Zema enfrenta a 1ª greve de servidor e Inconfidência vira radiola

  • por | publicado: 04/09/2021 - 17:08 | atualizado: 09/09/2021 - 12:28

Funcionários da Rádio Inconfidência participam de protesto, foto SJPMG

No dia em que completou 85 anos, a consagrada “Gigante do ar”, Rádio Inconfidência, só não ficou fora do ar porque regrediu a uma rádio-vitrola. Sob o comando de piloto automatizado e robotizado, toca só músicas e programas gravados. Desde quinta (2), há uma greve dos funcionários. Como se fosse comum, ou menor, na administração pública, o governo Zema, que controla a emissora, ficou, como os trabalhadores, de braços cruzados, e não chamou para o diálogo.

É como se, publicamente e diante dos perplexos ouvintes, adotasse a estratégia de deixar pra lá pra ver como fica e quem cederá primeiro. Por que eu e milhões de ouvintes da Inconfidência precisam ser tratados com esse descaso e incapacidade de um gestor que se diz mais eficiente do que os outros?

Não fiz assinatura de contrato algum, mas, como contribuinte, contribuo para a manutenção desse importante e histórico serviço público. Fazer 85 anos não deve ser o fim, mas a consagração da sobrevivência de um serviço público qualificado e que virou patrimônio dos mineiros que a seguem. Não se joga fora isso. Ouvi de uma ouvinte desorientada: “mas como assim, ficar sem música de qualidade e informação de credibilidade e atualizada nesse mundo de fake News?”

Paralisação põe bom gestor em xeque

A situação chegou a esse ponto porque os trabalhadores, segundo eles, foram esquecidos e ignorados em suas posições e reivindicações. Quem gerencia funcionários que não reivindicam para melhorar o serviço público que prestam está sendo enganado e, em consequência, enganando o cidadão.

Na área privada, seria até aceitável diante do perfil consumerista do capital, mas, na área pública, soa pouco caso com esse patrimônio cultural mineiro. Enquanto isso, ouviremos músicas e mais músicas, sem informação, entretenimento e cultura, até porque isso não dá para terceirizar. Ao contrário da área privada, o setor público seria péssimo para vender parafusos; ao contrário da área pública, o setor privado é péssimo para priorizar o bem coletivo.

Para quem não sabe da importância da Rádio Inconfidência, talvez, o governador Romeu Zema (Novo) desconheça, ela está no ar desde 3 de setembro de 1936. É uma das mais antigas rádios do Estado e transmite em AM, FM e em ondas curtas que a faz escutada em toda a Minas e Brasil. Nenhuma outra emissora tem esse potencial e capilaridade. Ou seja, para gerenciar, não basta ouvir, tem que ter visão também.

Conheça um pouco dessa história

Não é muito dizer que a rádio é uma das mais queridas pelos ouvintes mineiros. Ao longo da sua trajetória, a emissora foi pioneira em transmissões esportivas, culturais e de entretenimento. Já teve as presenças, por exemplo, de grandes nomes da música brasileira, como Ângela Maria, Cauby Peixoto e Carmen Miranda. Nos anos 80, foi a melhor intérprete cultural do Clube da Esquina e, na política, da Nova República numa manifestação de coerência e identidade com Minas, com o país e com seu tempo.

Por ser pública, a Inconfidência ainda ocupou nesses 85 anos o importante papel de abrir espaço para a diversidade dos artistas mineiros. Foi também a primeira emissora em Minas Gerais a ter uma mulher narradora de futebol. Ainda assim, de acordo com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas (SJPMG), algumas de suas características democráticas mais marcantes passam por sérios obstáculos.

“Programas tradicionais foram retirados do ar e funcionários demitidos. A falta de investimento assola a emissora, assim como problemas com a gestão”, diz o Sindicato, em manifesto contra o que chamou de desmonte da emissora, que depende do governo do Estado.

