento da arrecadação do ICMS em 12,64%. “Se deu 300% de aumento, mas a segurança, você sempre esquece. Só dá casca de banana para a tropa.”
Causa mortis: ditadura
Familiares dos 434 mortos e desaparecidos na ditadura militar, catalogados pela Comissão Nacional da Verdade, receberão gratuitamente as certidões de óbito de seus parentes atualizadas. A determinação foi dada pelo Conselho Nacional de Justiça, por meio da Resolução 601/2024. A entrega dos novos documentos ocorre desde o mês passado. O CNJ formalizou em janeiro a comunicação ao Operador Nacional de Registro Civil de Pessoas Naturais sobre a medida que autoriza ainda a modificação da causa mortis. O documento deverá informar que o óbito não decorreu de causa natural, mas sim de forma violenta, causada pelo Estado. E mais, que a morte ocorreu, no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política, durante o regime ditatorial instaurado em 1964.
66 mineiros na lista dos mortos
De acordo com o levantamento feito em dezembro passado, há 202 casos de retificação de certidões de óbito e 232 novos registros de óbito a serem produzidos. Familiares ou interessados nas certidões dessas 432 pessoas, das quais 66 são mineiros, não precisarão buscar os cartórios para ter direito ao novo documento. Caberá às corregedorias gerais dos tribunais estaduais onde forem feitos os registros ou retificações efetuarem o ressarcimento do custo aos cartórios de registro civil.
(*) Publicado no Jornal Estado de Minas
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