A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), na última sexta (26/04), até o laboratório da Biomm S.A., em Nova Lima (MG), foi 70% homenagem ao empresário, político e amigo Walfrido dos Mares Guia. Os 30% restantes, mero pano de fundo político, mas que deu chabu.
Teve, claro, relevância a presença do presidente da República ao ato inaugural. E discursar e enaltecer o avanço simbolizado pela fábrica de insulina para o tratamento de diabéticos do país.
Mas, Lula, como sempre, puxou uma tangente e montou palanque eleitoral. Os investimentos e soluções prometidos, ele próprio sabe, que não seriam realizáveis. Isso nem se pudesse extrair metade do caixa líquido equivalente da receita primária total prevista para 2025, de R$ 2,837 trilhões (23,07% do PIB). Principalmente refém do Congresso e tendo que saciar infindáveis emendas de olhos grandes do Senado e Câmara em cima do Tesouro.
E, como sempre (desde o período 2003-2010), Lula verteu o velho discurso raivoso, recheado de pedras. Assim, os momentos de “emoção” (lágrimas e voz embargada) foram sombreados pelos conhecidos arroubos do petista.
A ausência do governador Romeu Zema (Novo) não criou um fato. Ele é bem por aí: um ausente e vazio na administração política do Estado. Quanto ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pré-candidato do próprio umbigo à sucessão de Zema, seguiu no modo da birra, do fisiologismo e da fumaça do fogo de palha. Coisas do cotidiano na Praça dos Três Poderes.
Lula formou um pool de fontes pautas importantes
O presidente da República, sem surpresa, alimentou, então, uma imprensa sedenta por seus declaratórios.
O noticiário perdeu ao não questionar sobre fatos relevantes, em ambiente saturado de ministros de Estado por m2 e outras autoridades do 1º escalão. Na relação com a festa, caberia, por exemplo, abordar com ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), e da Saúde, Nísia Trindade (Cientista), sobre o oligopólio no fornecimento de insulina para o diabetes (excesso de glicose no sangue). Também do porquê de o Governo seguir insensível em outras frentes importantes na saúde. Entre estas, a eterna escassez na oferta gratuita à população, principalmente de baixa renda, de centenas de medicamentos de uso contínuo.
Criou fábrica de insulina com incentivos; vendeu bem
Lula saiu de Brasília carregando uma penca de ministros e deputados. Mas, desembarcou em Nova Lima com a missão principal de abraçar e elogiar em público ao amigo (ver adiante) e empresário Walfrido dos Mares Guia.
Walfrido é a referência e sócio principal da Biomm. Todavia, o primeiro grande negócio direto dele foi o Sistema Pitágoras de Ensino (origem das holdings Kroton e Cogna).
Outro case de sucesso seu foi a pioneira fábrica nacional de insulina, a Biobrás. Um negócio também em família, em Montes Claros, na área mineira assistida pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
A Biobrás foi erguida sustentada por incentivos fiscais e financiamentos públicos. A família vendeu o controle (76% das ações nominais) em 2002. O laboratório multinacional Novo Nordisk, da Dinamarca, pagou US$ 31,4 milhões (R$ 75,4 milhões – valor histórico). O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade/Governo Federal) aprovou o negócio em agosto de 2003, com Walfrido dentro do Governo Lula.
Carreira e os mensalões do PSDB e PT
O empresário chefiou a Secretária de Educação do Governo de Minas Gerais. Depois, se elegeu vice do governador de Eduardo Azeredo (PSDB – 1995-1999). Nessa administração, ocupou a Secretaria do Planejamento.
O mergulho de vez na política veio em 1998. Conquistou uma cadeira na Câmara dos Deputados, pelo PTB-MG. Coordenou a campanha de Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, para Presidência da República, em 2002.
Na esteira dos acertos entre partidos, chegou, no Governo Lula, ao Ministério do Turismo. No segundo mandato (2007-2010) do petista, ocupou a Secretaria das Relações Institucionais, mantendo status de ministro. Mas renunciou, ao ser listado no escândalo “mensalão mineiro”, do PSDB. Lula, de sua parte, vivia às voltas com o “mensalão do PT”.
Jatinho aporte no Instituto Lula
A amizade Lula-Walfrido, entretanto, seguiu. E, por vezes, o jatinho do empresário mineiro serviu ao petista. Além disso, o Instituto Lula, também apinhado em denúncias políticas, recebeu aporte gordo do empresário.
O presidente da República, portanto, soube homenagear ao amigo, pisando em sua segunda fábrica de insulinas. Novamente com financiamentos federais incentivados. A agência de fomento Finep e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) aportaram dinheiro. Custou R$ 800 milhões.
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A Biomm tem ações do capital listadas na Bolsa de Valores B3. Em 2023, apresentou receita de vendas de R$ 118,1 milhões. E seguiu operando no vermelho, com prejuízo líquido de R$ 83,2 milhões, mas suportado pelo patrimônio líquido, de R$ 122,9 milhões. Entre os acionistas estão o BNDES e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
Lula lamentou não ter conhecido Walfrido quando estava com 50 anos de idade (nas eleições de 2002, tinha 57 – 27 de outubro 1945). Disse no momento do abraço, em lágrimas, o seu ex-ministro: “Eu quero que você saiba que você é para mim mais do que um irmão. Você é um companheiro daquele que eu me arrependo de só ter conhecido você depois dos 50 anos de idade”.
Debandada de políticos pró-Lula; tirados da primeira fila
Aos olhos dos fatos, porém, Lula não colheu os frutos políticos desejados para as eleições municipais de Belo Horizonte. Até perdeu.
O nó principal, literalmente no chão da Biomm, foi a debandada de deputados de partidos aliados do PT. Protestaram contra a expulsão deles da primeira fila da plateia. Ficariam de frente e a poucos metros do ilustre visitante. O noticiário político, porém, não se ocupou em análises que o fato suscitou.
O chefe do Planalto também debandou da fábrica. Mas, por certo, deixou um para casa ao PT e aliados: que se acertem até a sua próxima visita (a quinta) a Minas Gerais.
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