Ministro do STF acusou Sergio Moro de “roubar galinhas“. Revelação ocorreu nesta terça (11/06). Leia abaixo.
Até março de 2014, era inconcebível na história do país uma investigação profunda (bem mais que a do “Mensalão do PT”) da corrupção política, principalmente em parceria com o empresariado. Mas esse dia chegou. E bateu na porta do topo do poder da República. Revolveu entranhas do jet set no reino das empreiteiras. Tornou pública verdadeira inteligência artificial a serviço de engenharias de áreas departamentais dedicadas à liquidação de propinas.
O milagre chegou com as entradas e bandeiras da Operação Lava Jato. Coordenada pelo Ministério Público Federal (MPF) e Departamento da Polícia Federal (DPF), investigou e ofereceu denúncias. Em cima dos autos lavrados e despachados para o Judiciário Federal, foi para cadeia parte dos acusados, processados e julgados.
A Nação aplaudiu…
Com Moro, R$ 25 bilhões (2022) retornaram à União e Estatais
No conjunto dos valores devolvidos aos cofres da União e estatais, teve peso a ação conjunta MPF-DPF, ou seja, via acusados e processados: políticos, ex-dirigentes de estatais e empreiteiras. Parte substantiva foi repatriada por bancos no exterior.
Isso ganhou volume ao passo que corria o ritual as audiências, em Curitiba (PR), dos réus diante do então juiz federal Sergio Moro.
A empreiteira (construção pesada) mais noticiada, a Norberto Odebrecht, que trocou razão social para Novonor, fez mea-culpa: pediu desculpas em publicação institucional em veículos de circulação nacional. Agiu espontaneamente, não por sentença da Justiça.
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Supremo arrombou a porteira da cadeia
Mas a Lava Jato foi ignorada em seus méritos e exemplarmente sepultada dentro do próprio do Supremo Tribunal Federal (STF). O gesto alargou alívio nos corredores do Congresso Nacional, que respirou anistiado.
O STF acolheu denúncias contra as investigações do MP. Em paralelo, atingiu as sentenças proferidas por Moro. O magistrado, na Comarca de Curitiba (PR), julgou envolvidos na Lava Jato. Entre eles o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), indiciado em casos de favorecimentos que o ligavam ao sítio de Atibaia e ao triplex do Guarujá.
No Supremo, todavia, o julgamento de Lula foi anulado, por entendimento de que a competência não seria da Comarca não seria Curitiba. Isso mesmo após confirmação em segunda instância. O processo está paralisado.
O favorecimento ao petista abriu a porteira para uma dezena de outros condenados. E chega nas empreiteiras.
O Supremo abriu, então, a rodovia one way para o desmonte da Lava Jato. O ato final foi a recente decisão do ministro Dias Toffoli, de anular os processos contra Marcelo Odebrecht. Marcelo na época das investigações, era o segundo (abaixo do pai) no comando da empreiteira. O empreiteiro também foi para cadeia.
A Procuradoria Geral da República (PGR) recorreu contra Toffoli.
Toffoli foi para Corte em indicação de Lula. Antes, integrou equipe de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo petista.
Ele não. Ele sim
Desde as investigações do “Mensalão do PT”, no qual ficou notória a relatoria do ministro Joaquim Barbosa, a opinião pública aquarelava nas urnas olhar plebiscitário contra o PT. No voto, em 2012. Às vésperas de assumir a presidência do STF, Barbosa apontou formação de “quadrilha” dentro do Governo pela cúpula do PT.
Mesmo assim, Lula se reelegeu, em 2006. Em 2010, fez a sucessora, Dilma Rousseff. Ela também se reelegeu, mas foi cassada, em 2016. Não por corrupção, mas acusada de “pedaladas” nas contas da União.
O eleitorado incorporou, de vez, o plebiscito nas eleições de 2018. Não queria mais o PT elegeu Jair Bolsonaro (PL).
Em 2022, maioria do eleitorado não quis mais Bolsonaro, principalmente por seu negacionismo e as 700 mil mortes pela Covid-19 no país. Então, retornou Lula.
