O desembarque de Jair Bolsonaro (PL) em São Paulo cabe como ponta em episódio de novela. Tanto em produções milionárias da TV Globo quanto em tubaínas mexicanas. Mas, o pouso do jatão atende também aos anseios de um marqueteiro aflito com a sequência de trapalhadas de um pré-candidato. E outubro bate à porta.
A escala do jato presidencial da FAB, na madrugada desta segunda (03/01), abre espaços à desconfiança. Desembarcou o valentão Jair Bolsonaro (ex-paraquedista do Exército), reclamando, repentinamente, de dores na região abdominal. Na Medicina, sintoma de possível “suboclusão intestinal”. No caso do presidente, poderia ser, portanto, consequência da facada, em setembro de 2018, na campanha, em Juiz de Fora (MG).
Bolsonaro sente dor, mesmo, ou antecipou agenda?
Mas, em se tratando de Bolsonaro, algumas perguntas palpitam. Não estaria, por exemplo, ocorrendo uma antecipação de ida ao hospital pré-agendada para mais à frente? Entretanto, sido convenientemente antecipada, para minimizar a atmosfera política mais desfavorável ainda neste início de 2022, na ressaca do Réveillon.
Através do olho mágico da política, pode-se admitir, então, esforço da assessoria (e plantão bolsonarista nas redes sociais) para jogar ao esquecimento a semana de exibicionismo de Bolsonaro no litoral de Santa Catarina.
Enquanto Bolsonaro se esbanjava com as delícias do cargo – sustentadas pelos cofres públicos -, milhares de cidadãos da Bahia, principalmente, Tocantins e Minas Gerais perdiam tudo. Alguns, choravam seus mortos. Milhares não sabiam (e ainda não sabem) como recomeçar. Os desabrigados buscam forças para retirar dos entulhos e da lama o pouco, ou nada, que sobrou.
O presidente, além disso, carrega enorme fardo negacionista na questão de políticas para combate à Covid. Mas, nem sempre seguido no Governo.
Pijama de hospital e Queiroga
Então, o pijama de um hospital chique da capital paulista cabe em script do Planalto para a ocasião. Assim como determinar ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um giro de 180 graus no discurso. Agora, é para declarar fartura de vacina aos pais que queiram imunizar seus filhos dos 5 aos 11 anos de idade contra a Covid-19.
Portanto, Bolsonaro em hospital São Paulo e Queiroga assegurando vacinas para público infantil são fatos de mesmo dia. Ou seja, sugerem olhar, sim, com o pescoço para fora da janela. Os dois atos servem a uma só missão: desviar holofotes das pesadas críticas da opinião pública ao descaso de um presidente diante da tragédia das enchentes de dezembro.
Em se tratando de Bolsonato, é, portanto, uma desconfiança que o povo tem motivos para tal.
Mesmo em quarto de hospital, Bolsonaro, certamente, ainda reprisa praias de águas transparentes e as festas do Réveillon de 2022 em São Francisco do Sul (SC). Mas, para famílias da BA, MG e TO restam a saudade dos parentes queridos que morreram e a memória das noites de terror e do mar de lama devastador, impiedoso.
Bolsonaro optou ferrenhamente por se esbaldar (com a família) em ambiente paradisíaco. Virou as costas a milhares de famílias nessa tragédia. O mundo inteiro testemunhou, se indignou. Em complemento, em gesto desumano que só parece caber no presidente, recusou o auxílio do Governo da Argentina.
Bolsonaro sempre ajuda a piorar
O chefe do Planalto fez questão de seguir, sem trégua, um roteiro paranóico para seu Réveillon 2022: exibicionismos em três turnos, em moto aquática da Marinha, e fotos com empregados da Havan, rede de um empresário assecla. E acrescentou a banana à oferta da Argentina.
Esse pit stop do jatão em São Paulo, antes de Brasília, pode até ser por causa médica emergencial. Mas, é o próprio Bolsonaro quem serve ao país o direito à pitada (apimentada) de desconfiança.
Não será, então, novidade alguma a Polícia Federal surgir com novo apêndice para o caso de Juiz de Fora.
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