Ao tentar dar golpe no Estado, agindo como mascate que sai vendendo as joias da coroa, o governador Romeu Zema (Novo) pode estar cometendo suicídio político. Por isso, está cheio de medos. Com medo da reação popular contra a venda de empresas estatais, ele fez Proposta de Emenda à Constituição do Estado para excluir dela a consulta à população. Com medo de não ter maioria qualificada dos votos dos 77 deputados, ou seja 49 (ou ainda 3/5), quer reduzir a aprovação para só a metade dos votos, maioria simples (39).
Zema não gosta da política muito menos dos políticos; tem medo e não confia neles e ainda se acha melhor e mais bem-intencionado. Até então, Zema culpava Agostinho Patrus, ex-presidente da Assembleia Legislativa que deixou o posto para ser conselheiro do Tribunal de Contas, de impedi-lo de fazer o que queria. Julgando que o caminho agora estaria livre, deu o perigoso passo que põe em risco seu futuro político. Seja qual for o desfecho da tresloucada aventura, estará perdido.
Primeiro risco: fim precoce
O primeiro risco é o de não conseguir vender o patrimônio público econômico e social de mais de 60 anos, como a Copasa (60 anos e dois meses) e a Cemig (71 Anos). Mesmo passando por cima das medidas protetivas constitucionais. Essa é a razão pela qual ele quer facilitar o negócio da China. Exemplos desse risco não faltam. Outro dia mesmo orientou sua base parlamentar, que, no papel, tem 57 votos, para rejeitar reposição salarial a policiais e por apenas três votos não perdeu: 36 contra e 33 a favor. Ou seja, se fracassar nessa tentativa, será o fim de seu governo 2.0 no curtíssimo prazo.
Tanto é que para evitar o desastre, tem adotado os conhecidos mecanismos que tanto criticava nos partidos tradicionais: a compra da consciência dos deputados. Todos os dias, o diário oficial do Executivo registra nomeações de cargos indicados por deputados aliados. Em um único dia (10/8), houve mais de 600 nomeações, ante uma média abaixo de 50 no ano. Deputados aliados passaram a ser padrinhos de cargos de segundo e terceiro escalões.
Outro instrumento de manobra poderosa são as emendas parlamentares, liberando recursos para obras indicadas pelos mesmos deputados aliados, elevando o custo público de Minas Gerais.
Segundo risco: história
O segundo risco tem efeito menos avassalador, mas agrava por ser de longo prazo. Se alcançar seus objetivos, Zema dará um passo para entrar na história como o governador que conseguiu vender e acabar com o Estado. Que trocou patrimônios públicos históricos por dinheiro para tapar buraco de estradas. Logo, logo, as estradas voltam a ficar intransitáveis e o Estado não terá mais as estatais que ele entregou.
Tadeu reprova a pressa
Numa postura equilibrada e de advertência, o presidente da Assembleia, Tadeu Martins Leite (MDB), mandou um aviso. “Minas Gerais precisa avançar, se modernizar e se tornar ainda mais competitiva, mas nada será feito às pressas. Os mineiros merecem que esta decisão seja tomada com muito diálogo, responsabilidade e cuidado com o que é patrimônio da população”, disse o deputado no Twitter.
Os deputados estaduais que participarem desse butim correm risco menor, mas as eleições municipais e estaduais consecutivas poderão lhes dar o veredito. Senhor governador e senhores que dizem representar a população, a história costuma ser implacável com aqueles que se omitem, negligenciam e dilapidam o patrimônio público.
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