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Pneusola fecha portas e pede autofalência

  • por | publicado: 23/05/2023 - 13:01 | atualizado: 07/06/2023 - 10:23

Pneusola não conseguiu esperar pela aprovação do Plano de Recuperação, apresentado em 2021 - Crédito: Reprodução Facebook.

O Grupo Pneusola, nome fantasia conhecido pelo mercado para Grupo Clarindo-Pneusola, entrou ontem (22/05) na 1ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte, com pedido de autofalência. A representação foi feita via escritório de AG Alfredo Gomes Sociedade de Advogados, de Nova Lima. O grupo encerrou, então, 58 anos atividades nos ramos de recuperação e revenda de pneus em Minas Gerais. O último dia de funcionamento foi sábado (20/05),

  • Clarindo Participações e Investimentos S/A;
  • Pneusola Pneus e Peças S.A; e,
  • Transpneus Oliveira Transporte Rodoviário S/A.

Isso, portanto, em paralelo, interrompe o pedido de Recuperação Judicial (Ação Cível 5113361-63.2021.8.13.0024) apresentado 1º/08/2021, que carregava o peso de débitos contábeis acima R$ 128 milhões. O que levou o pedido da autofalência, entre outros fatores, está a demora da Justiça na aprovação do Plano da Recuperação.

O advogado Lauro E. Esteves Casaes Filho, do AG, falou, horas atrás, ao ALÉM DO FATO, e resumiu que, até então, a juíza Cláudia Helena Batista, da 1ª Vara Empresarial, ainda não havia despachado a solicitação da autofalência. “Ainda não temos a aprovação do pedido de falência… Mas deve sair a qualquer momento”, previu.

Historiou, de forma sucinta, somatório de aspectos de mercado (resquícios da recessão da Covid-19 em todos setores, juros altos, retração nas montadoras, queda constante de faturamento do Grupo Clarindo-Pneusola etc.) que pressionam desfavoravelmente na recuperação. Além disso, se concedido, o Plano de Recuperação deveria ir à submissão à assembleia de credores.

Em atividades de fevereiro de 1965, Pnesusola era representante da Pirelli. Mas, foi exatamente com a italiana que os problemas financeiros do grupo mineiro criaram primeiras raízes.

O Plano de Recuperação Judicial do grupo, de 05 de outubro de 2021, contemplava a venda de ativos (lojas e maquinário) de 12 dos 18 pontos comerciais e “fundos comerciais” da Pneusola Pneus e Peças S.A.

Pneusola foi à Justiça com rombo inicial de R$ 89,9 mi

Na petição inicial, em junho de 2021, do pedido da Recuperação Judicial e requerimento de Tutela de Urgência, os débitos da Pneusola eram de R$ 89.957.184,68.

Após as duas listagens de credores, entretanto, em relatório de análise Plano de Recuperação, conforme editais publicados em setembro de 2021, os créditos sujeitos à recuperação subiram a R$ 128,3 milhões – R$ 3.458.812, na primeira, e R$ 124.972.327,00. Aparecem também em relatórios da administradora judicial nomeada, a EXM Partners Assessoria Empresarial Ltda.

O Plano se estenderia até 2031.

Os pedidos do Grupo Clarindo-Pneusola à 1ª Vara Empresarial foram em nome dos dois únicos acionistas: Antônio Talma de Oliveira Costa e Antônio Augusto da Silva Costa. As atividades das empresas se estendiam, além dos varejos de pneus e câmaras de ar, em serviços mecânicos de alinhamento e balanceamento, reparo e substituição de peças automotivas.

“A partir de agora, o escritório passa a representar apenas os acionistas”, esclareceu Lauro E. Esteves Casaes Filho.

Os credores diversos (empregados, fornecedores e bancos), portanto, deverão tratar com a administra judicial. A critério da Justiça, poderá permanecer o EXM Partners.

Transferência do controle da Pirelli para China e problemas

Os problemas para Pneusola surgiram na crise geral de mercado em meados da década passada. Como consequência, então, encerrou 10 pontos comerciais no interior de Minas. Manteve os 18 da Região Metropolitana da Capital.

Mas, pesou muito, o período de turbulências nas relações comerciais com a italiana Pirelli. Na época, a italiana tratava preparativos (desde 2013) de troca do controle acionário para a China National Chemical Corp (ChemChina). Foi consumada em 2015. E, conforme a petição inicial na 1ª Vara Empresarial, foi quando surgiu a fase de “restrições” comerciais contra o grupo mineiro:

“(…) surpreendentemente passou a restringir a área de atuação da PNEUSOLA, na qualidade de revendedora e representante oficial da marca em Minas Gerais, o que acabou por impor o fechamento de todas as lojas da PNEUSOLA localizadas nas cidades do interior do Estado de Minas Gerais, momento em que a atuação dessa empresa passou a concentrar-se exclusivamente na região metropolitana de Belo Horizonte, repita-se, por força da nova política comercial trazida pela PIRELLI (…)”.

