Nesta quarta (29/01), 14 horas depois do temporal da noite d terça (28/1), o cenário era de destruição em trechos das ruas Bárbara Heliodora e São Paulo, no bairro de Lourdes, Zona Sul de Belo Horizonte. Mesma situação ao longo da Avenida Prudente Morais no sentido da barragem Santa Lúcia. O cidadão zona-sul teve aos pés um pequeno prefácio de tragédia. Nunca comparável, claro, àquilo que passam moradores das favelas, vilas à beira de córregos e de canais de esgoto á céu aberto.
Mas o que se vê, além daquilo que o temporal por si só poderia causar, é mais uma fotografia da precariedade na infraestrutura urbana de escoamento da água avolumada por enxurradas. Todavia, também resultado da falta de educação da população, que joga lixo pelas ruas e avenidas, causando entupimentos das galerias pluviais.
Chuva inundou padaria, sacolão, bancos,…
No trecho entre as Avenidas do Contorno e Álvares Cabral, na sequência das ruas Bárbara Heliodora e São Paulo, todo o comércio de passeio foi afetado. Água e lama invadiram padaria, barbearias, bancas de jornal, salões de manicure e barbearias, farmácias (na Araújo da Praça Marília de Dirceu, água subiu acima de 1 metro de altura), antiquários, academia de tiro, bares, restaurantes, sorveteria, cafés, sacolão, casa de decoração, área de desembarque do supermercado Super Nosso, bancos (Sicob, Santander, Itaú-Unibanco), lotérica, casa de vinho, loja de material elétrico, portarias e garagens de condomínios, lojas de tecido e de vestuário etc.
Mas nada comparável, claro, ao sofrimento, infinitamente maior, da população em outras áreas. Na capital, cidades da Região Metropolitana e do interior, são mais de 50 mortes e quase 40 mil desabrigados e desalojados. Contudo, não se pode ignorar que ficou um cenário de terra arrasada. Crateras seguidas, muitos amontoados de placas enormes de asfalto arrancadas e empilhadas pela própria correnteza do rio que se formou.
Prefeito é eleitor em Lourdes
Muitas pedras (uma, seguramente de mais de 100 kg) e lama no asfalto e passeio. Carros, ainda havia cerca de 20 carros (desde veículos de passeio a vans) por volta das 11h – muitos já tinham sido retirados. A maioria dos veículos ficou em posição de contramão. Grande número de veículos arrastados só parou retido por postes e arvores.
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, até a eleição de 2016, tinha endereço eleitoral na Praça Marília de Dirceu. Será que, agora, fará algum esforço para, nos 11 meses que lhe restam, entregar ao sucessor uma cidade menos vulnerável.
“Eu via geladeira passando, pessoas dentro dos carros (sendo arrastados) gritando por socorro”, relatou uma moradora do prédio 1.710 da Rua São Paulo. Nesse condomínio, informou, a enxurrada atingiu 1 metro de altura.
Kalil disse que Deus mandou a chuva
Em entrevista coletiva, no começo da tarde, Kalil não assumiu toda culpa da sua administração à frente da Prefeitura de Belo Horizonte. Usou o discurso de que nunca choveu tanto na cidade. Foi até áspero nas poucas respostas. Fugiu, dizendo que o volume inundaria Paris, Nova Yok e Boston. Mas ocorre que moradores das margens Via Expressa e do Arrudas residem é aqui, não em Paris.
“Se Deus deu essa chuva para esse secretariado, ele deu o frio conforme o cobertor”, se desculpou o Prefeito. Por diversas vezes em seu discurso (praticamente não houve entrevista), foi assim: mandou a fatura para Deus!.
Mas, Valadão está há 12 anos na PBH
Porém, ao lado de Kalil estava sentado o secretário de Obras de Belo Horizonte, Josué Valadão (PSB). Ele vem no comando da Prefeitura desde a primeira gestão do ex-prefeito Márcio Lacerda (2009-12/2013-16). Com Lacerda, ocupou as Secretarias de Governo, Obras e Infraestrutura e de Políticas Sociais com Lacerda. E fez a transição para a administração de Kalil.
Portanto, há 12 anos administra a cidade. E ocupou cargos diretamente ligados à infraestrutura da cidade. Mas, será que Deus dividirá os estragos da chuva com o secretário?
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