Plano de cargos em segredo

Na mesma nota, informa que reestruturação nos cargos e carreiras, por meio de novo Plano de Cargos e Salários, deverá ampliar desigualdades e a terceirização dentro da rádio. O comando da Empresa Mineira de Comunicação (EMC), que gerencia a TV Rede Minas, além da Inconfidência, pretende adotar a medida. Segundo o Sindicato, as propostas estão mantidas em segredo pelo comando da emissora e que os funcionários ainda não puderam ter total conhecimento ou participação.

Já se sabe que o plano pretende acabar com a carreira dos radialistas concursados da rádio e entregar suas funções a empresa terceirizada. Na regra de progressão de carreira (aumento salarial), os trabalhadores com ensino médio estão sendo excluídos, atingindo em cheio os operadores radialistas. Logo eles, que colocam a rádio no ar todos os dias.

Além disso, os trabalhadores reivindicam tratamento igualitário entre servidores concursados aos cargos “de confiança”, nomeados pelo governo estadual para o comando da rádio. Enquanto os funcionários em geral estão sem aumento desde 2019, o comando da rádio aprovou para si uma reposição salarial equivalente a 11 anos. Atualmente, 18 desses trabalhadores recebem 40% de todo gasto com a folha salarial.

O que é comunicação pública?

Além da paralisação por tempo indeterminado, os trabalhadores da Inconfidência protestaram na sexta (3) na sede da emissora, no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte. O ato foi convocado pelo SJPMG e pelo Sindicato dos Radialistas/MG, em defesa da comunicação pública e da valorização dos profissionais concursados.

De acordo com o Sindicato, o protesto foi feito contra “a política nefasta de ataques ao trabalhador e ao serviço público do governo Zema, que só pensa em privatizar, terceirizar e precarizar”. Além disso, congelar salários dos concursados.

LEIA MAIS: Sindicatos acusam Zema de trocar concurso por terceirização na EMC

“Para os concursados, a proposta é zero de aumento, zero de reposição da inflação, zero de progressão salarial, congelamento, e terceirização das carreiras dos radialistas concursados. Tudo feito sem diálogo, às escondidas do trabalhador, ignorando completamente o princípio da transparência pública que deve reger empresas e todo tipo de órgão público”, aponta o SJPMG.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Leigo

Se não estiverem satisfeitos façam como na iniciativa privada, peçam demissão e procurem outro emprego nas inúmeras rádios existentes no mercado.

Márcio

Caro “Leigo” (não haveria codinome mais coerente!), os profissionais da Rádio Inconfidência não são uma casualidade; ESCOLHERAM pertencer a uma história que, nessa semana, fez 85 de existência. Leigo, certamente você desconhece que boa parte dos profissionais atua em mais de uma área/empresa. Muitos, como eu, também estão na iniciativa privada. Muitos, como eu, concorreram (e foram aprovados) para cargos cuja exigência de escolaridade era bem menor do que a que temos. Ou seja, somos MUITO MAIS do que o concurso previu! E, sim, queremos respeito, dignidade e boas condições de trabalho. O resto, a gente mata no peito e faz com competência. Obrigado!

Paulo Sincero

se vc é tão bom assim, vá pra iniciativa privada, qual o medo de ir para uma empresa privada?
seria pq a mamata la nao é boa? ou pq vc nao seja de fato tão bom e pode ser dispensado…
amigo o POVO nao quer mais pagar o seu salario, racha fora, ja que vc e seus colegas sao tão bons assim!
vai contar outra historia pra boi dormir.
Zema no proximo mandato vai é vender ou arrendar essa porcaria, ai vc que se diz muito bom, vai ter a oportunidade de mostrar essa eficiencia toda, kkkkkkkkk, na iniciativa privada! Blz…

Paulo

No site que eu criei coloquei a “fórmula” para qualquer empresa pública prestar muito mais benefícios a humanidade do que qualquer empresa privada. Peço divulgação http://www.partidodostrabalhadores..net

