O prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), se fez ausente no desfile da comemoração do Dia da Independência (07/09). Alegou, por sua assessoria, “forte gripe”.
Esse caso, claro, ficou longe de ser fato político importante da semana. Mas, de toda forma, merece um olhar à parte, para frente.
Mesmo que gripado, a ausência do prefeito sugere outra motivação, que não o enorme desconforto físico. Político mineiro, principalmente o de pouca cancha, para aparecer, sobe até em caixinha de fósforo. Por um palanque na Afonso Pena, então, se estiver febril, desembarca protegido por cobertor térmico.
Recebeu Lula de boa
Três dias (04/09) antes do Sete, Damião desfilou, em Belo Horizonte, lado a lado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP). Trocou afagos e foi retribuído com promessas (verbas).
Damião pouco se importou, então, com as ordens do partido para que ministros do União desembarquem do Governo do PT.
Lula deixou com o prefeito um botijão para o GLP (gás de cozinha) verde-amarelo: programa “Gás do povo“. Retornou com encomenda de fácil liquidez: instalar unidade do Instituto Federal na capital mineira.
Pelos palanques das Avenidas
Para ser coerente com a expectativa dos dividendos da foto ao lado do chefe do Planalto, Damião, portanto, fugiu da agenda da Independência. A “forte gripe”, então, ajudou.
Dividir com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema Neto (Novo), mesmo m2 em palanque seria, pois, queimar o filme. O governador habita lugar vip na galeria de desafetos políticos de Lula. Além disso, o mineiro declara que também pretende concorrer à Presidência da República, em 2026.
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Sem Damião por perto, o dirigente da administração mineira ocupou todos espaços, em companhia dos militares e politicos mineiros aliados. Assistiu ao cívico-militar pelo Dia da Pátria absoluto nas atenções.
Ao final, o governador trocou de avenidas: a mais famosa da cidade, Av Avenida Afonso Pena, pela mais badalada do país, Av Paulista. Zema se uniu ao ato do colega de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Na pauta dos governadores, apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) e tentar pressionar no julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas não mudaram a tendência
Os estados de SP e MG, respectivamente, são 1º e 2º mais importantes colégios eleitorais do país. Entretanto, o ato de Tarcísio não surtiu efeitos desejados nos meios bolsonaristas.
Na quinta (11/09), então, prevaleceu a pesquisa de opinião no julgamento do ex-presidente e mais sete réus na Ação Penal 2668. Por 4 votos a 1 (derrotado Luiz Fux), os ministros da 1ª Turma condenaram Bolsonaro e os demais pelo “trama golpista”, em 2022. Seria um golpe de Estado, para impedir a posse de Lula, em 1º de janeiro de 2023.
Damião, de alguma forma, atende
Passado o Sete de Setembro, Damião mandou brasa em suas agendas em público. Dispensou uso de máscara de proteção, mesmo com a recente “forte gripe”. Foi à luta.
Juntando o encontro com Lula e passado o julgamento no STF, não será surpresa o prefeito empinar o nariz para Zema. Arriscará isso, mesmo sendo um novato na tenda do segundo escalão da política nacional.
Lula dará corda aos préstimos de Damião. Por certo, depositará parte das suas fichas (verbas do Tesouro Nacional). Essa é uma moeda fácil (mas cara para o país) para ele nas buscas de aliados.
No momento, sem medir custos para os cofres públicos, o petista acelera no vale-tudo popular. Corre para reverter a desaprovação na opinião pública. Ela é alta também na capital mineira.
Não passa mais por Minas
No final da ditadura militar (1964-1985), Minas teve dois governadores (falecidos), que faziam política com arte. Eram chamados de raposas. Tancredo Neves (MDB antigo) e Hélio Garcia (MDB antigo) sabiam manter o peso da política regional na ordem do dia com classe e naturalidade.
Na fase inicial da redemocratização, pregavam, por exemplo, que “(toda negociação) passa por Minas Gerais!“.
Não há menor chance da política mineira retornar àquele status via Zema. Ter surpreendido (era zebra nas pesquisas) em 2018 e ser reeleito no 1º turno, em 2022, não o credenciam. Com Damião, mais remota a possibilidade de ser novamente o eixo da política nacional.
Vazio nacional de políticos
A carência de nomes na política mineira deixa os partidos sem opção até em composição doméstica. Em 2022, por exemplo, o PT não lançou candidato ao governo do Estado.
Lula foi direcionado a apoiar Alexandre Kalil (PSD), ex-prefeito da Capital. Bolsonaro repetiu Zema.
Depois de Tancredo e Hélio, Minas Gerais não criou reserva política. Essa pobreza é clara na lista de candidatos ao governo em 2022. Mas é também um mal nacional.
Ponte aérea para Minas
Em solo mineiro, então, Lula precisará de muita verba extraordinária na agulha. Não será fácil bancar apoio de pencas de deputados, senadores e prefeitos de meio peso, mas caros. A conta do querosene de aviação com a frota da FAB, para tantas visitas ao território mineiro, chegará nas nuvens.
Neste ano, o petista visitou o Estado por sete vezes.
A depender da volátil (e pífia) política regional, só assim Lula sustentará em Minas Gerais a sua obsessão pela reeleição, daqui a 14 meses (1,2 ano). Mais um mandato é, desde a posse, em 1º/01/2023, o seu maior projeto no Lula-3.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.