Se Zema tiver um marqueteiro sério e sincero (imagina-se que tenha), deve ter ouvido dele um aviso de que, sem tempo de rádio e TV, sua candidatura presidencial não irá prosperar. Desconhecido no país, o governador não terá como apresentar a si e suas propostas. Talvez, por isso, Zema tenha lançado sua candidatura (chamam de “pré” para não brigar com a lei) em São Paulo, no sábado (16), para alcançar mídia nacional a partir da terra do concorrente e governador paulista Tarcísio de Freitas.
É um mau começo, com sintomas de viralatismo, ao considerar que o que acontece em São Paulo e Rio de Janeiro seria melhor do que Minas. Por que não lançar a candidatura em Araxá, dando projeção nacional à sua terra natal? Para citar dois exemplos bem-sucedidos e que deveriam ser copiados, os ex-presidentes JK e Tancredo Neves prestigiaram o próprio estado.
A iniciativa de Zema não foi vitoriosa, observando a baixa adesão nas redes sociais e o desinteresse da mídia nacional. O partido Novo não tem fundo partidário nem tem tempo de televisão e rádio. Aliás, essas são as boas razões para que Zema se lance na aventura presidencial e tente ampliar os votos nacionais da legenda nas eleições do ano que vem. Como bom puxador de votos, e sem a necessidade de confrontação, Zema poderá ajudar o Novo a cumprir a Lei de Cláusula de Barreiras e eleger, pelo menos, 11 deputados federais e ter boa votação.
Pode ajudar, mas não será beneficiado agora. Redes sociais não conseguem dar o recado. Antecipar e lançar a campanha, neste momento, o livra do insucesso futuro, quando a realidade, de mais tarde, o desaconselharia.
Direita tem racha e vaidades
Zema admitiu que sua iniciativa será mais uma para rachar a direita ante a vaidade dos governadores desse campo em lançar candidaturas a presidente. Avalia que, qualquer um deles que chegar ao segundo turno receberá o apoio dos outros para derrotar a reeleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Minas não é mais nem vice
Apesar de todo o esforço de Zema, sua condição de governador mineiro não se impõe no cenário nacional como já aconteceu em outras eras. Nas mais recentes, Hélio Garcia foi convidado a ser vice, em 1989, assim como Eduardo Azeredo, em 1998. Aécio virou candidato a presidente em 2014. Hoje, isso não acontece mais.
PL ignora Zema
À exceção de sua secretária de Desenvolvimento Social, Alê Portela, ninguém mais do PL mineiro prestigiou o lançamento de Zema a presidente. Foram ao evento 13 deputados estaduais aliados, de vários partidos, que tiveram que desembolsar, cada um, R$ 100, para ouvir as narrativas de Zema, como a de não morar em palácio nem lidar com privilégios. Nada disse sobre a renúncia fiscal que dá para o empresariado amigo de cerca de R$ 25 bilhões em 2026.
Oposição: quem é Zema
De acordo com o Bloco Democracia e Luta, de oposição a Zema na Assembleia Legislativa, o governador esbraveja sobre transparência, mas mantém sigilo sobre R$ 25 bilhões em renúncias fiscais. “É o governador que se deu 300% de reajuste, aumentou a dívida do estado em 51% e se recusou, ao longo dos anos, a buscar soluções para Minas Gerais”. E conclui: “O que não é bom para Minas, nunca será bom para o país”.
Indústria do aço desanimada
A indústria brasileira do aço enfrenta dificuldades com a entrada da China no setor, com um produto subsidiado e com preço muito baixo. “A gente vê que no Brasil tem aço chegando nos nossos portos com um preço mais barato, bem menor do que o minério que o Brasil vende para lá”, constatou o CEO da Gerdau, o mineiro Gustavo Werneck, durante palestra no Conexão Empresarial da revista Viver Brasil. Essa situação, segundo ele, desanima o setor, que paga cerca de 30% de tributos federais e vê entrar no país um produto sem nenhuma fiscalização por parte do governo. “O resultado é a diminuição dos investimentos e o enfraquecimento da indústria nacional” advertiu.
Sonegação de R$ 20 bi
Entre 2017 e 2024, os empreendimentos de mineração sonegaram R$ 20 bilhões à União, estados e municípios de onde os minerais são extraídos. Os dados são do Tribunal de Contas da União. Segundo o prefeito de Itabira (Região Central), Marco Antônio Lage, a mineração nunca será sustentável, mas é preciso discutir a sustentabilidade dos territórios minerados. Itabira tem um IDH mais baixo do que a média estadual e é dependente de uma única empresa, a Vale. Municípios mineradores têm custo de vida 40% superior e gastos em saúde pública 70% maiores do que cidades semelhantes sem mineração. “Precisamos deixar de ser território passivo dos impactos da mineração para ser ativos nas decisões sobre nosso futuro”, disse o prefeito durante audiência na Assembleia Legislativa.
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