O ingresso e comercialização ilegais de sementes da Fundação Procafé, de Varginha (MG), no Peru não incomodam o comércio ligado à cafeicultura daquele país. Em vídeos na rede Facebook, por exemplo, a empresa Agronegocio La Finca de Oro oferece sementes da cultivar Arara.
Mas as publicidades são ousadas. Funcionários do estabelecimento aparecem na recepção das sementes contrabandeadas da Procafé e também comemorado o fato. Agem, portanto, como se não houve crime algum.
Sementes exclusivas para o Brasil
As sementes da Procafé são produzidas com exclusividade para a cafeicultura brasileira. Não podem, então, sair do país. Algumas exigiram até quatro décadas de investimentos e pesquisas em laboratórios e testes em campos de experimentação.
No vídeo do fracionamento das sementes do Arara, o produto é transferido para embalagens padronizadas da La Finda de Oro e pesada. Em outro, funcionário, que aparece nas imagens do fracionamento, comemora a chegada do produto do Brasil.
O ALÉM DO FATO divulgou primeiro (24/09) a denúncia da entidade sobre a exportação ilegal. Acesse AQUI e entenda o caso.
Contrabando fortalece concorrentes a custo zero em pesquisas

La Finca de Oro é classificada como “empresa importadora, exportadora e distribuidora agrícola”. Localizada na província de Jaén, fronteira com a Colômbia, tem peso em insumos da cafeicultura.

Além do crime, no Brasil, a remessa ilegal das sementes da Procafé, há, porém, outra componente grave. Além disso, será usado na melhoria da qualidade de lavouras de países concorrentes com o Brasil. Entre estes estão, por exemplo, Colômbia e Costa Rica.
Vídeos da publicidade do contrabando
Acesse AQUI e assista os vídeos da recepção das sementes da Funcafé que entraram ilegal no Peru (primeiro link) e da comemoração por funcionário da La Finca de Oro (quarto link).
Ministério pede ajuda internacional
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Varginha, Arnaldo Bottrel Reis, enviou a este site os vídeos do fracionamento e comemoração na empresa peruana. O material chegou com as resposta de questionamentos.
Arnaldo Bottrel, também vice-presidente na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), afirmou que a Procafé, há tempos, desconfiava da evasão de suas sementes. Neste ano, todavia, houve “maior volume (de sementes) produzido e comercializado”.
A Procafé, então, formalizou denúncia ao Ministério da Agricultura. O setor de fiscalização do Ministério, de acordo com Bottrel, acionou “autoridades internacionais” para atuação conjunta nas investigações.
Sementes da Procafé se adaptam a qualquer solo
As sementes da Procafé se adaptam a qualquer tipo de solo. Essa característica vantajosa, então, funciona como atrativo ao contrabando. Veja detalhes nas repostas do dirigente do agribusiness representado pela Faemg aos questionamentos:
– Em solos de quais países as sementes estariam facilmente adaptadas?
A Fundação Procafé não possui trabalhos para avaliação da eficiência dessas cultivares em outros países, até porque é contra a finalidade estatutária da Fundação promover pesquisa e desenvolvimento tecnológico em outros países. Mas, existe a possibilidades destas cultivares se estabelecerem bem em qualquer país produtor do mundo.
– Quais retornos das autoridades públicas a Procafé obteve?
A formalização das denúncias foi realizada conforme orientação do Ministério da Agricultura. Agora, os órgãos de fiscalização do Ministério da Agricultura irão analisar de que forma essas sementes estão sendo exportadas, se estão cumprindo com os requisitos legais e fitossanitários, a fim de reunir elementos probatórios que possam subsidiar novas investigações, com o acionamento das autoridades internacionais, e eventual responsabilização futura.
– Quais as providências práticas adotadas até o momento?
Denúncias dos exportadores aos órgãos competentes; notificação extrajudicial aos importadores; campanha de conscientização sobre a importância de não se compartilhar o banco de germoplasma (ativo genético) do Brasil com outros países produtores haja vista que tal medida tende a elevar a competitividade de produtores de outros países concorrentes do Brasil. Enfim, a conscientização está sendo realizada para preservar o que é um patrimônio da cafeicultura brasileira.
Fazem propaganda com nome da Funcafé
– Em que momento (ano) e como a Procafé tomou conhecimento do envio de suas sementes ao exterior?
Já havíamos identificado um ou outro caso em anos anteriores. Porém, esse ano (2025), em função do alto volume produzido e comercializado, tornou-se mais visível que tais ocorrências vem se tornando mais frequentes e em maior volume. Tomamos ciência por meio de relatos de cafeicultores e de alguns clientes, além da identificação em redes sociais de revendedores em outros países utilizando não somente as sementes da Fundação Procafé para venda, mas também o nome da Fundação Procafé para marketing.
– Como foram enviadas e saíram como: por rodovias até países vizinhos, por ferrovia, portos e/ou aeroportos?
Grande parte dos revendedores estrangeiros identificados, se situam na América Central e América do Sul. Portanto, imaginamos que as sementes tenham sido enviadas por frete rodoviário ou, até mesmo, aéreo. Todavia, muito provável que as remessas das sementes ao exterior, além de serem realizadas sem o consentimento da Fundação Procafé, foram feitas sem o cumprimentos dos devidos processos legais e fitossanitários existentes para exportação de sementes.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.