Um mau sinal para o fim do primeiro mandato e início da segunda gestão de Zema. Na semana que marcou a volta do Brasil ao fórum internacional do meio ambiente, o governador encerra a mesma semana com crise exatamente nessa área. A 45 dias da posse, o presidente eleito, Lula da Silva (PT), marcou posição em defesa da causa ambiental, no Egito, na COP27, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.
Lula pediu nova governança global, criticando o desmatamento e seus impactos para a crise climática global. Zema, ao contrário, permanece na contramão dessa nova realidade que atinge o Brasil diretamente e colhe agora as consequências de sua gestão na área ambiental. Especialmente depois que autorizou, na calada da noite, a exploração minerária na Serra do Curral, patrimônio e cartão postal da capital mineira.
Contra o que chamaram de desmantelamento da política ambiental de Minas, sete conselheiros de fóruns de fiscalização e deliberação renunciaram seus mandatos. E o fizeram com duras críticas ao governo estadual. Eles ocupavam as cadeiras indicadas para associações de proteção ao meio ambiente.
Teatro ambiental
A decisão foi anunciada na última reunião do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Em seguida, eles se retiraram em bloco da reunião plenária. Essas associações representavam a sociedade civil no Copam, no Conselho Estadual de Recursos Hídricos e nas suas comissões. Denunciaram que esses órgãos públicos se tornaram palco de legitimação das “decisões autocráticas” do governo mineiro em meio a um abandono das metas de proteção ambiental.
O governo ainda não se manifestou, mas a crise caiu como uma bomba e deverá repercutir mal na Assembleia Legislativa, entre aliados e opositores, deixando o governo Zema nas cordas. Terá repercussão nacional, e até internacional, após as novas diretrizes e defesas de Lula no exterior.
Deputada acusa aparelhamento
A participação desses membros do Copam era a afirmação de participação democrática da sociedade, mas a crítica é que o governo Zema transformou esses órgãos em faz de conta. De acordo com a deputada Beatriz Cerqueira (PT), a situação é gravíssima. “O governo Zema aparelhou a Semad (Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) para cuidar dos interesses das mineradoras”, acusou a deputada.
Entre os motivos para a renúncia, são citadas ações que fragmentaram ou desmantelaram a política ambiental já existente. Com isso, permitiram o licenciamento de empreendimentos com grande impacto ambiental sem estudos suficientes e sem as precauções necessárias em relação aos riscos envolvidos.
O comportamento do governo é semelhante ao que tem com a Assembleia Legislativa, por suas dificuldades de relacionamento, diálogo e interlocução. Zema deve ter aprendido, neste primeiro mandato, que não dá pra governar sozinho. Precisa praticar o diálogo, a democracia e estimular a participação. Caso contrário, de nada adiantará, como anunciou, ampliar o escritório de Minas em Brasília, para abrir canais de diálogo com o futuro governo federal.
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