De 2015 para 2016, Pneusola teve perda nominal de 40% do faturamento: de R$ 61.220.864,00 para R$ 38.743.403,00. E seguiu o calendário das quedas anuais.

Nos desacertos e cobrança judicial de créditos, a Pirelli dirigiu “ameaças de interrupção de concessão de novos créditos e de fornecimento de produtos”. A Pneusola, então, reconheceu dívida de R$ 45.020.736,23 (junho de 2018). Na época, o débito era o dobro do faturamento anual das três empresas.

Mas o não cumprimento do “Instrumento Particular de Confissão…”, provocou, quatro meses depois, abertura de novas janelas de problemas. O banco garantidor, por exemplo, impetrou, na Justiça de São Paulo, cobrança com vencimento antecipado.

Nesse capítulo, o saldo histórico dos débitos relacionados apontava para R$ 67.656.675,55.

Dados contábeis em divergência com perícia

Entretanto, não foram apenas divergências com Pirelli, crises conjunturais internas de mercados e resquícios da recessão Covid-19 responsáveis pelo tombo do Grupo Clarindo-Pneusola.

Na recuperação, levantamentos contábeis apontaram divergências de valor para o conjunto de ativos ofertados para venda dentro do Plano. Além disso, em caso de sucesso, o apurado seria irrisório diante da monta da dívida.

Em outubro de 2021, o escritório AG em petição à 1ª Vara Empresarial, anexou proposta de compra de 12 lojas recebida pela, no mês anterior. A concorrente Meupneu.Com Ltda propôs R$ 9,7 milhões, com liquidação em parcelas trimestrais de R$ 300 mil a contar de novembro.

A perícia contábil citada pela administradora judicial avaliou, a preços de mercado, as lojas e bens da Pneusola em R$ 3,247 milhões (outubro de 2021). Portanto, bem abaixo de imobilizado de R$ 19,876 milhões, conforme balanço da empresa (maio de 2021). Ou seja, “discrepância” de 84%, registrou o laudo.

As lojas ainda operadas estavam em Belo Horizonte (10), Contagem (3), Betim, Nova Lima, Santa Luzia e Pedro Leopoldo.

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Na semana passada, representantes das empresas Pneusola, então, jogaram a toalha.

“É com pesar e tristeza que vimos comunicar que a Pneusola, após 58 anos de operação, está encerrando as suas atividades (…) Com muito esforço e empenho de todos os colaboradores conseguimos vencer várias etapas difíceis, mas devido às diversas situações externas não conseguimos segurar até a definição da justiça para aprovar nosso plano de recuperação.”

(…)

“A partir do dia 20 de maio de 2023, as portas estarão fechadas, não sendo necessário o deslocamento para as lojas a partir de segunda-feira, 22 de maio de 2023”

(…)

“A partir do dia 22 de maio a justiça poderá tomar posse da empresa em qualquer momento e um administrador será designado para executar os procedimentos necessários em nome da empresa. A partir desta data não teremos mais acesso às contas, lojas e o sistema da empresa. Caso possuam objetos pessoais nas lojas, entrem em contato com os supervisores para verificar a forma de entregar os pertences”.

Trechos de melancólica despedida, em mensagem WhatsApp, para os funcionários. Ela chegou ao ALÉM DO FATO. O teor foi confirmado pelo advogado do AG Alfredo Gomes Sociedade de Advogados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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JOSE MARIA FURTADO

Alguns anos atrás comprei pneus na Pneusola. E notei que o atendimento deixou muito a desejar. Não sei se já era reflexo da venda da Pirelli.

Paulo Eduardo Naves Henriques

É com indescritivel tristeza que leio esta notícia, fui Administrador de Redes e coordenei a area de Tecnologia da empresa por 7 anos e alguns meses, saí mediante acordo em 05/01/2021, no inicio da Pandemia, já tinha conhecimento dos desafios que estavam enfrentando mas acreditei que conseguiriam virar o jogo, lamentável, a minha solidariedade a todos os funcionários que lá permaneceram até o apagar das luzes, guerreiros!!! Que sentimento ruim…..Força e superação para todos são meus votos. (Não pude deixar de cometar, tenho ótimas recordações e fui muito respeitado por todos nesta empresa.) #triste #chateado

Marcus mendes

O que matou a Pneusola foi a compra da Pirelli pelo Chineses. Caberia a Pneusola fazer parcerias com outro fornecedor de Pneus, Dunlop, Continental, Firestone. Se o seu principal e prestigiado fornecedor não respeita acordos o ideal é descarta-lo.

Paulo Eduardo Naves Henriques

Lamento muito de verdade!!!!!

Rogerio Coutinho

Uma tristeza, empresa de tradição em BH.