Márcio

Caro Paulo “Sincero” (o nome de vocês é perfeito!), volte a ler minha primeira postagem: eu JÁ ESTOU na iniciativa privada, além de vários colegas. E, justamente por estar lá, afirmo: não é a natureza da empresa que a faz melhor (não, não é um argumento meu. Está em livros sobre gestão e gerência facilmente achados no mercado editorial).

jose

Caro márcio, uma coisa é certa, greve é coisa de preguiçoso, se não ta satisfeito tenham a hombridade de se demitirem a bem da sociedade, chega de se fazer de vitima com o salario e as obrigações trabalhistas em dia, isso é coisa de esquerdista imprestável. Portanto, saiam e deixem a vaga pra trabalhador, tenham vergonha nas vossas caras!

Leigo

Se não te oferecem o que você acha ideal, de novo, solicite a demissão e como o Paulo sincero disse, vá mostrar sua competência, que você alega ter muita, na iniciativa privada. Tenho certeza que a vaga que não atende suas demandas atenderá as demandas de outra pessoa.

Márcio

Subserviência é o que você propõe, “Leigo”? Não, não sou subserviente. Sou um profissional concursado, que tem o direito e o mérito (alguns adoram esse argumento) de estar onde estou. E, acredite, trabalhador pode (e deve) exigir melhores condições de trabalho. Agora, se você acha um absurdo haver uma emissora pública que consta, inclusive, no livro dos recordes (Guinness), se você acha absurdo uma emissora que veicule a produção nacional, que toque artistas que, mesmo não estando na grande mídia, são internacionalmente reconhecidos, se acha absurdo darmos vez e voz a culturas de regiões mineiras que sequer existem para a grande mídia (e eu poderia falar muito mais, pois muitos são os exemplos), se acha tudo isso, então você deveria ser ouvinte assíduo da rádio, pois uma das missões de um veículo de imprensa público é o seu caráter educativo. Eduquemo-nos, pois, antes que até esse ato seja considerado supérfluo ou coisa de “esquerdista”.

Cidadão Pistola

Parabéns pela inciativa de se candidatar a um concurso que exigia uma formação inferior a sua. Aliás, esse deve ser um dos motivos de sua insatisfação. Não tá satisfeito, pede as contas e vai embora. Não vai convencer ninguém a necessidade do Governo de MG precisar de uma rádio.

Márcio

Caro “Pistola” (gente, confesso, adorei os epítetos), são décadas de luta trabalhista, aqui e mundo afora, para que a subserviência tenha serventia nessa mesa.

Cidadão Pistola

Falou bonito mas não disse nada! “Luta trabalhista” no conforto da estabilidade …
Acredite: a greve de vcs não irá incomodar ninguém. Cuidado para não passarem vergonha! Mas faço coro ao Leigo: não está satisfeito, pede demissão e procura outro emprego.

Arlindo

O governo Zema é isso aí.
Privilegia poucos funcionários ndicados por sua administração ou contratados e trata a miiria como se fossem um problema.

Cidadão Pistola

Piadista .. ficaram 5 anos sem receber em dia e agora. Cambada de preguiçosos e mal agradecidos. Vai ser reeleito e vai privatizar tudo. Acabou a moleza sindicalistas.

Márcio

Caro “Pistola”, os funcionários da rádio Inconfidência estão há 3 anos sem o reajuste dos acordos coletivos garantidos por lei. E, não, isso não é uma piada.

Cidadão Pistola

Piada é governo ter rádio! Vcs se acham donos do Estado Brasileiro! Sou eu, cuidado pagador de impostos, que pago seu salário. E acho que esse recurso poderia ir para algo mais importante é prioritário.

Ana Clara de Oliveira

Com tantos problemas sociais e o governo ainda cuidada de emissora de rádio. Fecha essa rádio e realoca os funcionários para outras atividades essenciais!!!

Reinaldo

Realmente, pra que o governo de Minas tem uma Rádio e uma TV, se ele gasta milhões na Itatiaia e em outros órgãos como Estado de Minas, O Tempo, Rede TV, Alterosa… Lei da mordaça. Se o melhor e fechar a Inconfidência, por que pagar outras emissoras para se calarem? Se não conhece o sistema melhor se calar.