Lula perdeu nos tribunais; aposta em maioria no STF; Gilmar troca chumbo
O presidente da República, desde o 1º de janeiro de 2023, mantém sobre a mesa o projeto pessoal: destruir Moro, que se elegeu senador pelo União-PR. O PT, CUT e MST carregam mesma bandeira. Questão de honra nas fileiras petistas.
O chefe do Planalto apostava consumar parte da vingança com uma cassação imediata de Moro. Mas, em duas instâncias do Judiciário eleitoral (TRE-PR e TSE), o mandato foi mantido. O senador era acusado de abuso de poder econômico nas eleições.
Lula, entretanto, não jogou toalha. Agora aposta no julgamento do senador pelo STF. Teria praticado “calúnia” contra o ministro Gilmar Mendes. A relatora da acusação e recém-empossada presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, deu para áudio em celular nota top de agência de risco do mercado financeiro, A+A. Contém fala de Moro ao participar de suposta “brincadeira” de festa junina – junho de 2022. Virou réu.
Nesta terça (11/06), a Folha, revela que o ministro Gilmar acusou Moro de “roubar galinhas“. E, segundo o ministro, que foi em “encontro muito divertido“. A acusação também esta em vídeo. E agora, como julgará o Supremo?
O Planalto tem maioria folgada no outro lado da Praça dos Três Poderes. Caso senador seja condenado à prisão, automaticamente, perderá a cadeira no Senado. Lula, então fecharia a conta.
Moro teve todos
Desde março de 2014, Moro viveu os extremos.
Da fase inicial ao ápice (prisão de Lula) da Lava Jato, a opinião pública, imprensa e até a banda não petista do STF marchavam ao lado do ex-juiz. Fora dessas fileiras o grupo o poder: políticos, partidos (militantes) e empreiteiros.
Todavia, com as acusações contra MPF e PF, nas investigações e processos da corrupção, ministros do STF que apoiavam a Lava Jato começaram a dar as costas.
A tempestade virou tormenta com Moro dentro do Governo Bolsonaro (2019-2022), como ministro da Justiça. O ingresso dele na política pesou em seu desgaste generalizado.
Bolsonaro levou o ex-juiz para o Governo com o aceno de uma cadeira na Corte. Mas o compromisso azedou.
Moro insistia em manter a PF com o status de instituição de Estado. Ou seja, poderia entrar na cozinha da família Bolsonaro. Este, porém, não desistia de comandar ações daquele órgão. “A minha Polícia Federal”, repetiu algumas vezes.
Em 08 de novembro de 2019, Lula ganhou a liberdade.
Bolsonaro aumentava pressão sobre Moro, que buscou o caminho da rua em 24 de abril de 2020. Livre do empecilho, o chefe do Planalto acelerou sua parte no desmonte da Lava Jato, principalmente na PF. “Acabei a Lava Jato porque não tem mais corrupção no Governo!”, justificou.
Perdeu todos
No inferno astral atual, Moro enfrenta sozinho o Congresso Nacional, Executivo e STF (politizado). A imprensa, que amargou a falta das publicidades polpudas no Governo Bolsonaro, tomou outro partido.
Os empreiteiros blue chips na Lava Jato retornaram às licitações públicas e também apostam no Supremo.
Mesmo diante das confissões de políticos, em dezenas (ou centenas) de autos e dos atos das empreiteiras (devolução de valores e fazendo mea-culpa pública) e políticos, a sensação é a de que o país não se incomoda. O que perturbaria, então, seria voltar a investigar atos ilícitos apurados e/ou abrir nova página.
É o Brasil sempre no modo brasilzinho, mesmo depois de toda lama revolvida pela Lava Jato.
TITULO ORIGINAL: Corporativismo nacional contra Moro
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.
Considere-se que tudo o que disse o autor esteja correto. Acrescente-se que o juiz da Lava Jato, Sérgio Fernando Moro, teve comprovada e declarada sua suspeição nas investigações e julgamento de Luís Inácio Lula da Silva. Isso não muda nada?