O Grupo Gerdau cancelou em 37,5% a projeção dos investimentos em 2020, de R$ 2,6 bilhões e R$ 1,6 bilhão. O grupo siderúrgico e de mineração de ferro gaúcho reage, portanto, aos impactos negativos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Teve perda de 51,3% no lucro do primeiro trimestre em comparação com mesmo período de 2019.
Por ora, a medida afeta o programa de investimentos do triênio 2019-2021 em 16,66%, portanto, um corte de R$ 7 bilhões para R$ 6 bilhões.
De janeiro a março, Gerdau produziu 3,188 milhões t de aço bruto (-4,6% que 1TT2019) e colocou no mercado 2,691 milhões t (-9,8%). Apesar do crescimento de 8% na receita líquida, de R$ 9,228 bilhões, o lucro da siderúrgica ficou menor 51,3%, com R$ 221 milhões.
“O valor de investimentos para 2021 será avaliado de acordo com a evolução dos mercados em que atuamos”. Essa foi a ponderação do diretor vice-presidente e diretor Relações com Investidores, Harley Lorentz Scardolelli, em áudio conferência nesta semana. A conversa foi fechada reuniu analistas e agentes do mercados do JPMorgan, Credit Suisse, Bradesco BBI, Goldman Sachs, Itaú BBA e BTG Pactual.
Gerdau olha Brasil e EUA
Incluindo plantas em outros países (Estados Unidos, Argentina, Peru, México, Colômbia, Uruguai, República Dominicana e Venezuela), em 2018, a Gerdau produziu 15,3 milhões t (-5%). Comercializou 14,6 milhões t (-3%) de aço. No ano passado, porém, produziu e vendeu menos: 12,4 milhões t e vendeu 12 milhões t.
Gerdau entrega aços não planos (vergalhões, tarugos, perfis, barras mecânicas, fio-máquina), planos (chapas grossas e placas) e trefilados. Seus principais mercados são construção, automotivo, energia, naval, máquinas/utilidades e agropecuário.
Em resposta ao questionamento do representante do JP Morgan, Marcio Farid, para o corte em 2020, o diretor-presidente (CEO) da Gerdau, Gustavo Werneck da Cunha, minimizou a medida. Disse não se tratar de cancelamento ou desistência, mas adiamento. “O que estamos fazendo, no momento, nesse anuncio de R$ 1 bilhão de redução, é postergar a entrada de alguns investimentos”.
Gustavo Werneck previu, todavia, que a retomada dependerá dos cenários no Brasil e Estados Unidos. Destacou como exemplos a pausa nos principais investimentos em aços especiais: usinas de Pindamonhangaba (SP) e Monroe (EUA).
Mas, foi menos otimista em relação ao exercício fiscal do próximo. “Com relação aos investimentos de 2021, inevitavelmente, faremos uma revisão mais à frente”, disse.
Endividamento de R$ 20 bi
Scardoelli destacou que a siderúrgica assumiu os cortes mesmo tendo “fluxo de caixa livre” favorável, de R$ 4 bilhões, nos últimos doze meses. No primeiro trimestre deste ano, todavia, esse fluxo foi negativo R$ 411 milhões. Isso, justificou o executivo, foi ocasionado pela forte pressão no “consumo de capital de giro”.
A dívida bruta da Gerdau, no final do trimestre, exibia saldo R$ 20,029 bilhões. Mas, a companhia tinha caixa, equivalentes de caixa e aplicações financeiras de R$ 5,979 bilhões. Assim, portanto, o resultando em dívida líquida era de R$ 14,50 bilhões.
Efeitos da desvalorização cambial
Scardoelli esclareceu que a dívida da companhia foi fortemente impactada pela desvalorização cambial do real, de 29% em relação ao 4º trimestre de 2019. Isso, portanto, impôs aumento nominal de 44,32% frente ao saldo em dezembro, de R$ 9,7 bilhões. Esses compromissos financeiros, destacou o diretor, estão 84,1% em dólar dos EUA.
Mas, ponderou Scardoelli, 82% do valor então em contratos de longo prazo, sendo o prazo médio de 7,4 anos. Destacou, contudo, que o custo de é de 5,1% ao ano.
“Temos, atualmente, R$ 17 bilhões de dívida denominada em dólar, o que representam 84,4% da dívida total”, salientou.
Gerdau tem liquidez de R$ 8,3 bi
Na apresentação, todavia, Scardoelli foi enfático em mostrar solidez da companhia: “… aproveito para apresentar nossa posição atual de caixa, no montante de R$ 6 bilhões, bem como linhas de crédito de R$ 4 bilhões, das quais com disponibilidade de R$ 2,3 bilhões, o que significa uma liquidez de R$ 8,3 bilhões”.
Gustavo Werneck corroborou: “Para encerrar minha apresentação, reforço que a Gerdau é uma empresa sólida e está preparada para enfrentar as instabilidades desse difícil momento que estamos vivendo”.
Covid-19 atrapalhou retomada
“A Covid-19 chegou em um momento em que as projeções para a demanda por aço especial no Brasil e nos Estados Unidos eram bastante positivas”, lamentou o presidente da Gerdau, pouco antes.
Gustavo Werneck comentou que, naquele instante, havia sinais de retomada na construção civil e setores importantes da indústria, como o automotivo e o eólico. “Além disso, tínhamos estimativas positivas para a evolução das economias destes países”, completou.
Entre medidas relevantes adotadas pelo Grupo Gerdau, frente à crise, destacou paradas de manutenção e férias coletivas. Neste aspecto, Gustavo Werneck assegurou que a companhia seguiu todas as recomendações de prevenção à Covid-19 das autoridades de SP, MG e RS.
Alto-forno da Açominas parado
Mas também houve, no começo de abril, a retomada das aciarias elétricas (das usinas semi-integradas) no Brasil. Em Ouro Branco (MG), contudo, o Alto-Forno 2 da Gerdau Açominas só deverá voltar a produzir (ferro-gusa) em meados do ano.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.