A entrada do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) no Governo Lula, à frente da Secretaria-Geral da Presidência, coloca um elefante dentro da cristaleira vidro, o Planalto. O psolista, no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), viverá o ápice de sua trajetória: mestre de bateria em sua militância política de mobilização de protestos urbanos contra governos (todos).
Boulos, em seu currículo, agitou as ruas até contra o PT. Mas, desde a quarta (29/10), tem sala no Planalto. Na porta, mesmo sem placa, se lê: gabinete do Ministro.
Lula entregou ao ex-adversário (2018) do PT em eleição presidencial o papel de ministro de Estado para o leva-e-traz das suas pregações. Desfilará com status no segundo escalão da República.
- MATÉRIA RELACIONADA:
- Frente de Resistência Urbana promoveu 21 bloqueios em sete Estados – março 2015
Compensando derrota em 2024; acordo
Isso é um plus do petista ao acordo celebrado nas eleições municipais de 2024. No papel, o PT não lançou candidato à Prefeitura de São Paulo, apoiou Boulos. Este, em contrapartida, ficaria fora da corrida presidencial em 2026.
Boulos perdeu outra vez (primeira em 2020) para a prefeitura da Capital de SP. No total, Lula micou em 25 capitais do país. De forma apertada, e em 2º turno, levou Fortaleza (CE).
Leitura dos analistas: 2024 consagrou o antipetismo. O retrato disso veio em um semestre de rejeição ao Governo Lula.
Boulos ficou em quarentena: não havia clima
Apurados os votos, ficou, então, o climão para Lula: como segurar um incontrolável Boulos. Mesmo derrotado, continuou dono de invejável espólio das urnas, em 2022: deputado federal paulista mais votado, com o crédito de 1.001.453 eleitores.
O chefe do Planalto, então, se apressou no anúncio de que o psolista chefiaria uma Secretaria da Presidência.
O presidente, todavia, precisou pisar no freio. Enfrentava um polvo de problemas, entre estes o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Além disso, trabalhava desdobramento do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) pelo Supremo tribunal Federal (STF). E se ocupava também com os cacos de vidro das rejeições do Governo do PT em consecutivas pesquisas de opinião pública.
O ambiente, claro, era de bode na sala. Colocar Boulos no Planalto naquele momento poderia azedar mais ainda os gráficos das estáticas. O histórico do agora ministro tem seu DNA em protestos à frente do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST – um MST urbano).
Sem os evangélicos, Lula apressou Boulos
O melhor para o petista, pois, foi colocar Boulos em banho maria. Esperou por três trimestres. Como algumas alianças não vingaram, principalmente a ferrenha tentativa com parlamentares evangélicos, Lula findou o calvário da espera pelo psolista.
Só no Bolsa Família, votos de 18,9 milhões de famílias

Missão principal de Boulos: bater tambores dos movimentos sociais. Cutucar permanentemente um eleitorado estimado acima dos 40 milhões de votos. Escorado em bilionários gastos públicos dos “programas sociais”. O custo isolado do Bolsa Família é de R$ 12,88 bilhões (Fonte: Governo Federal, outubro de 2025). Conta total, em 2025, R$ 285,8 bilhões.
Caberá, portanto, ao novo ministro jogar com as militâncias de todos becos e guetos da base aliada partidária do PT.
Levantar fumaça pelos quatro cantos
No popular, o psolista lançará lenha enxarcada de gasolina em fogueiras da polarização do “nós contra eles”, “ricos contra pobres”, e até favelas contra a Avenida Faria Lima. E viajará muito com o chefe, até outubro d 2026.
No discurso da posse, o novo braço do chefe da casa, deu uma palinha. Tirou proveito na matança causada pela megaoperação da Polícia Militar do RJ em favelas dos complexos da Penha e Alemão. Contou com clima favorável do momento, de se culpar apenas a PMERJ e o Governo do RJ.
Assim, acredita Lula, Boulos ficará em rédeas curtas.
- MATÉRIA RELACIONADA:
- Boulos toma posse como ministro e fala em “colocar Governo na rua”
Está gostando do conteúdo? Compartilhe!
Fez promessa, mas…
Para acalmar o petista, no começo do ano, ou seja, muito antes de receber crachá de ministro, o deputado paulista jurou que ficará até o final do Governo Lula 3. Ou seja, nem pensaria nas urnas em 2026.
O novo chegado no Governo do PT, entretanto, inspira confiança relativa, em matéria de política. Por isso o petista agiu em paralelo. Lançou um balão de ensaio. para hipnotizar o brilho da ambição dos olhos de Boulos.
Lula espalhou (antes da posse) o recém-chegado será candidato a uma cadeira no Senado.
Assim, talhou outra pedra na busca de sossego na relação com o psolista. Mas, não há certeza de risco zero para uma eventual recaída de Boulos, e ele atravessar em palanques dos presidenciáveis.
Lembrem-se disto: em dezembro de 2022, com o portfólio de deputado federal campeão de votos em SP, descartou virar ministro de Lula.
Ordem é pisar em ovos
Os cautelosos em política conhecem bem o significado de frases populares como “um dia de cada vez” e “atrás de morro, tem morro“. Ou seja, é esperar pelos cacos da primeira espinafrada de Boulos, que chega como mais um trombador dentro no Ministério de Lula.
Overbooking de ´chefes´ de militâncias
O ministério do Governo do PT tem outros broncos em matéria de comandar militâncias. Nessa agenda correm o chefe da Casa Civil, Rui Costa dos Santos (PT), ex-governador da Bahia, e a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), chefe da Secretaria de Relações Institucionais. Palpita também o marqueteiro Sidônio Palmeira (PT-BA), chefe da Secretaria de Comunicação.
Em raia privilegiada, aparece a mulher de Lula, a socióloga Rosângela Lula da Silva (PT-PR), a Janja. Ela criou aresta para o marido até com o maior bilionário do planeta.
Boulos, não se deve esquecer, sempre alçou voo solo. É esperar, portanto, para ver se se sujeitará às ordens de Lula.
Joga no time de Zé Dirceu
A chegada de Boulos ao Governo do PT, todavia, vai além da consagração de um acordo de face do Lula. Por fora, aparece a sombra do bruxo e ex-ministro da Casa Civil do Governo Lula 1, José Dirceu (PT-SP). Este acelera etapas na recolocação de suas digitais no bureau do PT que sempre ditou as cartas para Lula.
Boulos tem o espírito do Zé Dirceu, quando a pauta é puxar agitações nas ruas, provocar militâncias. Portanto, convergem!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

