Zema cassa licença de sindicalistas contrários ao regime de recuperação fiscal Zema cassa licença de sindicalistas contrários ao regime de recuperação fiscal

Zema cassa licença de sindicalistas contrários ao regime de recuperação fiscal

  • por | publicado: 23/11/2021 - 16:36 | atualizado: 25/11/2021 - 12:33

Deputado Professor Cleiton e o líder sindical Marco Couto, fotos Clarissa Barçante/ALMG e site Sindifisco/MG

Em retaliação à oposição feita por alguns sindicalistas à adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), o governo Zema (Novo) decidiu cassar a licença deles. A medida é vista como cerceamento à atuação sindical de 21 servidores alcançados por resolução, que é um instrumento contestado pelo meio jurídico por não ter força de lei.

Ofício da secretária estadual de Planejamento, Luísa Barreto, estabeleceu o afastamento dos servidores dos sindicatos a partir do dia 6 de dezembro próximo. Na Secretaria da Fazenda, ainda há a informação de que a iniciativa poderá alcançar até mesmo o secretário de Planejamento da Prefeitura de Belo Horizonte, André Reis. Ele é servidor estadual, mas está licenciado para integrar o governo de Alexandre Kalil (PSD). Aí, a razão política é outra: Kalil é rival de Zema na sucessão eleitoral de 2022.

Por conta disso, 25 deputados apresentaram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de nº 77, para garantir a atuação sindical em Constituição. De acordo com o 1º signatário da proposta, deputado Professor Cleiton (PSB), há uma perseguição do governador Romeu Zema aos sindicalistas que não apoiam medidas fiscais, como o RRF, em especial os que são ligados à área fazendária. O RRF é um programa do governo federal para estados falidos.

RRF impõe venda de estatais

“Como a maioria de nós, deputados, muitas lideranças sindicais também são contra a adesão a esse regime que traz graves consequências ao Estado”, advertiu o deputado Professor Cleiton. A adesão ao RRF está sendo buscada pelo governo Zema para alongar a dívida de Minas junto à União, de forma a suspender por nove anos, o pagamento do serviço da dívida no valor mensal de cerca de R$ 700 milhões. A dívida total é de mais de R$ 130 bilhões.

O RRF é destinado a Estados em situação falimentar, quebrados, e a adesão tem consequências e contrapartidas. Para isso, o Estado tem que vender suas empresas estatais, como a Cemig, a Copasa e Codemig, os principais patrimônios públicos estaduais. E mais, congelar pelo mesmo período (nove anos) reajustes aos servidores e a progressão nas carreiras públicas, entre outras exigências. Segundo deputados, o regime ainda afeta a autonomia administrativa do Estado na hora de decidir investimentos e despesas. O governo mineiro afirma que o RRF poderá equilibrar as contas públicas e que a adesão não tira poderes do Estado.

Deputados consideram que é possível renegociar a dívida em outras bases. Por isso, não votaram o projeto que tramita há dois anos na Assembleia Legislativa. Em primeiro lugar, avaliam que o Estado de Minas Gerais não está quebrado. Tanto é que está pagando os salários dos servidores em dia e quitando dívidas bilionárias herdadas e criadas na atual gestão junto a municípios e ao Judiciário mineiro.

Arrecadação sinaliza recuperação

Os pagamentos só estão sendo possíveis por conta do aumento da arrecadação estadual, que, somente neste ano, cresceu quase R$ 20 bilhões por conta da política de preços dos combustíveis. Além disso, o governo estadual receberá R$ 11 bilhões pelo acordo com a mineradora Vale em reparo à tragédia de Brumadinho (Grande BH). E mais, a Assembleia Legislativa criou e aprovou projeto de recuperação de dívidas fiscais no valor de cerca de R$ 3 bilhões.

De acordo com Cleiton, a Constituição da República assegura ainda a livre associação profissional ou sindical. “Bem como a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação”.

Para um dos punidos por Zema, o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais do Estado (Sindifisco/MG), Marco Couto, a medida é uma retaliação à postura da entidade e à sua atuação. “Por conta das críticas que fazemos às propostas do governo, em especial a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. É um retrocesso em Minas o fato de servidores não poderem mais participar ativamente das entidades sindicais nacionais, defendendo dentre outras coisas os interesses de Minas e, em especial, a nossa receita própria”, apontou o presidente do Sindifisco/MG.

Para ele, a medida apenas reforça sua disposição para o cargo e representação para os quais foi eleito. “Se estamos incomodando é porque estamos no caminho certo. Seguiremos firmes denunciando que a adesão ao regime vai arrebentar com o Estado e prejudicar a população mais carente, que necessita mais dos serviços públicos de educação, saúde e segurança”, criticou.

LEIA MAIS: Aderir ao regime federal é colocar Minas de joelho, adverte Sindifisco MG

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments