BDMG com sede penhorada na Receita; lucro caiu 70% - Além do Fato BDMG com sede penhorada na Receita; lucro caiu 70% - Além do Fato

BDMG com sede penhorada na Receita; lucro caiu 70%

  • por | publicado: 11/03/2021 - 17:37 | atualizado: 12/03/2021 - 19:54

BDMG é pesado diante de bancos digitais que repassam linhas do BNDES - Foto: BDMG/Divulgação

O edifício-sede do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e o anexo (BDMG Cultural) estão penhorados à Fazenda Nacional. Servem como garantia em débitos contestados pelo banco referentes ao Imposto de Renda (IRPJ) nos exercícios de 1997 e 1998. No final de 2020, os saldos dessas ações somavam de R$ 71,990 milhões.

O banco optou por não realizar provisionamento contábil nem contratar garantias. A instituição tem 90,86% do capital sob controle direto do Governo de Minas (Tesouro Estadual).

A diretoria esclarece que, para essas contestações no IRPJ, não realizou provisionamento contábil “em razão de sua perda estar avaliada como risco remoto”. Em imóveis em uso, a instituição possuía, em 31 de dezembro, R$ 43,881 milhões. Mas, aplicada depreciação (R$ 28,585 milhões), o valor líquido era de R$ 15,296 milhões. Porém, incluindo outras imobilizações, tinham cobertura em apólice de seguro R$ 51,7 milhões.

Na carteira “outros ativos”, o BDMG apresenta, nas “Demonstrações Financeiras – 2020”, R$ 81,8 milhões em “bens não de uso próprio mantidos para venda”. Porém, feita compensação entre receitas e despesas, baixaram para R$ 77,2 milhões.

Ações na Cofins e PIS/Pasep

O BDMG lista outras ações fiscais – Cofins e PIS/Pasep. Estas, todavia, provisionadas de diversas modalidades e total de R$ 187,983 milhões. Algumas contestações retroagem ao exercício fiscal de 2005. Esses débitos (provisionados e não, com garantias imobiliárias e apólice de seguro) foram avaliados com riscos de perdas variados (remoto, risco possível e de perda possível).

Provisões de R$ 655 milhões

Em débitos atrelados à ações judiciais, o BDMG apresentou provisões (fiscais, trabalhistas, cíveis, atuariais e diversas) totais de R$ 655,736 milhões (31/12/20). O peso maior, todavia, eram obrigações atuariais (Plano de Previdência, Programa de Saúde e Seguro dos empregados), de R$ 427,145 milhões.

R$ 6,4 bi na carteira de crédito

No final de 2020, o banco mineiro estava com saldo de R$ 6,047 bilhões na carteira de crédito, então, superior 34,8% a 2019. Os vencimentos se estendiam por 5.400 dias, ou seja, 14,7 anos. O BDMG fez provisão de R$ 564,836 milhões para encarar enfrentar crédito em liquidação duvidosa. Isso representou elevação de 30,5%. Dessa forma, o saldo líquido da carteira estava em R$ 5,482 bilhões.

A carteira estava composta por R$ 3,304 bilhões de recursos próprios e, R$ 2,742 bilhões, repasses de outros órgãos financeiros nacionais e internacionais. Os créditos renegociados totalizavam R$ 1,962 bilhão (R$ 926 milhões, em 2019).

O gráfico para de operações “vencidas em dias”, em 2020, apresentava R$ 1,263 bilhão, na contagem de 91 a 360, em 2020.

Perfil dos depósitos

Os depósitos do BDMG, de R$ 808,6 milhões, tinham R$ 601 milhões em operações interfinanceiras, seguidas por DGPEs (depósitos a prazo com garantia especial), de R$ 528 milhões. Em depósitos a prazo, R$ 207,6 milhões.

Lucro do BDMG despencou 70,6%

Mesmo com o cenário da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), em 2020, o BDMG apurou R$ 726,857 milhões em receitas com as intermediações financeiras. Alta nominal, portanto, de 18,66% sobre 2019. Do resultado, 86% com as operações de crédito.

Todavia, o resultado final exibiu queda espetacular de 70,6% no lucro líquido: R$ 84,1 milhões, em 2019, para R$ 25,5 milhões. Ou seja, de forma isolada, mal cobriria as provisões para ações judiciais com obrigações previstas, neste exercício, de R$ 25,158 milhões.

Capital social está irreal

Mesmo com a perda de lucro, o patrimônio líquido do BDMG cresceu 6,4%, para R$ 1,937 bilhão. Cabe observar, porém, que foi contabilizado abaixo do capital social, de R$ 2,111 bilhões. Ou seja, o banco fez deduções de prejuízos acumulados e outros resultados negativos – R$ 173 milhões – e manteve o capital inalterado, irreal. No ano passado, o Governo de Minas fez aporte de capital de R$ 100 milhões.

Recordes em desembolso

Sem conectar os reflexos das liberações bilionárias emergenciais do da União, de contenção aos efeitos da Covid-19, que mantiveram a irrigação dos créditos, o BDMG festejou um “desembolso recorde” com recursos “majoritariamente próprios”. Assim, destacou crescimento de 343% sobre 2019 nas operações com as MPEs – micro e pequenas empresas. Com os repasses federais, totalizaram R$ 650,1 milhões – 23% do saldo anual dos financiamentos da instituição.

Nesse recorde, a Diretoria informou desembolso de R$ 2,850 bilhões, em 2020. Portanto, crescimento nominal (não desinflacionado) de 118% sobre o exercício anterior. Mesmo com a crise (ou por causa dela), o numero de clientes atendidos deu salto de 165%, para 13.462, sendo 12.801 MPEs.

Agribusiness liderou

A agroindústria absorveu R$ 953 milhões das operações do BDMG – participação de 33% e 52% superiores a 2019. O Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), BNDES e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) responderam por 49% dos recursos oferecidos. Só do Funcafé, R$ 453 milhões.

Riscos nos no fluxo de caixa

Mas, diante do cenário da crise, manteve, no 4T20, maior critério de seletividade nos créditos, além de ações de “prevenção de fraudes externas”. Mesmo assim, o balanço mostra evolução de 27%, para R$ 161,8 milhões, na rubrica de “provisões para perdas esperadas ao risco de crédito” no ativo circulante – para o exercício fiscal atual. Porém, na demonstração do fluxo de caixa das atividades operacionais, a provisão é bem superior: R$ 205,4 milhões. Ficou 99% acima do exercício fiscal anterior.

De qualquer forma, o banco apresentou liquidez, em 31 de dezembro, inspirando tranquilidade formal à diretoria: R$ 1,811 bilhão de passivo circulante para R$ 3,464 bilhões no ativo circulante. Isto é, R$ 1,92 de receita para cada R$ 1,00 de compromisso.

BDMG Digital

Pela plataforma on line, o banco estatal liberou R$ 889 milhões. Do montante, as MPEs contrataram 96%. A modalidade atendeu 12.830 tomadores de créditos – 182% a mais que em 2019.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Antonio

É óbvio que a lucratividade do banco diminuiu pois fez mais empréstimos por conta do corona com juros menores. Eu posso comprovar isso pq sou comerciante no interior e consegui giro do BDMG pra me manter. Então se empresta mais pra qum precisa com juro menor é obvio que o lucro ia cair. Estranho seria se o banco emprestasse menos, com juro alto e crescesse o lucro numa época de pandemia