Cidadão Pistola

Privatiza, fecha, não precisa de rádio pública. Cabide de empregos.

Márcio

Ei, “Pistola”. Aí você disse algo interessante. Cerca de 18 COMISSIONADOS respondem por quase metade da folha de pgto. Os concursados são pouco mais de 60. Onde está o ” problema”?! E, como seu colega Paulo, seja “sincero” em sua resposta.

Cidadão Pistola

O problema está em ter uma rádio com 78 funcionários e comissionados. Se não existir a rádio, não existirá também os comissionados. Simples assim!

Paulo Sincero

nao da pra vender essas porcarias não? em pleno século XXI, tem colunista achando normal o Estado ter rádio que não interessa a mais ninguém de boa fé !

Reinaldo

Caro,Paulo talvez a Rádio não seja de valia para a sua cultura. O Governo gasta milhões em outros órgãos de imprensa como Itatiaia, Estado de Minas… E você nesse mundo de OZ, não percebe. Na sua boa fé, talvez seria bom gastar só com os que não tem mordaça.

Cidadão Pistola

E na sua gastar só com quem você quer. Se a rádio não dependesse do governo, não tinha essa discussão aqui. Se é tão boa assim, deve conseguir vender muito espaço comercial e ser lucrativa. Nem precisaria do governo.

Márcio

Somos públicos e nossa obrigação é prestar serviços, não vender.

Cidadão Pistola

Piadista! Minha obrigação como cidadão é sustentar uma rádio! Eu como cidadão não preciso do seu serviço. Ele não é indispensável! Ou vcs se mantém com as próprias pernas ou fecham.

Tadeu

E porque o Estado deveria ser dono de uma rádio? Isso é gastar dinheiro do povo mineiro à toa! Vende essa rádio e bota esse povo pra trabalhar!

Geraldo Melo

Há muitos anos não escuto rádio. Para mim, rádio pode acabar. Algumas podem virar tv como a jovem pan que infelizmente está cheia de bolsonaristas.

Erivan

Já passou da hora de concursado entender que não existe estabilidade.
Iniciativa privada está de portas abertas. Mostrem os excelentes currículos e a encarem como qualquer um.
Ademais, Rádio e TV tendenciosas não fazem parte da minha audiência.
E essa é única e exclusivamente minha opinião, ok?

Antonio

Parabens Zema,que vc seja Presidente do Brasil.Primeira greve com dez marajas .

Cidadão Pistola

Texto generalista cheio de hipóteses e argumentos emocionais e históricos sem um único dado para comprovar o bla bla bla.
Quem diz se a rádio é boa ou não, é o consumidor, o ouvinte.
Se é boa, deveria ser sustentável e não depender do governo.
Mais uma que esse jornalista tenta e fica apanhando nos comentários. Adorei.

Márcio

Você usa lógica privatista para entender uma empresa pública. Seu raciocínio equivoca-se já na origem.

Márcio

Você usa argumento privatista para compreender empresa pública. Seu raciocínio equivoca-se já em sua origem.

Cidadão Pistola

Defina “argumento privatista”!

Mas posso usar outro: “argumento serviço público indispensável”. E nele sua rádio não se enquadra.

Aliás, se vocês funcionários acham ela tão boa, por que não fazem uma proposta para comprá-la?

Cidadão Pistola

Aliás, adorei a postura do Zema
Tão em greve? Deixa quieto, ninguém vai sentir falta. Aliás, só fazem greve porque não é serviço essencial. E se não é essencial, fecha oi privatiza. Obrigado grevistas!

Júlio Sérgio

A verdade é que, assim como o Bozão do Mal, o Bozinho lerdeza de Minas e seus fiéis escudeiros são bando de analfabetos culturais. Têm pavor de cultura. Que venham logo as eleições pra gente ter o país de volta.

Cidadão Pistola

Cultura estatal não é cultura. Se gosta dela, vai Cuba, China ou Coreia do Norte!